No dia 18 de fevereiro de 2000, há exatos 25 anos, pousavam no Aeroporto de Viracopos o PT-MZG e o PT-MZH, os primeiros Airbus A320-200 do Brasil, trazidos pela TAM como parte de um plano ambicioso de transformá-la na líder do mercado nacional.
O primeiro narrowbody da Airbus realizou o primeiro voo em 22 de fevereiro de 1987, e foi um dos pioneiros da tecnologia fly-by-wire (FBW), que dispensou o uso de cabos para conectar as superfícies de controle.
O modelo fazia parte do conceito de “família” que a Airbus estava implantando na época, com o A319 destinado ao mercado de 150 passageiros e o A321 na casa dos 220 passageiros, com o A320 intermediário entre os dois modelos, com capacidade para 180 lugares.

Até a introdução do Boeing 777, o A320 foi considerado a aeronave mais moderna do mundo e um divisor de água na história da Airbus, estabelecendo-se como concorrente que poderia disputar de igual para igual a Boeing e a combalida McDonnell Douglas.
Até dezembro de 2024, mais 11.500 aeronaves da família A320 tinham sido entregues, com um backlog de encomendas de mais de 7.125 aeronaves.
No Brasil
No Brasil, a primeira vez que o A320 veio ao Brasil foi em março de 1994, quando operou voos panorâmicos para jornalistas e executivos da aviação em São Paulo e Rio de Janeiro, inclusive operando no Aeroporto Santos Dumont para provar sua habilidade de pousar em pistas curtas. Naquele momento nenhuma das empresas brasileiras se interessou.
No mesmo ano, em novembro, a costarriquenha LACSA foi a primeira operadora regular do A320 no Brasil, voando uma vez por semana entre San Jose-Quito-Guayaquil-Rio de Janeiro-Guarulhos.

Hoje há mais de 131 jatos A320 em operação com a Azul, Avion Express Brasil e a LATAM Airlines Brasil. No passado houve outros operadores como a Avianca Brasil, Itapemirim e a Whitejets.
TAM (2000-2016)
A TAM encomendou os A320 em 1998, como parte do enorme acordo envolvendo mais de 175 aeronaves em conjunto com a LAN Chile e o Grupo TACA. Os aviões chegaram a partir de 2000 e tinham a missão de substituir os Fokker 100 e prover aumento na oferta de assentos nas rotas mais concorridas.
Os dois primeiros A320, PT-MZG e PT-MZH, vieram com a nova identidade visual da TAM. O vermelho passou a ser a única cor no estabilizador, assim como as naceles, que ganhariam uma linha que demonstrava agilidade e fluidez.
Configurados em duas classes, a econômica com 138 assentos e a executiva com 12 assentos, os A320 operaram voos domésticos e foram a ponta de lança da TAM em lançar voos internacionais em 2001 para Buenos Aires (cinco diários), Montevidéu (dois diários) e Brasília-Manaus-Miami (diário).
Com a entrada da Gol no mercado, os A320 começaram a ser reconfigurados para classe única, com 162 assentos. Os únicos que ficariam com duas classes (12 executiva e 144 econômica) eram as aeronaves destinadas aos voos internacionais.
A TAM anunciava ser a empresa com a frota mais jovem do mundo, e o A320 era um dos responsáveis. E passou a ser a principal arma para competir com a VARIG nos voos domésticos. Por outro lado, a intensa concorrência com a Gol e novas opções de layout oferecidas pela Airbus fizeram a TAM colocar mais assentos nas aeronaves, chegando a 174 lugares.
A empresa também atualizou a pintura corporativa, com acréscimo do verde e amarelo no estabilizador e na linha das naceles, além da adição do título “Orgulho de ser brasileira”, padrão que ficou informalmente conhecido como Jamaica.

