Nem Boeing, nem Airbus: três aviões que vão mudar a aviação comercial
Projetos da Boom Supersonic, JetZero e Radia prometem entregar o que as tradicionais planemakers não têm conseguido, como velocidade, economia e capacidade de carga

Houve um tempo em que se você quisesse entender como seria o voo do futuro, bastaria olhar para o que faziam Boeing, McDonnell Douglas ou Airbus.
Mas esse tempo passou, a Douglas virou parte da Boeing e as duas gigantes se veem às voltas como problemas de produção, dúvidas quanto à tecnologia a apostar e uma grande letargia, que tornam a experiência de voo praticamente a mesma de décadas atrás.
Entretanto, algumas iniciativas de startups parecem mostrar o caminho para um novo tempo na aviação comercial. Três delas estão em um estágio bastante promissor, como se noticiou recentemente.
Boom Supersonic, JetZero e Radia propõem resolver alguns dilemas atuais da aviação com criatividade e obstinação. São aeronaves que se propõem a voar mais rápido, ou de forma bem mais eficiente ou, então, transportando cargas enormes, hoje impossíveis de serem levadas pelo ar.
Veja a seguir o que elas prometem se conseguirem sair do papel:

Voo duas vezes mais veloz que os atuais jatos
A Boom Supersonic é a mais conhecida das startups e que está no estágio mais avançado, tendo voado um avião conceito, o XB-1, para comprovar sua tese que é possível quebrar a barreira do som sem produzir ruído na superfície.
A empresa fundada por Blake Scholl, oriundo das grandes empresas de TI, quer colocar no mercado o Overture, um supersônico capaz de voar a Mach 1.7, ou duas vezes a velocidade dos atuais jatos.
O Overture poderá levar até 80 passageiros em distâncias de 6.840 km, um desempenho que em muitos aspectos não supera o do famoso Concorde.
Mas o jato da Boom pretende fazer isso de forma lucrativa e não tão impactante ao meio ambiente. Sobre a terra, o Overture poderá voar a Mach 1.3, limite para que o estrondo sônico não atinja o solo, seguindo um conceito testado pela empresa.
A empresa concluiu a estrutura de uma fábrica na Carolina do Norte, nos EUA, e decidiu desenvolver o próprio motor para a aeronave, batizado de “Symphony”.

Trata-se talvez do maior desafio do projeto já que nenhum grande fabricante de motores concordou em investir nesse segmento. A Rolls-Royce, cujo motor equipou o Concorde, chegou a sondar a Boom mas desistiu ainda no começo da empreitada.
Mas a Boom conta com o apoio do presidente Donald Trump que semanas atrás ordenou que a FAA revogasse as regras que proibiam o voo supersônico civil sobre os EUA.
Se conseguir esse feito, o Overture será capaz de cumprir um voo entre Nova York e Roma em 4 horas e 40 minutos em vez das 8 horas atuais.

Asas mescladas com fuselagem
A JetZero é outra startup dos EUA, fundada por Tom O’Leary e Mark Page na Califórnia em 2021. Sua proposta? Mudar a aparência de décadas dos jatos comerciais, o famoso cilindro com asas e cauda.
O avião da empresa é o Z4, de configuração “blended wing body”, que utiliza uma fuselagem achatada capaz de gerar a maior parte da sustentação, a despeito de ter pequenas asas.
Talvez a grande sacada da JetZero seja não ‘reinventar a roda’. O Z4 se baseia numa ideia já testada e comprovada, inclusive no Ônibus Espacial da NASA.
Com aerodinâmica refinada, a aeronave comercial poderá levar 250 passageiros consumindo 20% menos combustível. Ou seja, um Boeing 787 ou A330 bem mais econômico.

Os motores são os mesmos turbofans atuais e por serem instalados na porção superior traseira do Z4 não possuem limitações de diâmetro ou forma.
A forma da cabine permitirá enorme espaço para os passageiros, mas ainda não está claro como a aeronave atenderia aos requisitos de evacuação em emergência e também se adaptaria aos aeroportos.
A JetZero tem recebido apoio da United Airlines e Alaska Air e acaba de anunciar o Aeroporto Piedmont Triad, também na Carolina do Norte, como local da sua futura fábrica.
Além disso, aempresa está construindo, com ajuda da Scaled Composites, um avião demonstrador a pedido da Força Aérea dos EUA, que tem interesse em uma versão de transporte e reabastecimento aéreo.

Gigante peso leve
A startup Radia surgiu nas manchetes no ano passado com o gigante WindRunner, mas trata-se de um projeto que está sendo gestado há oito anos.
Segundo Mark Lundstrom, seu CEO e fundador, a empresa optou por levar o projeto à frente de forma discreta antes de divulgá-lo.
Por essa razão, o estágio é bastante adiantado, com 60% dos recursos garantidos e 70% do trabalho previsto para ser feito na Europa, a despeito da Radia ter sido criada nos EUA.
Mas o que é o WindRunner? Um gigantesco avião cargueiro que, sob alguns aspectos, será o maior do mundo. Com 108 metros de comprimento, ele foi concebido para transportar cargas volumosas, inicialmente voltado à indústria de energia.

Lundstrom afirmou ter tido a ideia de uma aeronave assim ao ver a dificuldade que fabricantes de geradores eólicos têm para transportar as enormes pás de hélices pelo mundo.
O WindRunner se propõe a transportar essas peças e viabilizar a instalação em terra, cujo mercado é até 20 vezes maior que no mar.
A empresa afirma que pretende fazer um protótipo voar até o final da década e que ele deve ser construído na Itália e finalizado nos EUA.
As dimensões avantajadas já teriam despertado o olhar de governos e militares, diz a Radia.
Vale dizer que o WindRunner terá uma capacidade de carga menor que um Boeing 777F ou Airbus A350F (72,6 toneladas), mas levará itens que os dois nem sonham em transportar.