Jato chinês C919 pode sofrer com guerra comercial entre EUA e China

Aeronave rival do Boeing 737 MAX e do Airbus A320 tem maior parte dos componentes fabricada nos Estados Unidos e Europa

O jato C919: projeto chinês mas conteúdo ocidental
O jato C919: projeto chinês mas conteúdo ocidental (COMAC)

A guerra comercial entre EUA e China atingiu em cheio a Boeing, cujas aeronaves tiveram as entregas a companhias aéreas chinesas suspensas em virtude das elevadas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.

Jatos 737 MAX que haviam voado para o país em março, retornaram a Seattle no mês passado, a mando do governo de Xi Jinping.

Embora a fabricante dos EUA tenha um bom volume de aeronaves pendentes de entrega para clientes chineses, o CEO da Boeing, Kelly Ortberg, minimizou o impacto até aqui da disputa comercial.

Graças a demanda mundial aquecida, há fila de compradores para seus jatos, sobretudo o 737 MAX. Ao menos duas companhias aéreas, Malaysia Airlines e a Air India, manifestaram interesse em assumir aviões rejeitados pelos chineses.

Presidentes Donald Trump e Xi Jinping (Casa Branca)

Mas se a Boeing parece tranquila, a fabricante estatal chinesa COMAC pode estar perto de uma enrascada.

Em plena expansão da produção de seus jatos comerciais, a empresa tem uma grande carteira de pedidos e uma fábrica que ainda está longo do ritmo ideal.

Para 2025 quer concluir a fabricação de 50 jatos C919, o mais avançado e capaz avião comercial chinês e que é similar em porte ao 737 e ao Airbus A320.

Mas, a despeito de ter sido desenvolvido localmente, o C919 é a uma aeronave essencialmente global. E pior do que isso, dependente de muitos componentes dos EUA.

Não é por menos que analistas ouvidos pelo Financial Times tenham demonstrado preocupação de que a COMAC pode ser bastante prejudicada pelas relações entre Trump e Xi Jinping.

Os primeiros C919 da Air China e China Southern Airlines (COMAC)

Embora atualmente a demanda por componentes seja modesta se comparada ao ritmo de produção de Boeing e Airbus, o C919 precisará de muitos motores Leap-1C, que são fabricados pela CFM International, um joint venture entre a Safran, da França, e  GE Aerospace, dos EUA.

O turbofan tem passado por atrasos na produção que afetam os três jatos de corredor único do mercado. A montagem do turbofan é feita na França, porém, o módulo central vem de Ohio.

Caminho já percorrido pelos russos

Uma piora nas relações pode colocar a COMAC no mesmo doloroso caminho da United Aircraft Corporation (UAC), estatal aeroespacial russa.

A empresa tinha outra aeronave da mesma categoria em desenvolvimento avançado, o MC-21, originalmente da Irktut e hoje associado à Yakovlev.

O jato de 211 assentos era equipado com motores Pratt & Whitney GTF, mas desde o início das primerias sanções, a Rússia passou a trabalhar no turbofan PD-14 para substituí-lo.

O MC-21 já foi impulsionado por motores Pratt & Whitney PW1400G, semelhante ao utilizado no Airbus A320neo (Divulgação)

Além disso, o processo de ‘russificação’ da aeronave incluiu aviônicos, equipamentos e as asas em material composto. A despeito do maior conhecimento em produção aeronáutica, a conversão do MC-21 para uma receita somente russa tem levado muito tempo.

Motor chinês ainda em testes

A China, a despeito da capacidade industrial incomparável, carece justamente desses equipamentos e sistemas mais avançados.

Há um motor local, o CJ-1000A, em desenvolvimento há anos, mas que até hoje só foi vista em testes de voo em outras aeronaves.

A COMAC também depende de empresas como Honeywell, Collin Aerospace, Crane e Parker Aerospace para receber outras peças e dispositivos.

Prioridade da indústria chinesa: o motor CJ-1000A é projetado para equipar o jato comercial C919 da Comac (Divulgação)

Se Trump proibir o fornecimento, o C919 pode na melhor das hipóteses ter a produção suspensa por vários anos até que pudesse ter seu conteúdo substituído por similares chineses.

Enquanto isso, as grandes transportadoras do país como Air China, China Southern Airlines e China Eastern Airlines estariam em uma situação delicada, sem poder receber mais Boeings e na enorme fila de espera pelos Airbus.

Resta saber agora afinal quem tem mais cartas na manga para jogar esse jogo.

 

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