Primeiro voo do Embraer Tucano completa 35 anos

Primeiro avião militar desenvolvido inteiramente no Brasil evoluiu até virar caça e se tornar sucesso internacional de vendas
O primeiro voo do Embraer Tucano aconteceu em 19 de agosto de 1980 (Foto - Acervo Centro Histórico Embraer)
O primeiro voo do Embraer Tucano aconteceu em 19 de agosto de 1980 (Foto – Acervo Centro Histórico Embraer)
O primeiro voo do Embraer Tucano aconteceu em 19 de agosto de 1980 (Foto - Acervo Centro Histórico Embraer)
O primeiro voo do Tucano “00” aconteceu em 19 de agosto de 1980 (Acervo Centro Histórico Embraer)

Um dos mais famosos aviões das últimas décadas na Força Aérea Brasileira (FAB), o Embraer Tucano, nasceu para substituir um jato. Quando a Cessna Aircraft anunciou, em fins de 1977, a intenção de desativar a produção do treinador T-37, adotado pelo Brasil, Chile, Colômbia, Estados Unidos, dentre outros, a FAB ficaria sem o suporte direto da fábrica norte-americana para sua frota com mais de 60 unidades do modelo na época. Era preciso um novo aparelho para manter o esquadrão de treinamento atualizado.

Com uma infraestrutura já consolidada, a Embraer candidatou-se a desenvolver o projeto da aeronave que, mesmo não sendo jato, pudesse substituir o T-37. A empresa brasileira tinha o conhecimento, mão de obra especializada e condições de produzir uma aeronave militar que atendesse aos requisitos propostos.

O projeto foi desenvolvido no papel até dezembro de 1978, quando no dia seis a Embraer e a FAB firmaram um contrato para produção de um turboélice que recebeu a designação “T-27”. A fabricante desenvolveu o projeto sob a denominação “EMB-312” e iniciou os trabalhos de construção dos quatro primeiros protótipos para ensaio em voo e avaliação do produto.

Das especificações pedidas pela FAB constavam alguns dos seguintes itens: bom desempenho com grande economia de combustível, padronização para economia de estoque de peças de reposição, manobrabilidade para maior familiarização do aluno na operação de jatos e baixo preço de aquisição e baixo custo operacional.

Do projeto ao protótipo

Decorridos 21 meses de desenvolvimento, em 19 de agosto de 1980 o projeto tornava-se realidade com o primeiro voo do protótipo 00 na pista de voo da fabricante em São José dos Campos (SP).

Tucano sobrevoando a pista da Embraer em São José dos Campos durante seu primeiro voo (Foto - O primeiro voo do Embraer Tucano aconteceu em 19 de agosto de 1980 (Foto - Acervo Centro Histórico Embraer)
Tucano sobrevoando a pista da Embraer durante seu primeiro voo (Acervo Centro Histórico Embraer)

Era a concretização de um sonho que os fotógrafos registraram nas evoluções do protótipo de número 00. O protótipo seguinte faria seu voo de estreia 116 dias após, em 13 de dezembro do mesmo ano ao qual iniciaria o programa de trabalho intenso que previa para ambos os modelos de ensaio, testes abrangendo: características de estol (velocidade mínima para sustentação), estabilidade estática e dinâmica, funcionamento de sistemas de oxigênio, combustível, voo noturno, entre outros.

O relatório descrito pelo engenheiro Luiz Fernando Cabral, chefe dos pilotos de prova da Embraer, considerava o resultado “altamente satisfatório”.

Depois vieram as autoridades: ministro da aeronáutica, o então diretor geral do CTA (e ex-comandante da AFA) brigadeiro Menezes, Coronel Donald Madona (comandante da Test Pilot School of USAF, Nick Warner (da Civil Aviation Autority, da Inglaterra) entre outros. Todos unanimemente manifestaram satisfação com o comportamento e desempenho do novo treinador avançado brasileiro, que cumpria assim, 190 horas de voos “duros” e extenuantes.

Encerrados todos os ensaios e iniciada a produção seriada, o T-27 era entregue a Aeronáutica e iniciava sua vida prática no “Ninho das Águias”, em Pirassununga (SP). Ali foi recepcionado cerimoniosamente pelos cadetes que precederam a um concurso para a escolha de um nome para a nova aeronave que com quem eles passariam a conviver.

