A Cobra de Pugachev

O piloto russo Viktor Pugachev provou que é possível voar de ‘marcha ré’ com um avião
Acredite, esse avião está voando para frente... (divulgação)
Acredite, esse avião está voando para frente… (divulgação)

Acredite, esse avião está voando para frente... (divulgação)

Acredite, esse avião está voando para frente… (divulgação)

Na década de 1980, nos “últimos capítulos” da Guerra Fria, a União Soviética reforçou sua força aérea com o então novíssimo Sukhoi Su-27, um caça com performances até então nunca vistas. O aparelho foi introduzido em 1985 e mundo viria a conhecê-lo somente em 1989. Quem presenciou esse momento ficou pasmo.

O Su-27 apareceu diante das lentes da imprensa mundial no festival de aviação de Le Bourget, em Paris, atraindo não só entusistas, mas também analistas militares do mundo inteiro. Até então a aeronave era conhecida apenas por imagens de satélite e relatórios de espionagem.

A apresentação do caça foi realizada pelo piloto de testes Viktor Pugachev, um dos maiores avioadores soviéticos e da história. Como de costume, aviões de combate realizam diversas acrobacias e passam de ponta cabeça pela pista em shows aéres. Mas Pugachev tinha um truque especial a que poderia ser feito somente com a nova aeronave da Sukhoi.

Após uma série de loopings, sobrevoos em alta velocidade e rasantes, Pugachev se preparou para mais uma passagem. O caça se aproximou da cabeceira da pista, voando a cerca de 200 metros de altura, e subitamente o nariz subiu, foi para trás e o avião passou a voar com a parte traseira para frente por um breve momento e depois retornou a posição horizontal com mais um movimento rápido.

No que muitos pensaram ser um movimento mal sucedido e que poderia resultar em um acidente, como ocorrerá no mesmo festival com um caça MiG-29, surtiu uma salva de palmas. Devido a forma como o avião reagiu naquele momento, como se fosse uma serpente atacando, a complexa manobra foi chamada de a “Cobra de Pugachev”.

A Cobra de Pugachev

Função prática

A manobra realizada por Pugachev mostra um potencial enorme de realizar movimentos com forças G extrema, mas em combate a “cobra” não tem função prática, a não ser impressionar. É o que pensam analistas norte-americanos, baseados no cenário de guerra moderna, onde os aviões podem se enfrentar sem mesmo obter contato visual.

A força aérea da Rússia, por outro lado, ainda crê no combate aéreo próximo, o que os americanos chamam de “dogfight” (“briga de cachorro”). E nesse caso, uma aeronave altamente manobrável pode fazer toda a diferença. A Cobra de Pugachev, por exemplo, permite realizar ataques em ângulos extremos ou então escapar dos tiros de canhão do avião inimigo para logo em seguida se posicionar atrás dele e contra-atacar.

Mas a acrobacia criada por Pugachev tem um ponto fraco: só pode ser realizada com o avião desarmado e com no máximo 50% de combustível nos tanques.

O segredo de Viktor

Não é qualquer avião que pode realizar a manobra de Pugachev, assim como nem todo piloto consegue fazê-la. É preciso entender com muita clareza todos os comandos e reações do avião, além de realizar cada um dos movimentos no momento certo, caso contrário a aeronave poderá sofrer danos estruturais e o piloto no comando pode desmaiar e também sofrer contusões. Ou seja, é necessário um super avião conduzido por um super piloto.

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A manobra começa com o avião voando em linha reta, em velocidade média, entre 400 km/h e 500 km/h. Em um movimento combinado, o piloto corta a aceleração do motor e puxa o manete no máximo, levantando bruscamente o nariz do avião até levá-lo ao ângulo de até 120°, quando a traseira passa a frente. No momento em que a “serpente” levanta a cabeça o motor volta a ser acionado com força total e o manete é baixado rapidamente e a aeronave volta a posição original. Toda ação da Cobra de Pugachev leva cerca de três segundos.

Para realizar uma manobra tão brusca como essa é necessário pelo menos uma aeronave com motores extremamentes potentes e controles fly-by-wire, que automatizam diversas funções.

Cobra sueca

A Cobra de Pugachev não é totalmente original. Muito antes do jato soviético realizar a ousada manobra, outra “serpente aérea” já era capaz de fazê-la, embora de uma forma não tão impressionante. A “Cobra Sueca” foi uma manobra inventada por pilotos da Força Aérea da Suécia com o antigo caça SAAB 35 Draken, na década de 1970.

O Draken entrou em operação na Suécia em 1960; foram fabricadas 651 unidades (Força Aérea da Suécia)
O Draken foi o primeiro avião a realizar a manobra “Cobra” (Divulgação)

A Cobra Sueca segue os mesmo procedimentos da Cobra de Pugachev, mas atinge somente o ângulo de 90°. Além disso, o Draken realizava esse movimento somente em altas altitudes, para ter tempo de fazer alguma correção caso algo saísse errado. Por conta disso, a manobra criada pelos suecos também é chamada apenas de “Cobra” e de Pugachev ficou conhecida como “Super Cobra”.

Atualmente, Pugachev trabalha na Sukhoi
Atualmente, Pugachev trabalha na Sukhoi

Atualmente pouquíssimos aviões podem repetir a Super Cobra, a maioria fabricado na Rússia. Além do Su-27, a manobra também pode ser realizada pelos Su-30, Su-33, Su-35, Su-37, MiG-29 e o caça de nova geração PAK-FA. Do outro lado do mundo, a única aeronave capaz de repetir a acrobacia criada por Pugachev é o caça Lockheed Martin F-22 Raptor.

Viktor Pugachev, que até hoje detém 13 recordes mundiais na aviação, atualmente é o chefe do programa de testes da Sukhoi. E mais cobras devem sair desse ninho.

Veja mais: A era dos caças supormanobráveis 

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  1. os americanos tambem achavam no Vietnam não haveria combates próximos estavam tão confiantes que nem colocaram canhões para atirar no f-4 era só disparar o misseis e abater os vietnamitas só esqueceram de combinar com eles para ficarem parados, no primeiro ano de guerra perderam mais aviões a jato que o Vietnam

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