Embraer deve arcar com R$ 2 bilhões em tarifas dos EUA apenas em 2025

Impacto até 2030 pode chegar a cerca de R$ 20 bilhões caso governo Trump confirme tarifa adicional de 50% em bens importados do Brasil

Jato Praetor da Embraer
Jato Praetor da Embraer (Embraer)

Normalmente reservada em assuntos políticos, a Embraer veio a público para revelar a gravidade que as tarifas adicionais de 50% sobre bens produzidos no Brasil anunciada pelo governo Trump pode ter sobre suas aeronaves.

Em entrevista coletiva nesta terça-feira, 15, o CEO da empresa, Francisco Gomes Neto, traçou um cenário assustador, com um impacto brutal em seus negócios nos EUA.

Segundo ele, caso a nova tarifa entre em vigor em 1º de agosto, a Embraer deve liderar com um custo extra de R$ 2 bilhões apenas nos meses restantes de 2025.

Até 2030, a fabricante de aeronaves estima ver seus negócios impactados em R$ 20 bilhões em custos trazidos pelas tarifas. Sem especificar qual modelo, Gomes Neto projetou um custo adicional de R$ 50 milhões ao preço dos aviões da empresa.

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“É um custo altíssimo. Dificilmente uma companhia vai aceitar pagar uma tarifa desse montante”, disse o CEO.

Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer (GF)

Clientes podem cancelar ou postergar entregas

Os desdobramentos da nova política comercial do governo Trump podem ser mais extensos do que as tarifas em si. Aviões como o E175 são quase que exclusivamente vendidos nos EUA, devido à cláusula de escopo, ao qual o modelo foi talhado.

Sem os pedidos das grandes companhias aéreas do país, a linha de E-Jets possivelmente seria desativada já que há pouca demanda fora dos EUA.

A linha de jatos executivos têm na América do Norte 70% de seu mercado e é inclusive montada parcialmente na Flórida, nos EUA, o que faz a Embraer admitir levar a produção para lá, hipótese que é descartada no caso do E175.

Diante do quadro, a Embraer pode ver seus clientes postergarem ou até cancelerem acordos já que em tese eles deverão arcar com as tarifas de importação.

Jato E175 da American Airlines (Embraer)

Demissões como na época da Covid

Outro complicador é que o governo brasileiro instituiu a Lei de Reciprocidade Econômica, que prevê a cobrança de tarifas equivalente a produtos importados de países que iniciam guerras comerciais.

Ocorre que os aviões da Embraer têm fornecedores em várias partes do mundo, sobretudo nos EUA, de onde vem itens sensíveis como os motores.

Gomes Neto espera que os dois países negociem para encontrar um lugar comum que não abale o comércio entre ambos. “Tivemos várias reuniões com autoridades de alto nível nos Estados Unidos para mostrar a eles a contribuição da Embraer para o país”, disse.

Caso contrário, a Embraer poderá ter que recorrer a grandes demissões, uma situação só vista durante a pandemia do Covid, a qual o CEO da empresa comparou o atual momento.