Como suportar um voo de 20 horas sem escalas?

Companhia aérea Qantas, da Austrália, terá os voos mais longos do mundo ligando Sydney a Londres e Nova York com jatos Airbus A350-1000 especialmente adaptados
O A350-1000 foi selecionado pela Qantas para a dura missão de voar por até 20 horas (Airbus)

A companhia australiana Qantas Airways anunciou nesta segunda-feira (2) que pretende iniciar a partir do fim de 2025 os voos de passageiros mais longos da história, com cerca de 20 horas de duração. As novas rotas são parte do “Project Sunrise” da empresa, que vem se preparando há alguns anos para lançar trechos ligando a Austrália a qualquer outra cidade do mundo em viagens sem escalas.

Os primeiros voos ultra longos nos planos da Qantas serão as rotas de Sydney, na costa oeste da Austrália, para Londres e Nova York, separadas por 16.000 km de distância ou mais. São jornadas que colocarão à prova os limites das aeronaves comerciais e sobretudo dos passageiros e tripulantes.

Para viabilizar as operações previstas no Project Sunrise, que também incluem voos diretos da Austrália para Frankfurt, Paris e até o Rio de Janeiro, a Qantas vem conduzindo desde 2019 estudos científicos e médicos no qual analisa o comportamento e o bem-estar dos passageiros e tripulantes em viagens de longa duração. O processo também exigiu a escolha de um avião capaz de executar tais missões, no caso jatos Airbus A350-1000 com modificações especiais recém-encomendados pela companhia.

Classificado pela empresa australiana como a “última fronteira” das viagens aéreas de longa duração, os voos de 20 horas contarão com elementos exclusivos que prometem melhorar a experiência dos passageiros, além de representar um novo avanço tecnológico na aviação. Confira a seguir os principais pontos que tornarão possíveis os voos ultra longos da Qantas Airways.

O A350-1000 pode embarcar até 480 passageiros, mas os modelos da Qantas contarão com apenas 238 assentos (Divulgação)

Avião adaptado para voos ultra longos

Entre os mais de 50 novos aviões recém-encomendados pela Qantas, o principal destaque é o pedido de 12 jatos Airbus A350-1000. São com essas aeronaves que a companhia australiana pretende iniciar seus voos ultra longas de Sydney para Londres e Nova York, em 2025.

No entanto, para operar com segurança nos trechos com 20 horas de duração o A350-1000 da Qantas será uma versão única, equipado com um tanque de combustível adicional. A Airbus ainda não divulgou detalhes sobre a variante, mas é provável que o modelo destinado a empresa australiana deva ser ajustado para percorrer mais de 17.000 km, dado a distância do voo entre Sydney e Londres (16.983 km).

A estratégia para tornar o voo ultra longo viável, segundo a Qantas

Espaço extra para todos os passageiros

Maior variante da família A350 XWB da Airbus, o A350-1000 é certificado para embarcar até 480 passageiros. Porém, em nome do conforto e o bem-estar dos clientes que terão adiante uma viagem de 20 horas, a Qantas escolheu para o mesmo avião uma cabine com apenas 238 assentos, sendo seis poltronas de primeira classe, 52 na executiva, 40 na Premium Economy e 140 na Economy.

Cabine da primeira classe do A350-1000 (Qantas)

Obviamente, quem se acomodar na primeira classe ou na executiva fará uma viagem mais confortável, mas a Qantas também pensou nos passageiros do “fundão”. O espaço entre as fileiras (pitch) na Premium Economy será de 40 polegadas (1,01 metro), um espaço bastante generoso para um assento de classe econômica, mesmo para aqueles com a denominação “premium”. Na econômica convencional, as poltronas terão pitch de 33 polegadas (83,8 centímetros).

Mas a principal solução de cabine criada pela Qantas para reduzir o desgaste dos passageiros no longo período de confinamento no avião é o que ela chamou “Zona de Bem-Estar”, que será acessível a todos os ocupantes embarcados. Trate-se de um espaço da cabine da aeronave dedicado para os ocupantes se movimentarem durante a viagem.

Ilustração da Zona de Bem-Estar que será incorporada aos A350 da Qantas (Divulgação)

Comodidade do voo ultra longo sem escalas

A Austrália é como um pedaço do Ocidente localizado no Oriente. Em outras palavras, é um país que está distante dos grandes centros comerciais e turísticos localizados no hemisfério ocidental. Atualmente, ligar essas duas regiões por via aérea exige ao menos uma conexão, como são os casos dos voos que partem de Sydney para Londres e Nova York.

Com a implementação do Project Sunrise, a Qantas espera reduzir em até quatro horas o tempo de voo de quem viaja de ou para Austrália para o outro lado do mundo em comparação com trechos com uma ou mais paradas. Além disso, a empresa também garante que as todas as operações no âmbito do Project Sunrise serão neutras em carbono, com todas as emissões compensadas.

Para o CEO do Grupo Qantas, Alan Joyce, as rotas ultra longas farão com que qualquer cidade do mundo fique a apenas um voo da Austrália. “É a última fronteira e a solução final para a tirania da distância que tradicionalmente desafia as viagens para a Austrália”.

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  1. Para percorrer essas distâncias propostas pela cia aérea australiana há de se sacrificar algo, no caso, a quantidade de passageiros e a aeronave ser abastecida com toda a capacidade de combustível possível (isso se a fabricante optar por adicionar um outro tanque ou otimizar os existentes). Não há “almoço grátis”. E este modelo também não é o único capaz de percorrer tais distâncias, a Airbus só ganhou por causa da escolha do A220 e A321 fechando, assim, um pacote que a Boeing atualmente não possui. Ponto para a fabricante francesa, quer dizer, do consórcio europeu.

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