Como o 747 poderia ter sido se a Boeing tivesse optado por outros projetos?

Antes que o projetista-chefe Joe Sutter batesse o martelo em favor do clássico layout de corcunda, fabricante considerou até uma aeronave de deque duplo
O protótipo do Boeing 747 em 1969 (Boeing)

A Boeing está encerrando a produção do 747 após 53 anos com a entrega da aeronave final para a Atlas Air, uma variante cargueira 747-8F.

Apesar disso, o icônico e inconfundível visual da aeronave de fuselagem larga continuará sendo visto em muitos aeroportos do mundo.

Mas poderia ter sido diferente. A Boeing chegou a estudar dezenas de outras configurações capazes de carregar centenas de passageiros, como era desejo das companhias aéreas da época.

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No entanto, nenhuma delas pareceu compartilhar o mínimo de beleza e funcionalidade do projeto escolhido por Joe Sutter, o projetista-chefe que liderou o desenvolvimento do 747 com a famosa “corcunda” que tantou o marcou.

Maquetes que mostram algumas das configurações estudadas pela fabricante (Boeing)

Na verdade, entre a ideia de lançar uma aeronave capaz de transportar cerca de 400 passageiros e o projeto CX-HLS em 1965 (com a qual a Boeing concorreu com a Lockheed e McDonnell Douglas por um pedido da Força Aérea dos EUA) muita coisa mudou.

Inicialmente, a fabricante pretendia ter uma variante civil do imenso cargueiro militar de asas altas, mas logo o projeto se mostrou inviável.

O 747 de dois andares e fuselagem compacta (Boeing)

Embora algumas ideias tenham permanecido, como a instalação de uma porta de carga dianteira e o uso dos então novos motores de alta razão de derivação, a Boeing tentou encontrar o melhor compromisso entre alta capacidade de passageiros e e funcionalidades importantes como possibilitar uma evacuação eficiente em caso de emergência.

Fuselagem de dois andares

Bem antes que a Airbus decidisse lançar o A380 e sua fuselagem de dois andares, a Boeing estudou a configuração em vários conceitos com dimensões mais compactas.

Uma alternativa mais longa e com asa colocada à meia altura (Boeing)

Dois deles colocavam a cabine de comando no andar superior, com uma fuselagem mais curta e asas baixas. Já uma outra variação possuía estabilizadores mais enflechados e asas posicionadas à meia altura.

A largura da cabine poderia ter entre seis e oito assentos por fileira, mas em comum eles se mostraram incapazes de oferecer uma evacuação segura.

Em vez de dois pisos, apenas uma cabine e o cockpit colocado num nível abaixo (Boeing)

Um quarto layout dispensava um segundo deque, mas posicionava a cabine de comando abaixo do piso da cabine principal, um desenho que lembra vagamente o Airbus Beluga.

O quinto conceito se aproximava do projeto escolhido, com uma corcova alternativa, mais estreita, destinada apenas à cabine de comando.

Todos esses projetos tinham em comum asas com motores instalados em suportes mais próximos uns dos outros.

Um layout muito próximo do final, com a corcunda mais estreita (Boeing)

Avião de passageiro e carga

Sutter, no entanto, acreditava que o 747 deveria ser um avião tão bom para passageiros como para cargas. Vindo do projeto do 737, então uma aposta da Boeing para competir com aviões a hélice, o engenheiro-chefe de 44 anos viu com ceticismo os projetos de dois andares, então preferidos pelos potenciais clientes como a Pan Am (que acabou sendo a clienta lançadora do jato).

Em vez disso, sua equipe desenhou uma fuselagem larga o bastante para acomodar até 10 assentos por fileira em um deque único.

Uma maquete em tamanho real da cabine de passageiros, com mais de 6,5 metros de largura (Boeing)

O mercado de carga aérea então contribuiu para o surgimento da sua mais conhecida característica, a corcunda. Em vez de uma larga porta lateral de carga, a Boeing optou por uma entrada frontal, deslocando a cabine de comando para cima.

Por razões aerodinâmicas, uma carenagem foi adicionada após o deque de voo, dando ao 747 sua famosa corcova“, escreveu Sutter no livro “747”.

O projeto acabou tornando o trabalho mais simples já que a configuração foi considerada mais gerenciável. O passo seguinte e talvez mais difícil foi convencer Juan Trippe, o todo-poderoso presidente da Pan Am, que o avião gigante que ele desejava não teria mais dois andares.

Joe Sutter, o “pai” do 747, faleceu em 2016 (Boeing)

Segundo Sutter, a solução para impressionar Trippe foi mostrar a ele que a cabine do 747 teria o mesmo tamanho da sala de reunião onde foi feita a apresentação, com cerca de 6,5 metros de largura, mais do que o dobro dos jatos 707 e DC-8, então os mais capazes da época.

Boquiaberto, Trippe concordou com o 747 como o conhecemos até hoje. Felizmente, para a satisfação de milhões de fãs da aeronave dali em diante.

A extinta Pan Am, fundada pelo visionário Juan Trippe, foi o primeiro operador do 747 (Aldo Bidini/Creative Commons)
A Pan Am estreou o 747 em um voo comercial em janeiro de 1970 (Aldo Bidini/Creative Commons)

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  1. Uma pena não haver um futuro para o 747 como avião de passageiros. Mereceria ter uma versão com motores GE90 (2) e outros dois geradores que aproveitassem o ar em alta velocidade para gerar energia elétrica para carregar baterias…

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