Incidente Tramandaí: a “guerra” da FAB contra a Marinha
Disputa pelo direito de operar aviões levou as duas forças militares do Brasil às vias de fato

Começam as desavenças
O embate sobre o uso de aviões entre as duas forças era intenso. Como a Aeronáutica não reconhecia o direito da Marinha de operar aeronaves, o controle de tráfego aéreo referia-se a elas como “objetos não identificados”.
Um dos primeiros episódios de encontros aéreos da Marinha com a FAB ocorreu no início de 1961, quando um T-6 da 2° Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO) mergulhou sobre um Widgeon da MB e manobrou agressivamente à sua volta.
Posteriormente, o piloto da força aérea explicou que agira por solicitação do controlador de voo da torre do Galeão para afastar de sua área um helicóptero não identificado. Nos anos seguintes, outros casos semelhantes foram registrados.
Incidente Tramandaí
Em 5 de dezembro de 1964, dois helicópteros do grupo HU-1 da Marinha, atuando junto ao navio hidrográfico Argus na Lagoa dos Patos (RS), receberam a ordem de retornar ao Rio de Janeiro para prestar apoio a uma regata da Semana da Marinha.
As aeronaves fariam o voo separadamente, com escalas de reabastecimento em Tramandaí (RS), Florianópolis (SC) e Paranaguá (PR), locais onde a Marinha contava com pontos de reabastecimento de combustível.

O primeiro helicóptero a seguir viagem foi o Whirlwind N-7009, pilotado pelo comandante do esquadrão HU-1, Capitão de Fragata José Maria do Amaral Oliveira. Ao chegar em Tramandaí, o oficial naval deu de cara com soldados da FAB, que tentaram apreender a aeronave da Marinha. O Comandante Amaral, contudo, conseguiu reverter a situação e prosseguiu o voo até o RJ.
O Capitão de Corveta Anísio Augusto Gantois Chaves, voando no Widgeon N-7001, não teve a mesma sorte de seu colega. Em Tramandaí, três oficiais da FAB armados comunicaram a apreensão do helicóptero.
Ao recusar a ordem, o Comandante Anísio recebeu voz de prisão de um Capitão-Aviador, mas a ignorou por ter uma patente mais elevada. Quando o motor do helicóptero foi acionado, os militares da FAB abriram fogo de metralhadora contra o cone de cauda e atiraram pedras no rotor de cauda, causando danos sérios na aeronave e impedindo o voo.
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