Um cadete do 4° ano, Carlos Fernando de Souza Panissa foi vencedor em 20 de outubro de 1981 com a sugestão de que a nova aeronave deveria chamar-se “Tucano”. Dias depois, Panissa era homenageado e a ave brasileira da família dos Ranfastídeos ganhava as manchetes e reconhecimento no mundo da aviação.

O Tucano pode carregar até 1.000 kg de bombas e outros armamentos (Foto - FAB)
O Tucano pode carregar até 1.000 kg de bombas e outros armamentos (Foto – FAB)

Mas o novo treinador vinha apetrechado para fornecer um pacote de operações com instrumentação de comunicação e navegação; instrução infravermelho; capacidade para voo em formação; treinamento de tiro e emprego tático, além de contar com assentos ejetáveis e capacidade para até 1.000 kg de bombas.

Como uma aeronave de nova geração, o Tucano foi equipado com um moderno sistema de sinalizadores e auxiliares automáticos de navegação e operação que o tornaram invejável, com equipamentos dignos de caças.

As primeiras unidades de linha de produção foram entregues a Academia da Força Aérea (AFA) em Pirassununga (SP) em 29 de setembro de 1983. Seis aparelhos destinados à antiga Esquadrilha da Fumaça e dois para o treinamento dos pilotos da própria AFA.

Na função de treinador o T-27 leva grande vantagem sobre os aparelhos com motores a jato, sendo 30% mais econômico quanto ao consumo de combustível, reduzindo as etapas básicas em de 20% nas horas de voo. Com um total de 250 horas de voo no Tucano o aluno já está apto a ser transferido para os jatos.

Substituição escalonada

Com a desativação dos antigos jatos T-37, a FAB passou a substituí-los paulatinamente, optando pelo T-25 Universal, produzido pela Neiva e pelo AT-26 Xavante também produzido pela Embraer.

Foram encomendadas inicialmente 118 unidades para substituir os velhos Cessna, que operaram de 1967 até 1981. Mas não era apenas um programa de substituição, visto que a FAB utilizava apenas 65 jatos T-37 e as encomendas ultrapassavam em quase o dobro aquela marca. Pretendia-se como efetivamente aconteceu dotar as escolas militares de meios mais ágeis de formação de combatentes.

Rapidamente o Tucano ganhou os noticiários mundiais e outras trezentas unidades foram garantidas para um curto espaço de tempo. Vieram os pedidos da França, Egito e posteriormente um contrato para sua produção na Inglaterra.

Primeira linha de montagem do Tucano na fábrica da Embraer em São José dos Campos (Foto - Acervo histórico Embraer)
Primeira linha de montagem do Tucano na fábrica da Embraer em São José dos Campos (Foto – Acervo histórico Embraer)

O desenvolvimento do projeto brasileiro foi conseguido em prazo recorde, uma vez que em outras forças aéreas e em outras circunstâncias o prazo para entrega de um avião pronto seria muito mais longo. No desenvolvimento do T-27 foram aplicadas 250.000 horas de engenharia, 113.000 no preparo do ferramental e 50.000 horas na construção do primeiro protótipo, tudo isso comprimido em um período de apenas dois anos, após o lançamento da luz verde do Estado Maior do Ministério da Aeronáutica para o programa.

Mais possibilidades

Cumpridas as primeiras exigências, a Embraer iniciou um programa de ampliação das possibilidades de emprego da nova aeronave que ganhou condições para se tornar um poderoso vetor de apoio tático e ataque ao solo. Isso tornou o T-27 uma poderosa arma para missões contra insurgências.

A aeronave possui quatro pontos fixos sob as asas onde podem ser instalados disparadores de foguetes de 37 a 70 mm ou bombas de 115 ou 225kg e ainda metralhadoras de calibre 7.62 ou 12.7mm.

Também pode ser adaptado um sistema complementar de tanques de combustível, ampliando o alcance do avião para 3.800km ou mais de sete horas de voo.

O primeiro voo do Tucano contou com a presença de autoridades do Brasil e internacionais (Acervo Centro Histórico Embraer)
O primeiro voo do Tucano contou com a presença de autoridades do Brasil e internacionais (Acervo Centro Histórico Embraer)

Durante um raid de 57 mil km por vários países, viagem iniciada em maio de 1983 a partir de São José do Campos (SP) passando pela Venezuela, Panamá, Honduras, Haiti, Jamaica, República Dominicana e Estados Unidos. Numa segunda etapa em sequência, o Tucano partiu dos Estados Unidos (Miami) passando por Nova Iorque e seguindo para a Groelândia (Goosebay), Islândia (Reykjavik), Inglaterra (Prestweck), França (Paris), Grécia (Córcira), Egito (Cairo), Sudão (Kartum) e Quênia. No retorno sobrevoou Uganda, Tanzânia, Zâmbia, Sudão, França, Suécia, Finlândia, Dinamarca, novamente França e realizou a travessia do Atlântico de volta ao Brasil.

