Avianca é a primeira a pousar quase sem visibilidade em GRU

Companhia aérea recebe autorização para operar por instrumentos na categoria III A, uma das mais avançadas do mundo
A maior parte dos jatos comerciais que voam no Brasil são alugados (Divulgação)
A maior parte dos jatos comerciais que voam no Brasil são alugados (Divulgação)
Airbus A320 da Avianca: todos os aparelhos podem operar por ILS CAT III
Airbus A320 da Avianca: todos os aparelhos podem operar por ILS CAT III

Famoso pelos nevoeiros de inverno, o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, já poderá receber voos nacionais mesmo com visibilidade próxima a zero. Desde o dia 20 de maio, a companhia Avianca possui autorização para pouso por instrumentos na categoria III A. É a primeira vez que voos nacionais poderão utilizar o sistema de pouso mais avançado do mundo, conhecido como ILS (Instrumental Landing System).

O sistema é usado em vários aeroportos brasileiros, porém, em versões menos precisas. Com isso, em casos de nevoeiros densos, a maior parte dos voos acaba arremetendo e pousando em aeroportos alternativos onde há visibilidade: “É um custo enorme para as empresas e passageiros”, explica José Efromovich, presidente do conselho de administração da Avianca. “Os voos atrasam, aviões têm que se deslocar para outras localidades para assumir voos, nossos clientes perdem compromissos e é prejuízo para o aeroporto também”, complementa.

Para minimizar o problema, a Avianca decidiu investir no chamado ILS CAT III. Capaz de trazer o avião até a pista com segurança mesmo com visibilidade horizontal de apenas 200 metros, o sistema só funciona caso o avião, pilotos e aeroporto estejam homologados.

Guarulhos é o primeiro terminal brasileiro a ter o sistema funcionando, desde o ano passado, mas apenas companhias aéreas internacionais têm autorização para utilizá-lo já que no exterior ele é bem mais comum. A Avianca, no entanto, iniciou a preparação para adotá-lo bem antes, em 2012, quando nenhum aeroporto no país havia sido concedido à iniciativa privada.

A aposta agora começará a dar resultado. Como é a única companhia autorizada a pousar nessas condições, seus voos não precisarão ser desviados, ao contrário das concorrentes. A empresa, no entanto, não sabe mensurar qual será a economia: “Nossa filosofia é de investir em tecnologia e esse sistema é uma tendência mundial a ponto de termos encomendado nossos Airbus com ele mesmo sem ter perspectiva de utilizá-lo no país”, diz Efromovich.

Pouso automático

“O ILS CAT III exige treinamento específico e condições mínimas para ser usado”, diz o Comandante Norberto Raniero, diretor de operações da Avianca. “É preciso que o aeroporto possua um sistema de iluminação mais avançado na pista de pouso e de táxi e não haja outras aeronaves por perto já que a fuselagem pode interferir na precisão das antenas”, observa.

Hoje apenas uma das quatro cabeceiras de Guarulhos possui o sistema, a 09R (pista usada normalmente para pousos). O funcionamento da aproximação por instrumentos é feita praticamente de modo automático (veja vídeo), embora os pilotos estejam a postos o tempo inteiro.

“Para que seja autorizado, o pouso nesse nível de visibilidade exige que os dois pilotos tenham certificação para ILS III. No caso da Avianca, também definimos que o comandante é sempre o responsável por esse tipo de pouso, embora toda a tripulação da empresa seja treinada para executá-lo”, faz questão de observar Raniero.

O sistema ILS, embora pareça algo recente, existe desde antes da Segunda Guerra Mundial. O primeiro pouso feito por ele por um avião comercial ocorreu em 1938 nos Estados Unidos. Ele consiste de uma rede de antenas de rádio e de um equipamento chamado de ‘Glide Slope’, que ‘desenha’ uma rampa de descida para que os sistemas de navegação do avião possam indicar com precisão se o aparelho está na direção correta da pista.

Com o tempo, o sistema ganhou maior precisão a ponto de permitir que o momento de decisão ocorresse mais próximo do pouso. Para se ter uma ideia, um avião que pousa num aeroporto Categoria I (como Congonhas) tem que enxergar a pista a no máximo 550 metros de distância e 61 metros de altura em relação ao solo. Caso isso não ocorra, a ordem é arremeter.

A Categoria II, utilizada hoje nas demais cabeceiras de Guarulhos e no Galeão, por exemplo, reduz essa posição de decisão para no máximo 300 metros de distância e 30 metros de altura (veja infográfico).

Entenda como funciona o ILS e veja como a categoria III é mais precisa que as demais
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Visibilidade zero

O ILS Categoria III praticamente tornou os aeroportos sempre abertos em qualquer tempo. Ele é dividido em três subdivisões, Alpha, Bravo e Charlie. O sistema de Guarulhos é o Alpha, capaz de operar com teto inferior a 30 metros e visibilidade de 200 metros enquanto o padrão Bravo reduz esses limites para menos de 15 metros de altura e 46 metros de distância.

Já o ILS CAT III C, ainda em testes, permitirá pousos com visibilidade zero, ou seja, totalmente automáticos – os demais sistemas exigem que os pilotos enxerguem as luzes da pista para seguir com o pouso.

Por enquanto, a novidade está restrita ao aeroporto paulista, mas José Eframovich pede por mais investimentos: “Guarulhos não é o aeroporto que mais fecha no país, mas por ser o mais movimentado acaba afetando toda a aviação. Isso não significa que outros aeroportos não precisem do sistema como Curitiba, Porto Alegre e o Galeão”. Desses, apenas o aeródromo do Rio é hoje administrado pela iniciativa privada, assim como Guarulhos.

Para ter o privilégio de operar o sistema com exclusividade a companhia investiu R$ 4,5 milhões. Até quando essa vantagem vai durar, Efromovich não sabe dizer, mas para a empresa, ouvir que um aeroporto está ‘fechado’ será algo cada vez mais raro daqui em diante.

Além do sistema de aproximação, aeroporto precisa de um sistema de iluminação mais eficiente
Além do sistema de aproximação, aeroporto precisa de um sistema de iluminação mais eficiente

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  1. O glide slope, como bem dito no artigo, indica a rampa de planeio para o pouso. Quem indica a direção da pista é o localizer, que junto com o glide compõe o ILS.

  2. Quando o Galeão e Curitiba terão também este sistema? Pois, em 2014 foi divulgado que estes três aeroportos teriam o sistema.

  3. Complementando, Curitiba já tem todo sistema ILS CAT IIIa instalado a um ano, mas pela incompetência da SAC e Infraero, ainda não está operacional. É lamentável que tenhamos que ter voos atrasados e cancelados em CWB.

  4. O custo de se manter as tripulações habilitadas pra o cat III não compensa(simulador semestralmente). Melhor alternar eventualmente. Isso é marketing mentiroso.

  5. Felipe , sou piloto da Avianca ( CMTe ) e vc não está correto . Os Airbus da Avianca já vieram de fábrica todos configurados para CATIII diferente dos boeing da GoL que vem CatII e não são todos . Outro dado importante , fazemos simulador a cada 6 meses então não fica difícil manter a tripulação com a habilitação . Pode ficar caro , mas é algo que já é feito , seja na revalidacao seja no loft e up-set recovery . Então esse custo já tá sendo pago .

  6. Filipe, vejo que vc é meia um curioso palpiteiro, o achismo é virtude dos tolos.
    Evolua amigo, para seu próprio bem.

  7. Como está o GBAS? Dizem que é mais barato, ocupa menos espaço e é mais confiável.

    Alguém acredita que logo substituirá o ILS, que já têm décadas?

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