“Bilhete espacial” para Marte custará 100 mil dólares

Missão planejada pela SpaceX, do bilionário Elon Musk, quer colonizar o planeta vermelho com mais de um milhão de humanos por volta do fim do Século 21
Elon Musk quer usar nave para exploração espacial em outros planetas
Viagem de volta faz parte do programa
Viagem de volta faz parte do programa

A precisão científica do filme “O Marciano“, que retratou a vida de um astronauta sozinho em Marte interpretado por Matt Damon, vai parecer um filme B se o ambicioso projeto do bilionário Elon Musk tornar-se realidade – o que não parece ser assim tão absurdo. Fundador do Paypal e conhecido pelos carros elétricos (e autônomos) da Tesla, entre outros negócios, Musk deu mais detalhes do projeto ITS – Interplanetary Transport System (sistema de transporte interplanetário) no Congresso Internacional de Astronáutica, em Guadalajara, México.

Segundo ele, é esse o projeto que o motivou a criar a SpaceX, companhia privada que assumiu várias tarefas no programa espacial americano, após a Nasa terceirizar parte de seu trabalho. O ITS é a menina dos olhos do empresário que deseja colonizar Marte com um milhão de pessoas por volta do final do século 21, transformando o árido planeta num ambiente viável para o ser humano num futuro distante.

Você não leu errado: 1 milhão de humanos, parte terráqueo parte ‘marciano’. Mas não pense que o projeto se pareça com o que se ouve a respeito de expedições interplanetárias – viagens longas sem volta, confinamento e vida privada de prazeres mundanos. Para Musk, as viagens do ITS serão velozes (80 dias em vez de até nove meses com a tecnologia atual), possibilidade de voltar para a Terra e, acredite, lazer a bordo: “Será muito divertido, você terá uma experiência incrível”, garantiu o bilionário.

A razão para o otimismo do sul-africano radicado na América do Norte está na tecnologia que está sendo desenvolvida por sua empresa hoje. E também uma pitada de ousadia. Por exemplo, o foguete que levará passageiros e carga para órbita será um gigante: 122 metros de altura e duas vezes e meia mais potente que o Saturno V, o célebre foguete que levou o homem à Lua.

O estágio 1, no entanto, será uma espécie de “trem voador”. Subirá da mesma plataforma do ônibus espacial na Florida levando a nave espacial que fará a viagem apenas com “tripulantes e bagagem” e voltando para a Terra para se preparar para outra missão, pousando no mesmo ponto de onde saiu. O combustível que levará a nave espacial em si até o planeta vermelho será levado nessa segunda viagem e o abastecimento se dará no espaço (veja vídeo abaixo).

Boeing 767

A nave espacial pensada por Elon Musk e sua equipe também será imensa: terá quase 50 metros de comprimento e 17 metros de diâmetro médio, algo como um Boeing 767 espacial, mas com muito mais volume interno. Na ponta, um grande para-brisa oferecerá para os ocupantes uma visão ímpar do espaço. Além dele, janelas de observação se posicionarão em quatro fileiras transversais.

Tanto o foguete principal quanto a espaçonave serão reutilizáveis e aí está um dos segredos do projeto, o baixo custo. Equipado com novos propulsores Raptor, as naves serão muito mais velozes (mais de 100.000 km/h) que os artefatos atuais e poderão viajar por várias vezes e pousar na Terra de forma suave.

Graças a essa potência, o ITS poderá encurtar a viagem para Marte para menos de três meses (Musk acredita que conseguirá chegar a apenas um mês). Hoje, com a tecnologia disponível, esse tempo varia entre seis a nove meses.

A nave chegará à Marte e fará um pouso ’em pé’, controlando a descida com seus foguetes, uma técnica diferente da utilizada até hoje (com descidas por para-quedas ou pouso como um planador, no caso do ônibus espacial). Para deixar Marte, a SpaceX planeja criar uma usina de energia no planeta através de captação da energia solar combinada com elementos existentes na superfície como oxigênio e metano. Para a decolagem de volta será necessário uma parte ínfima da potência exigida na Terra já que Marte é menor e com uma gravidade mais fraca.

Ponte espacial

Mas, afinal, como levar um milhão de pessoas para o planeta vermelho? Se até aqui Elon Musk pareceu um louco basta saber que ele imagina mais de mil naves partindo ao mesmo tempo a cada 26 meses, quando o alinhamento entre a Terra e Marte está mais próximo  – o planeta em seu ponto mais próximo da Terra está a 54 milhões de quilômetros, mas pode chegar a mais de 400 milhões de quilômetros.

Musk, no entanto, não explicou ainda como será a colonização em si. O pouco que deixou no ar é que os futuros habitantes de Marte construiriam uma cidade no planeta, utilizando matéria prima encontrada por lá em conjunto com itens trazidos da Terra.

Para viabilizar esse “êxodo”, ele imagina reduzir o custo da viagem para algo em torno de 100 mil dólares (cerca de 325 mil reais), o preço de um carro de luxo – vale lembrar, apenas para a ida, afinal imagina-se que esse interessado passará uma boa temporada fora do seu planeta natal.

Nave será pelo menos três vezes mais veloz que as atuais
Nave será pelo menos três vezes mais veloz que as atuais

Primeiro voo em 2026

Apesar dos planos parecerem palpáveis hoje, a missão para Marte ainda deve demorar para ocorrer. Boa parte da tecnologia necessária para viabilizar o projeto, orçado em US$ 10 bilhões, ainda está em testes, como os motores e as cápsulas que servirão de inspiração para o ITS e que serão usadas para levar astronautas para a estação espacial internacional.

O ITS, aliás, não será um projeto restrito à Marte. Musk prevê usar seu foguete e nave para missões tripuladas para outros planetas como Júpiter e Saturno. E até como cargueiro terrestre o foguete gigante poderá ser utilizado, levando carga entre os Estados Unidos e a China em apenas 25 minutos.

Mas o empresário se dará por satisfeito em realizar o sonho de levar humanos para Marte, que ele acalenta desde 2002. Segundo o bilionário, se não houver imprevistos, o primeiro grupo de ‘futuros marcianos’ partirá dentro de 10 anos ou menos: “o objetivo é transformar o ser humano numa civilização exploradora do espaço e uma espécie ‘multiplaneta’, assim afastaremos o risco de extinção”, conclui. Alguém topa passar uma temporada em Marte?

Veja também: As espaçonaves do Século 21

Com 122 metros de altura, ele será maior que o Saturno V, até então o mais pesado foguete já criado pelo homem e que levou os astronautas para a Lua
Com 122 metros de altura, ele será maior que o Saturno V, até então o mais pesado foguete já criado pelo homem e que levou os astronautas para a Lua

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