A turnê mundial rendeu ao Tucano um contrato para o fornecimento de 120 aeronaves ao Egito num pacote de US$ 181 milhões; oito aeronaves para os EUA por US$ 10 milhões e outras cartas de intenção de compra. As primeiras dez unidades egípcias foram fornecidas totalmente montadas e em condições de voo sendo que as 110 restantes passaram a serem montadas pela Arab Organization for Industrialization, no Cairo.

Em seguida, o Tucano também seria produzido na Inglaterra e mais recentemente nos EUA, pela fabricante Sierra Nevada.

Embraer na mídia (clique na imagem para ampliar)

Esquadrilha da Fumaça

A Esquadrilha da Fumaça nasceu em 1952 composta por meia dúzia de aviões North American Texan NA T-6 que eram construídos no Brasil (MG) sob licença desde a Segunda Guerra Mundial. Depois de alguns anos de excepcionais performances em exibições, os oficiais da FAB optaram pela substituição daqueles aparelhos por outros mais novos, com os Fouga Magister, bimotores franceses a jato. Mas a experiência durou pouco e a Esquadrilha da Fumaça voltou aos T-6 por mais de uma década.

No início de 2015 a Esquadrilha da Fumaça passou a voar com os Super Tucano, mais potentes (Foto - FAB)
No início de 2015 a Esquadrilha da Fumaça passou a voar com os Super Tucano, mais potentes (Foto – FAB)

Como os T-6 queimavam gasolina de alta octanagem, o motor exigia alto custo de manutenção, o Ministro da Aeronáutica achou por bem suspender temporariamente as demonstrações, provocando consternação nos meios aeronáuticos.

Afinal a “Fumaça” não era apenas a “menina dos olhos” da FAB, mas conservava uma personalidade já entranhada na alma brasileira. Com o surgimento do novo treinador turboélice Tucano o público viu reacendido os seus anseios quando através do Decreto 87739 de 21 de outubro de 1982, depois de cinco anos sem voar a EF voltava a colorir os céus do Brasil, embora já sob nova denominação, a partir daquele momento, Esquadrão de Demonstração Aérea.

Sob o comando do Tenente-Coronel Aviador Geraldo Ribeiro Junior, o EDA mantém um padrão de idade média de 31 anos entre seus integrantes que devem ter, quando incorporados, 3 mil horas de voo. Todos são instrutores de voo e vão para o EDA voluntariamente por dedicação às acrobacias aéreas. Após um período de três anos no Esquadrão cada um deles é submetido, prosseguindo no seu plano de carreira de oficial da FAB.

O Super Tucano pode ser utilizado na interceptação de aeronaves de baixa performance (Foto - FAB)
O Super Tucano pode ser utilizado na interceptação de aeronaves de baixa performance (Foto – FAB)

Neste ano, o Esquadrão de Demonstração Aérea da FAB incorporou o Super Tucano, modelo com performances superiores, que também se tornou um sucesso de vendas no exterior e que trará um novo patamar de possibilidades ao EDA.

Tucano pelo mundo

O Tucano e a sua versão de última geração Super Tucano estão presentes em forças aéreas de todos os continentes e já chegou a entrar em combate no Peru e Colômbia. Ao todo, a aeronave está presente em 21 países: Argentina, Angola, Afeganistão, Burkina Faso, Mauritânia, Senegal, Mali, Colômbia, Gana, Chile, República Dominicana, Equador, Indonésia, Honduras, Egito, Irã, Paraguai, EUA, Peru, Venezuela e o Brasil.

A FAB é maior operador do avião da Embraer: a frota contém 109 modelos Tucano e outros 99 Super Tucano – mais de 600 aparelhos já foram produzidos. Com capacidade para seguir em operação por mais 20 ou 30 anos, o avião turbo-hélice militar da Embraer também tem potencial para ser modernizado e quem sabe até continuar em ação por muito mais tempo que o previsto.

Veja mais: Após 30 anos, Embraer Brasília deixa de voar nos EUA

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