Brincadeira na internet faz Força Aérea dos EUA temer invasão em base secreta

Ação no Facebook reunia mais de 1,5 milhão de interessados em acessar a “Área 51”, base militar cuja existência era negada pelo Pentágono até pouco tempo atrás
O lago seco de Groom (em branco) e a Área 51 ao seu lado: governo só reconheceu sua existência há poucos anos (Doc Searls)
Entre os vales, o Homey Airport, mais conhecido como “Área 51” (Geckow)

O título do evento publicado no Facebook exibe um tom desafiador: “Eles não podem parar todos nós”. Por “nós”, entenda-se uma multidão de 1,6 milhão de pessoas e contando. Mas afinal o que atraiu tantos interessados a comparecer no dia 20 de setembro, uma sexta-feira, às 3 horas da madrugada em meio ao deserto de Nevada? A resposta diz tudo: “Área 51”.

A base aérea “secreta” mais conhecida do mundo (sim, porque se fosse secreta de fato não poderia ser conhecida) foi alvo de uma brincadeira na internet que começou há algumas semanas e que tomou proporções inimagináveis. A ideia partiu do perfil “Shitposting cause im in shambles” (algo como “Postagens de m… me causam confusão” em uma tradução livre).

Os criadores da página na rede social pretendem invadir a “Área 51” e enfim descobrir o que o governo dos Estados Unidos esconde nela há mais de 60 anos. O argumento é que seria impossível deter tanta gente ao mesmo tempo. “Podemos nos mover mais rápido que suas balas. Vamos ver os alienígenas”, diz uma das frases na página.

Para quem até hoje nunca ouviu falar do local, aqui vai um resumo:

Oficialmente chamada de Homey Airport, a base aérea foi construída a partir de 1955 para servir de área de testes para o avião-espião U2. A aeronave, desenvolvida pela Lockheed, precisava de uma região onde pudesse voar sem chamar a atenção e o Groom Lake, um imenso lago de sal no deserto de Nevada pareceu o lugar ideal por ser quase inóspito. Com o tempo, as instalações cresceram e mais atividades secretas da Força Aérea dos EUA e da CIA foram realizadas na base sem que quase ninguém soubesse da sua existência.

Aeronaves como o SR-71 Blackbird e seus derivados foram desenvolvidos ali, longe dos olhares curiosos que não poderiam ser afastados em outras bases importantes como Edwards ou a “Planta 42”, em Palmdale, onde boa parte desses aviões misteriosos foi construída.

Groom Lake também serviu como local ideal para que os norte-americanos pudessem avaliar aviões militares soviéticos capturados como os MiG-17, MiG-21 e MiG-29. Mais tarde, a base “hospedou” outra celebridade, o F-117, primeiro avião stealth operacional, além de outros protótipos “invisíveis” como o Tacit Blue e o Have Blue.

Os primeiros U-2 na Área 51: espaço para testes sem curiosos (CIA)

Até então, a base não era um fenômeno na mídia, apenas uma região de cerca 1.500 km quadrados onde não era permitido voar ou entrar. Mas em 1988, um satélite soviético revelou a existência das instalações e no ano seguinte começaram a surgir histórias estranhas sobre ela. Dizendo-se ser um ex-empregado da base, o americano Robert Lazar passou a contar histórias sobre engenharia reversa de discos voadores, entre outras afirmações que foram um prato cheio para fãs de teorias conspiratórias.

No mesmo ano de 1989, outros funcionários da instalação morreram após serem contaminados por substâncias químicas perigosas, segundo suas viúvas, que processaram o governo em 1994. Nos anos 90, a “Área 51” passou a ser um ponto cada vez mais visitado por curiosos, mesmo com a truculência da segurança da base, feita pelos “camo dudes”, sujeitos em trajes militares a bordo de picapes que impedem qualquer aproximação. Por isso, além de imagens de satélite, apenas alguns curiosos conseguiram fotografar a base no alto de montanhas usando potentes lentes, mas que revelaram pouca coisa.

Apesar de famosa, inclusive em filmes e séries, a “Área 51” permaneceu sendo negada pelo Pentágono até 2013 quando finalmente houve o reconhecimento de sua existência. Aliás, o termo nunca foi explicado exatamente, mas a teoria mais ouvida é de que o nome fazia parte de um documento da Comissão de Energia Atômica dos EUA, que possuía instalações na região. Depois disso, até a CIA adotou o nome Área 51 e divulgou fatos históricos sobre a base, mas nada comprometedor, é claro.

Nessas décadas, a base cresceu, ganhou mais prédios e atividades e é visitada diariamente pelos jatos Boeing 737-600 e por turbo-hélices que partem geralmente do aeroporto de Las Vegas (a 140 km de distância em linha reta). Chamada informalmente de “Janet Airlines”, a ponte aérea transporta os funcionários para Groom Lake em aeronaves sem matrículas ou qualquer marca de identificação.

Secreta, mas nem tanto: um Lockheed A-12 é levado da fábrica para a Área 51 em 1962 (CIA)

Em busca de aliens

Cercada por tantos mistérios, a Área 51 não poderia evitar ter se transformado em uma obsessão para milhões de pessoas no mundo inteiro. São incontáveis as teorias conspiratórias que envolvem o local e que garantem que os EUA escondem lá artefatos de outros planetas bem como seus ocupantes, extraterrestres que seriam mantidos vivos e por aí vai. Com tanta publicidade, certamente a base já não seria o local mais adequado para lidar com esse assunto caso seja verdade – nós é que não vamos botar a nossa mão no fogo…

É pouco provável, no entanto, que centenas de milhares de pessoas realmente resolvam aparecer nos limites da Área 51 daqui a dois meses e em plena madrugada na esperança de vencer o bloqueio militar (e que conta com atiradores de elite, helicópteros, sensores e sabe-se lá mais o que).

Aviso nas imediações da Área 51 desencoraja invasores: será que o evento terá quórum no dia 20 de setembro? (Tim 1337)

Fato é que a história ganhou proporções tão gigantescas que obrigaram o Pentágono a se pronunciar a respeito. “É um campo de treinamento aberto para a Força Aérea dos EUA, e nós desencorajamos qualquer um de tentar entrar na área onde treinamos as forças armadas americanas. A Força Aérea dos EUA sempre está pronta para proteger os EUA e seus ativos”, alertou Laura McAndrews, porta-voz da USAF ao jornal The Washington Post sem, é claro, se referir ao local pelo seu nome.

Piada ou não, há de se temer que em meio a tanta gente que apenas se diverte com o assunto existam mesmo os que estão dispostos a seguir à risca o convite dos criadores do evento. Se a maior parte das teorias é ficção pura ao menos a página no Facebook já está faturando algum dinheiro vendendo camisetas com os dizeres “Eu sobrevivi à Área 51”.

Piada ou não, criadores do evento insólito já estão vendendo camisetas “Eu sobrevivi à Área 51” (Reprodução)

Veja também: As bases militares mais secretas do mundo

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