Antonov desmente notícia de que teria desistido de fábrica no Brasil devido às falas de Lula

Em nota oficial, Antonov indicou que não possui representantes no Brasil e que segue interessada em investir no país
O Antonov AN-225 é o maior avião do mundo, com 84 metros de comprimento (Thiago Vinholes)
O sonho em Campinas: passagem do An-225 no aeroporto de Viracopos, em 2016 (Thiago Vinholes)

Notícia que está causando um estardalhaço na imprensa brasileira e nas redes sociais, a desistência da Antonov em erguer uma fábrica de aviões no Estado de São Paulo, em função das declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra da Ucrânia, não é verdade.

Em nota divulgada hoje, a empresa ucraniana diz que meios de comunicação brasileiros publicaram “informações incorretas” sobre a alegada suspensão das negociações da companhia “sobre o suposto início da produção de aeronaves no Brasil”. A Antonov também indicou que não tem um representante autorizado no Brasil e não concedeu permissão a nenhuma pessoa ou empresa, incluindo escritórios de advocacia.

A notícia de que a Antonov teria desistido de investir no Brasil por conta das falas de Lula foi publicada primeiramente pela CNN Brasil. Outro meio de comunicação que também publicou uma apuração semelhante foi o Metrópoles. “A reportagem na imprensa brasileira não é o posicionamento oficial da empresa Antonov”, diz a nota da fabricante de aviões gigantes. A principal fonte das duas publicações em seus reportes foi o governo do Estado de São Paulo.

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Na continuação do comunicado, a Antonov ainda fez um apelo para que a imprensa brasileira passe a “verificar cuidadosamente as informações relacionadas com as atividades da empresa” no intuito de “evitar a manipulação e a deterioração da parceria internacional (entre Brasil e Ucrânia)”.

O programa AN-1X8 NEXT prevê atualizações para os jatos regionais da Antonov, como o AN-148 (Alex Beltyukov)
O Antonov An-148/An-158 é o jato comercial mais recente da Antonov, que não produz o modelo desde 2016 (Alex Beltyukov)

A empresa ainda destacou que “está amplamente interessada em desenvolver a cooperação com a República Federativa do Brasil no campo da tecnologia de aviação, e vai acolher as iniciativas oficiais do lado brasileiro para melhorar a cooperação mutuamente benéfica”. Ou seja, para reforçar, a Antonov não desistiu de investir no Brasil, conforme foi noticiado.

Opinião: plano surreal com um investimento impossível

A notícia sobre a Antonov querer se instalar no Brasil continha alguns pontos, no mínimo, absurdos. Foi publicado que a empresa ucraniana pretendia investir US$ 50 bilhões (sim, de dólares) para erguer um complexo industrial no Estado de São Paulo para produzir aviões comerciais – algo que a Antonov não faz desde 2016 justamente por não ter fontes de investimento e financiamento para reformular suas linhas de produção e seus produtos, que são ultrapassados.

Acontece que a quantia de US$ 50 bilhões (ou R$ 252.2 bilhões) é algo surreal. Essa montanha de dinheiro representa quase ¼ do PIB da Ucrânia – ou então duas vezes o orçamento anual da NASA, se preferir outra comparação. Se fosse verdade, seria um dos maiores investimento da história da indústria aeroespacial. Acontece que a Antonov, ou qualquer outra fabricante de aviões no planeta, não tem a carteira tão recheada assim ou a disposição e coragem para gastar dessa forma, ainda mais num país onde a incerteza faz parte da rotina.

Por que os meios de comunicação que abordaram esse tema e tinham acesso a fontes proeminentes não questionaram em momento algum de onde viria ou quem emprestaria tanto dinheiro para a Antonov investir no Brasil? Ou então, como a empresa ucraniana faria um investimento desse ponte no país que tem umas das taxas de juros mais altas do mundo? São muitas peças que não se encaixam. Pelo contrário, elas se repelem completamente. Nada disso faz sentido.

De toda forma, o estrago já está feito e a avalanche de bobagens sobre o assunto deve perdurar por mais algum tempo. Políticos oportunistas da oposição usaram a notícia falsa para criticar e culpar o governo atual sobre a desistência da Antonov em investir no Brasil e gerar comoção lamentando a oportunidade perdida de criar milhares de novos postos de trabalho no país. Funcionou perfeitamente, mas era mentira.

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