Com avanço da Boom, surge projeto de lei nos Estados Unidos a favor de voos supersônicos civis
Lei de Modernização da Aviação Supersônica alega “corrida com a China”, mas o interesse de fato é por empregos

Recentemente, a Boom Supersonic realizou o primeiro voo supersônico sem a produção de estrondo sônico audível com o demonstrador XB-1, ocorrido em fevereiro.
Todavia, a empresa ainda é proibida de voar em velocidade supersônica sobre o território norte-americano, mas um projeto de lei quer autorizar isso por lá, conforme relatado pelo site Jalopnik.
De autoria do senador Ted Budd, da Carolina no Norte, a chamada Lei de Modernização da Aviação Supersônica (Supersonic Aviation Modernization Act ou SAM) permite voos supersônicos sem estrondo audível sobre os Estados Unidos.

Como justificativa, Budd alega uma suposta “corrida contra a China” em voos supersônicos civis para acelerar a permissão de voos desse tipo para acelerar o desenvolvimento da tecnologia de modo que o país lidere a “próxima era da aviação”.
No entanto, a China não tem uma indústria aeronáutica comercial focada no voo supersônico civil, apesar do estudo do Comac C949, diferente da proposta da Boom Supersonic com seu pretendido jato Overture.

A questão aqui não é uma corrida tecnológica, mas a geração de empregos, uma vez que a Boom anunciou que sua mega fábrica para produção do Overture será em Greensboro, Carolina do Norte.
Lá, a empresa promete gerar 1.750 empregos e Budd, da região, quer garantir que isso ocorrerá, mesmo que a distância entre o XB-1 e o Overture ainda seja grande.

Como se sabe, o XB-1 tem um terço do tamanho do Overture e o efeito do corte de Mach, um fenômeno físico onde as ondas sonoras são refratadas na atmosfera, torna o estrondo sônico inaudível no solo, quando em altas altitudes.
Ainda assim, não se sabe se realmente esse fenômeno ocorrerá de fato no Overture, quando o mesmo estiver em condições de voo reais.
A proposta de Budd fala em garantir viagens aéreas mais rápidas nos Estados Unidos, mas ainda parece cedo para permitir que voos supersônicos civis, sem autorização prévia, ocorram por lá.

O estrondo sônico
O efeito de um estrondo sônico, provocado pela quebra da barreira do som, é perturbador e pode danificar, em especial, janelas, caso em voos a baixa altitude.
Exemplos disso já ocorreram no Brasil, como no sobrevoo do Supremo Tribunal Federal em Brasília, em julho de 2012, ou sobre o Rio de Janeiro, em junho de 1982, provocados por jatos Dassault Mirage 2000 e Northrop F-5, respectivamente.
O Concorde, durante toda sua carreira comercial, nunca fez voos supersônicos sobre o continente, realizando rotas sobre o oceano, como de Paris ou Londres até Nova Iorque, ou de Paris até o Rio de Janeiro.

Nos Estados Unidos, a Boom tem enorme interesse nisso, já que possui encomendas para 35 aeronaves feitas pela American Airlines e United Airlines, tendo ainda opção para mais 75 aviões.
Se o Overture conseguir voar supersônico sem um estrondo audível no solo, a lei de Budd terá sido mais que válida. O projeto ainda deverá passar por várias comissões até ser votado e, eventualmente, aprovado.
Caso aprovado, a FAA (Federal Aviation Administration) terá 12 meses para revisar as regulamentações federais de modo a permitir voos supersônicos sem autorização especial.