Sanções burladas: Rússia teria recebido 1 bilhão de euros em peças de jatos Boeing e Airbus

Embargo comercial que proíbe venda de componentes e aviões ocidentais ao país foi contornado com ajuda de vários países, diz reportagem

Boeing 777-300ER da Aeroflot
Boeing 777-300ER da Aeroflot (Fedor Leukhin)

As sanções ocidentais que proibiram o envio de peças de reposição para aeronaves da Boeing e Airbus para companhias aéreas russas teriam sido amplamente burladas, apurou uma investigação do site Yle, da Finlândia

A reportagem investigou dados alfandegários entre fevereiro de 2022 e setembro de 2024 e constatou terem sido realizadas cerca de 4.000 remessas de peças de aviões Airbus e Boeing para a Rússia, num valor que chega a 1 bilhão de euros (cerca de R$ 6,4 bilhões).

Segundo o site, mais de 360 empresas em todo o mundo participaram do esquema de envio de peças, que incluem de materiais de cabine a aviônicos e até motores para clientes russos.

A maior parte das exportações (cerca de um terço) foi feita pelos Emirados Árabes Unidos, que manteve relações comerciais normais com a Rússia, mas houve significativos envios de componentes também do Gabão, China e Turquia.

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As aeronaves da Airbus responderam por 600 milhões de euros em peças sobressalentes e as da Boeing, pelos 400 milhões de euros restantes – o Yle não levantou dados de outros fabricantes como a Embraer.

Boeing 747-400 da Rossiya Airlines (Papas Dos)

Peças genéricas

Logo que a Rússia lançou a invasão militar à Ucrânia, vários governos ocidentais passaram a anunciar sanções econômicas ao país, na esperança de pressionar o governo Putin a voltar atrás.

Mas os efeitos parecem ter sido mínimos. Havia cerca de 500 aeronaves comerciais na Rússia em arrendamento por empresas do Ocidente, que não conseguiram recuperar quase nenhuma delas.

O governo russo transferiu a propriedade a empresas do país e as registrou com novas matrículas. Mais tarde, boa parte dos aviões acabou sendo negociada com os arrendadores.

E170 da S7 Airlines (Anna Zvereva)

Inicialmente, problemas técnicos e o aterramento de alguns aviões pareciam ter surtido algum efeito sobre a frota, mas com o passar do tempo ficou claro que as empresas aéeras russas foram afetadas pela medida apenas parcialmente.

Putin também autorizou a produção de peças genéricas para os Airbus e Boeing, mas o volume de exportações descoberto pelo Yle sugere que em sua maioria as aeronaves podem ter recebido componentes autênticos.

Jatos A330 para a Belavia, da Bielorússia

Se não conseguiu coibir a venda de peças de reposição, as sanções tiveram mais sucesso em impedir o envio de aeronaves à Rússia.

Mas até essa barreira foi superada, como ocorreu dias atrás com a empresa aérea estatal Belavia, da Bielorússia, país leal a Putin e que também enfrenta o embargo.

Um dos três A330-200 da Belavia (Belavia)

A Belavia colocou em serviço três Airbus A330-200 de segunda mão, a despeito das sanções. As aeronaves foram obtidas por meio de um complexo esquema que envolveu uma companhia aérea fictícia da Gambia, um investidor turco e uma suposta venda para os Emirados Árabes Unidos.

Os três widebodies, os primeiros da Belavia, já se encontravam na Bielorússia desde agosto de 2024, quando voaram para Minsk a partir de Cairo, no Egito.