Inferno astral da Boeing continua com baixas entregas e pedidos cancelados

No terceiro trimestre, fabricante entregou apenas 63 jatos comerciais contra 190 no mesmo período de 2018
737 MAX estacionados na Boeing: crise da fabricante não tem fim (SounderBruce)
737 MAX estacionados na Boeing: crise da fabricante não tem fim (SounderBruce)

Nada é tão ruim que não possa piorar. O lema poderia ser exibido na sede da Boeing em Chicago diante dos números cada vez piores que a fabricante tem divulgado nos últimos meses. As entregas do terceiro trimestre, por exemplo, foram um completo desastre: apenas 63 jatos enviados aos clientes, ante nada menos que 190 aeronaves no mesmo período de 2018.

Obviamente, o “culpado” por esse resultado pífio é conhecido, o 737. Jato comercial mais popular da história, o modelo passa por sua maior crise desde março quando as agências de aviação civil no mundo aterraram a versão MAX após dois acidentes fatais.

Sem poder enviar o 737 MAX para seus clientes, que lota pátios e até estacionamentos na fábrica no estado de Washington, a Boeing entregou apenas 5 unidades do jato de um corredor, da versão anterior – em 2018 foram 138 aviões.

O jato mais numeroso em volume no terceiro trimestre foi o 787, com 35 unidades, seguido do 777 com 12 aviões e o antigo 767, com 10 exemplares – houve ainda um 747 entregue.

Adeus, Aeroflot

Mas até o 787 tem passado por provações. O jato, que teve a produção mensal ampliada de 12 para 14 aviões por mês, acaba de perder uma encomenda significativa da Aeroflot. A companhia aérea russa havia pedido 22 aeronaves do modelo, mas desistiu do negócio, avaliado em US$ 5,5 bilhões (mais de R$ 22 bilhões).

O cancelamento fez surgir uma enorme lacuna na produção em 2022 que parece difícil de ser preenchida, obrigando há uma parada na linha de montagem caso não surjam novos compradores.

A Aeroflot decidiu cancelar uma encomenda de 22 Boeing 787, mas receberá seu primeiro A350 em 2020 (Airbus)

A falta de clientes para o modelo, a despeito da confirmação de uma encomenda da Air New Zealand por 10 787-10, pode ter a ver justamente com a chegada ao mercado de aviões narrowbodies com alcance transoceânico como o A321neo XLR.

Com menores custos de operação, esses aviões, embora menos confortáveis, têm se encaixado nos planos de algumas companhias aéreas e minado a demanda por widebodies, mais caros.

Na outra ponta, há a guerra comercial entre EUA e China, que tem um potencial destrutivo ainda maior devido ao potencial de vendas do mercado de aviação chinês. Com as retaliações comerciais do presidente americano Donald Trump, o cenário para a Boeing é ainda pior.

Luz no horizonte

Diante de tantos infortúnios, a Boeing tem buscado focar em resolver seus problemas. Os testes com a correção do sistema MCAS têm avançado, o que motivou a fabricante a crer que o 737 MAX será liberado para voar até o final de 2019. Mas as autoridades de aviação europeias continuam céticas sobre a resolução apresentada pela empresa.

Maior projeto de widebody atualmente, o programa do 777X corre contra o tempo para solucionar os problemas com o motor GE9X. Assim que isso for resolvido, os voos de testes poderão ocorrer no ano que vem, finalmente.

A Boeing segue estudando o NMA, uma nova família de jatos comerciais de média capacidade e que pode ser uma resposta adequada à demanda do mercado na próxima década. Até lá, no entanto, será preciso energia extra para atravessar essa tempestade que parece não ter fim.

O 777-9, nova versão do widebody: à espera do primeiro voo (Boeing)
O 777-9, nova versão do widebody: à espera do primeiro voo (Boeing)

Veja também: Parceria entre Boeing e Embraer preocupa União Europeia

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