O PR-MBK, um dos aviões com esta nova configuração, protagonizou o pior acidente aéreo da aviação brasileira. Em 17 de julho de 2007, a aeronave realizava o voo JJ3054, Porto Alegre-Congonhas, e quando pousou no aeroporto paulistano, a aeronave não conseguiu frear a tempo, varando a pista e atingindo um edifício da TAM Express e um posto de combustível do outro lado da Avenida Washington Luís.
Era um voo de fim de tarde, com todos seus 174 lugares ocupados, mais dois bebês de colo, cinco tripulantes extras e mais seis tripulantes em serviço. No solo, 12 pessoas foram ceifadas pelo acidente, resultando em 199 vítimas do acidente.
O laudo oficial foi que um dos motores do A320ceo estava configurado de maneira errônea e que a pista de Congonhas não tinha o grooving (ranhuras na pista para melhor escoamento das águas pluviais e para auxiliar a frenagem) adequado, afetando a aderência das aeronaves durante pousos em dias de chuva.

A imagem da cauda do PR-MBK entre as chamas foi um dos motivos para a TAM renovar a imagem corporativa em 21 de fevereiro de 2008, quando o PP-MZL foi apresentado em Congonhas com as novas cores, mudando o logotipo TAM e adicionando uma gaivota sobre o nome.
Os A320 receberam diversas pinturas comemorativas ao longo da história, a primeira com as bandeiras do Brasil e da Alemanha em comemoração ao primeiro voo da TAM para o país europeu, retirado rapidamente após a morte do Comandante Rolim, presidente da empresa.
Outras pinturas notáveis foram para a Copa de 2010 (PR-MAP), na promoção do filme RIO (PT-MZN), da Star Alliance (PR-MBO) e da Oneworld (PR-MYF).
Em 2013, a TAM recebeu os primeiros A320 com sharklets, variação da ponta de asas em relação aos A320 antigos. No total, a TAM operou com 117 Airbus A320, entre modelos novos e usados, e a frota continuou com a LATAM Airlines Brasil a partir de 2016, incluindo as encomendas para os A320neo – New Engine Option – a segunda geração do modelo, feitas em 2011.
Whitejets (2010-2013)
A segunda operadora do A320 no Brasil foi a charter Whitejets Airways, fundada em 2010 como empresa charter e ligada à White Airways de Portugal. E foi por meio da associada portuguesa que a empresa recebeu o em 19 de novembro de 2010 o PR-WTB, o único A320 que operou.
A Whitejets operou o A320 em rotas para o Nordeste, América do Sul e Caribe, em complemento ao A310-300 que operava. Em 2013, o Whisky Tango Bravo voltou para Portugal como CS-TRO.

Avianca Brasil (2012-2019)
Recuperada após a reestruturação no final da década de 2000, a Avianca Brasil começou um período de expansão a partir de 2011, com a chegada dos primeiros A320, que faziam parte de uma encomenda da Avianca Colombia, empresa que cedeu a marca e tinha em comum o acionista Synergy Aerospace.
Os A320 da Avianca Brasil tinham a confortável configuração de 162 lugares em classe única, com todas poltronas com sistema de entretenimento individual, tornando a empresa referência em serviço de bordo na época. Em 2013, a empresa recebeu os primeiros A320 com sharklets e em 11 de novembro de 2016 os primeiros A320neo.

No total, a empresa operou com 27 A320 e 12 A320neo, mas o crescimento acelerado da empresa não teve o retorno financeiro como planejado e dificuldades da Synergy Aerospace acabaram por refletir na Avianca Brasil, que pediu recuperação judicial em 2018 e no ano seguinte encerraria suas operações. A frota de A320neo acabou indo para a Azul, assim como um A320, enquanto a LATAM recebeu diversos A320.
LATAM Airlines Brasil (2016-)
Sucessora da TAM, a LATAM Airlines Brasil recebeu em 2016 os A320 operados por sua antecessora. No mesmo ano, em 30 de agosto de 2016 foi a primeira operadora da América do Sul a receber o A320neo, o PT-TMN.
Em 13 de maio de 2019, a LATAM passou a operar com os A320 no aeroporto Santos Dumont, graças ao pacote LIP – Lift Improvement Package, para operar em pistas curtas. A aeronave que iniciou os voos foi o PT-MZW. Para a LATAM, um voo do A320 na Ponte Aérea, por exemplo, representa aumento de 20% na oferta de assentos em relação aos A319.

