Nem Boeing, nem Airbus: três aviões que vão mudar a aviação comercial

Projetos da Boom Supersonic, JetZero e Radia prometem entregar o que as tradicionais planemakers não têm conseguido, como velocidade, economia e capacidade de carga

O supersônico Overture (acima), o econômico Z4 (no centro) e o mastodonte WindRunner
O supersônico Overture (acima), o econômico Z4 (no centro) e o mastodonte WindRunner (Divulgação)

Houve um tempo em que se você quisesse entender como seria o voo do futuro, bastaria olhar para o que faziam Boeing, McDonnell Douglas ou Airbus.

Mas esse tempo passou, a Douglas virou parte da Boeing e as duas gigantes se veem às voltas como problemas de produção, dúvidas quanto à tecnologia a apostar e uma grande letargia, que tornam a experiência de voo praticamente a mesma de décadas atrás.

Entretanto, algumas iniciativas de startups parecem mostrar o caminho para um novo tempo na aviação comercial. Três delas estão em um estágio bastante promissor, como se noticiou recentemente.

Boom Supersonic, JetZero e Radia propõem resolver alguns dilemas atuais da aviação com criatividade e obstinação. São aeronaves que se propõem a voar mais rápido, ou de forma bem mais eficiente ou, então, transportando cargas enormes, hoje impossíveis de serem levadas pelo ar.

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Veja a seguir o que elas prometem se conseguirem sair do papel:

O Overture deve entrar em serviço em 2029 (Boom)

Voo duas vezes mais veloz que os atuais jatos

A Boom Supersonic é a mais conhecida das startups e que está no estágio mais avançado, tendo voado um avião conceito, o XB-1, para comprovar sua tese que é possível quebrar a barreira do som sem produzir ruído na superfície.

A empresa fundada por Blake Scholl, oriundo das grandes empresas de TI, quer colocar no mercado o Overture, um supersônico capaz de voar a Mach 1.7, ou duas vezes a velocidade dos atuais jatos.

O Overture poderá levar até 80 passageiros em distâncias de 6.840 km, um desempenho que em muitos aspectos não supera o do famoso Concorde.

Mas o jato da Boom pretende fazer isso de forma lucrativa e não tão impactante ao meio ambiente. Sobre a terra, o Overture poderá voar a Mach 1.3, limite para que o estrondo sônico não atinja o solo, seguindo um conceito testado pela empresa.

A empresa concluiu a estrutura de uma fábrica na Carolina do Norte, nos EUA, e decidiu desenvolver o próprio motor para a aeronave, batizado de “Symphony”.

O protótipo XB-1 mais rápido que o som pela primeira vez (Boom)

Trata-se talvez do maior desafio do projeto já que nenhum grande fabricante de motores concordou em investir nesse segmento. A Rolls-Royce, cujo motor equipou o Concorde, chegou a sondar a Boom mas desistiu ainda no começo da empreitada.

Mas a Boom conta com o apoio do presidente Donald Trump que semanas atrás ordenou que a FAA revogasse as regras que proibiam o voo supersônico civil sobre os EUA.

Se conseguir esse feito, o Overture será capaz de cumprir um voo entre Nova York e Roma em 4 horas e 40 minutos em vez das 8 horas atuais.

O jato Z4 com a pintura da United Airlines (United Airlines)

Asas mescladas com fuselagem

A JetZero é outra startup dos EUA, fundada por Tom O’Leary e Mark Page na Califórnia em 2021. Sua proposta? Mudar a aparência de décadas dos jatos comerciais, o famoso cilindro com asas e cauda.

O avião da empresa é o Z4, de configuração “blended wing body”, que utiliza uma fuselagem achatada capaz de gerar a maior parte da sustentação, a despeito de ter pequenas asas.

Talvez a grande sacada da JetZero seja não ‘reinventar a roda’. O Z4 se baseia numa ideia já testada e comprovada, inclusive no Ônibus Espacial da NASA.

Com aerodinâmica refinada, a aeronave comercial poderá levar 250 passageiros consumindo 20% menos combustível. Ou seja, um Boeing 787 ou A330 bem mais econômico.

Local escolhido para linha de montagem fica no estado da Carolina do Norte (JetZero)

Os motores são os mesmos turbofans atuais e por serem instalados na porção superior traseira do Z4 não possuem limitações de diâmetro ou forma.

A forma da cabine permitirá enorme espaço para os passageiros, mas ainda não está claro como a aeronave atenderia aos requisitos de evacuação em emergência e também se adaptaria aos aeroportos.

A JetZero tem recebido apoio da United Airlines e Alaska Air e acaba de anunciar o Aeroporto Piedmont Triad, também na Carolina do Norte, como local da sua futura fábrica.

Além disso, aempresa está construindo, com ajuda da Scaled Composites, um avião demonstrador a pedido da Força Aérea dos EUA, que tem interesse em uma versão de transporte e reabastecimento aéreo.

Cargueiro WindRunner poderá levar uma fuselagem de um Boeing 747 em seu interior (Radia)

Gigante peso leve

A startup Radia surgiu nas manchetes no ano passado com o gigante WindRunner, mas trata-se de um projeto que está sendo gestado há oito anos.

Segundo Mark Lundstrom, seu CEO e fundador, a empresa optou por levar o projeto à frente de forma discreta antes de divulgá-lo.

Por essa razão, o estágio é bastante adiantado, com 60% dos recursos garantidos e 70% do trabalho previsto para ser feito na Europa, a despeito da Radia ter sido criada nos EUA.

Mas o que é o WindRunner? Um gigantesco avião cargueiro que, sob alguns aspectos, será o maior do mundo. Com 108 metros de comprimento, ele foi concebido para transportar cargas volumosas, inicialmente voltado à indústria de energia.

Comparativo do Radia WindRunner com os rivais Antonov AN-124 e Boeing 747-400F (divulgação)

Lundstrom afirmou ter tido a ideia de uma aeronave assim ao ver a dificuldade que fabricantes de geradores eólicos têm para transportar as enormes pás de hélices pelo mundo.

O WindRunner se propõe a transportar essas peças e viabilizar a instalação em terra, cujo mercado é até 20 vezes maior que no mar.

A empresa afirma que pretende fazer um protótipo voar até o final da década e que ele deve ser construído na Itália e finalizado nos EUA.

As dimensões avantajadas já teriam despertado o olhar de governos e militares, diz a Radia.

Vale dizer que o WindRunner terá uma capacidade de carga menor que um Boeing 777F ou Airbus A350F (72,6 toneladas), mas levará itens que os dois nem sonham em transportar.