Hoje a LATAM Airlines Brasil é a maior operadora dos A320 na América Latina e uma das principais do mundo, com 79 unidades, sendo 24 da versão A320neo, além daquelas ligadas às unidades do grupo em toda a América Latina.
Azul (2016-)
A Azul encomendou em 1º de dezembro de 2014 35 A320neo, com 28 opções, em um passo decisivo no seu plano de crescimento.
O primeiro A320neo da empresa, PR-YRA batizado de Vida Azul, chegou no Brasil em 20 de outubro de 2016, fazendo a Azul a terceira operadora do A320neo no Brasil e a quarta em relação a família A320.
Os aviões começaram a serem empregados nas rotas mais longas e concorridas da empresa, como Campinas-Salvador, Campinas-Recife, Campinas-Porto Alegre e Campinas-Manaus. Logo depois, os aviões passaram a fazer ligações internacionais, começando por Belém-Fort Lauderdale, mas chegou a voar para Córdoba e Rosário saindo de Recife, aproveitando todo o seu potencial.

A empresa recebeu 12 A320neo após a falência a Avianca Brasil, que receberam as matrículas PR-YY*, além de dois A320: PR-AJB (ex-PR-ONW na Avianca Brasil) e PR-AJE(ex-G-OZBY na Monarch Airways), em caráter provisório. Foram os únicos A320 da versão antiga.
Hoje a Azul tem 51 A320neo, configurados com 174 assentos em classe única. Seguindo a tradição da empresa, muitos receberam propaganda e pinturas especiais, entre os quais uma parceria com a Disney que pintaram o Mickey Mouse (PR-YSH), Pato Donald (PR-YSI) e Pateta (PR-YSR), chamando atenção, principalmente do público infantil, nos aeroportos.

Itapemirim Transportes Aéreos (2021)
Criada com proposta de ser alternativa ao trio Azul, Gol e LATAM, a Itapemirim Transportes Aéreos (ITA) surgiu de forma nebulosa, com seus acionistas investindo os recursos em uma empresa de aviação enquanto o restante do grupo rodoviário estava em concordata.
Com diferenciais de bagagem gratuita e preços baixos, a ITA esperava capturar parte do público que viajava na concorrência. Em maio de 2021 recebeu sua primeira aeronave, PS-AAF, com as outras cinco chegando progressivamente.

A pouca quantidade de aeronaves, rotas definidas a toque de caixa, crise sanitária da COVID-19 e sem um business plan coerente fizeram que a ITA encerrasse suas operações em dezembro do mesmo ano, em plena alta temporada. Com planos ambiciosos, a empresa chegou a reservar 20 matrículas de aeronaves, sendo 17 do A320, mas operou apenas seis unidades.
Avion Express Brasil (2024-)
A mais nova companhia aérea brasileira, a Avion Express Brasil é subsidiária da Avia Solutions, que tem em seu portfólio as empresas AvionExpress, SmartLynx e SkyTrains, com foco nos serviços de ACMI – Aircraft, Crew, Maintanance and insurance.
Em 08 de novembro de 2024 recebeu a primeira aeronave, PR-MLD, com capacidade para 180 passageiros. Proveniente da Avion Express, o avião será usado para homologação da unidade brasileira. Um segundo A320 está encomendado, que receberá a matrícula PR-NVN. Segundo o presidente do grupo, Darius Kajokas, a intenção é que a empresa tenha 25 aeronaves até 2028.

No total, mais de 230 Airbus A320 operam ou operaram no Brasil, representando a principal aeronave em operação no país, que até décadas passadas era território de domínio da Boeing. Com a segunda geração A320neo, pode-se dizer que a operação do primeiro narrowbody da Airbus continuará no Brasil no país pelos próximos 25 anos.