Pé na areia em 25 minutos: Abaeté tem voo “relâmpago” de Salvador para Morro de São Paulo

Ligação da Abaeté Linhas Aéreas de Salvador para Morro de São Paulo é um deleite panorâmico e uma ótima alternativa às longas travessias de barco; trecho é operado com o turboélice Cessna Caravan
Voos da Abaeté são operados com o Cessna Caravan (Thiago Vinholes)

Um dos destinos turísticos mais procurados da Bahia, Morro de São Paulo não é longe. O problema é o caminho para chegar lá. Em linha reta, de Salvador até a vila histórica na Ilha de Tinharé são cerca de 70 km. A maioria escolhe ir de barco e a viagem dura entre duas e três horas. Isso com tempo bom. Dependendo do humor do mar, pode ser uma travessia nauseante que se estende além do programado.

Também é possível pra ir de carro ou ônibus por um trajeto demorado com travessias de balsa, mas em algum momento é necessário pegar um barco. Morro de São Paulo não tem acesso para automóveis. Mas dá pra chegar lá de avião.

A companhia baiana Abaeté Linhas Aéreas atende diariamente o Aeródromo Lorenzo (SNCL), o “aeroporto” de Morro de São Paulo, com voos partindo do Aeroporto Internacional de Salvador. O trecho é operado com o monomotor Cessna 208 Caravan.

Na baixa temporada, a Abaeté tem uma frequência por dia ligando Salvador a Morro de São Paulo. O voo experimentado pela reportagem estava marcado para decolar de Salvador às 13:00 e pousar às 13:25. Esse horário foi programado para coincidir com as escalas de entrada e saída dos hotéis e pousadas em Morro. Já durante a alta temporada, a empresa baiana tem até oito voos diários para o destino.

A convite da empresa, o Airway avaliou o voo.

Embarque em Salvador

Entre os diversos balcões de atendimento das companhias aéreas brasileiras tradicionais no aeroporto de Salvador, duas placas vermelhas chamam atenção com um nome diferente. São os guichês de atendimento da Abaeté Linhas Aéreas. A empresa baiana recebeu autorização da ANAC para operar voos comerciais em 2020 – antes disso, a Abaeté, fundada em 1995, era focada apenas no mercado de táxi aéreo.

Durante o atendimento, que segue exatamente os mesmos procedimentos de qualquer outra empresa aérea, um funcionário da Abaeté avisou: “em 25 minutos você já está com o pé na areia”.

Vista panorâmica de Salvador: voo de 25 minutos é realizado em baixa altitude comparado a aviões maiores (Thiago Vinholes)

Como o Cessna Caravan é muito pequeno para encaixar nas pontes de embarque e desembarque, os passageiros são levados de micro-ônibus do portão de embarque até a aeronave, que fica estacionada num ponto mais isolado do aeroporto de Salvador. E o voo foi quase “lotado”, com sete ocupantes. O Caravan da Abaeté leva até nove passageiros, que é a capacidade máxima certificada do modelo para voos comerciais no Brasil – em outros países, o C208 pode transportar até 14 ocupantes.

Por ser um avião pequeno, entrar na cabine do Caravan exige um pouco de contorcionismo, especialmente para quem é mais alto. Os assentos, na disposição 1+2, por outro lado, são confortáveis e o espaço para pernas é de dar inveja aos jatos. Mas uma hora ele liga o motor e o barulho quase ensurdecedor invade a cabine. Por isso é recomendável usar os tampões de ouvidos fornecidos pela empresa, disponíveis no kit de bordo. Também vale lembrar que o aeronave não possui toalete, nem comissários de bordo.

Voo panorâmico

Viajar em aviões pequenos é uma experiência completamente diferente. No Caravan, os passageiros vão acomodados bem atrás dos pilotos e podem acompanhar o trajeto com vista frontal, algo impossível em aeronaves comerciais maiores.

Era um dia um quente em Salvador e enquanto o avião está em solo o ar condicionado não dava conta de resfriar a cabine. Para aliviar o calor, os pilotos deixaram as portas dianteiras do avião entreabertas enquanto taxiavam até a pista principal.

Vista aérea de Morro de São Paulo: local não tem acesso para carros (Thiago Vinholes)

Depois de posicionar o Caravan na cabeceira, o piloto aciona os freios e avança a manete de potência do motor. A força de tração da hélice é tão forte que num certo momento o avião parece ser arrastado com as rodas travadas. É quando ele dispara e corre pela pista, decolando em poucos segundos.

A subida após a decolagem em Salvador foi rápida, embora com alguma turbulência, mas logo o Caravan encontrou céu limpo pela costa. A rota segue pelo sul da capital baiana, passando pela entrada da Baía de Todos os Santos e a Ilha de Itaparica, voando na faixa dos 5.000 pés (1.524 metros) de altitude. Na próxima ilha no horizonte, de Tinharé, já avistamos Morro de São Paulo. Isso tudo em apenas 20 minutos de voo.

O pouso do Caravan em Morro de São Paulo é um procedimento interessante. É uma pista curta, com apenas 700 metros de comprimento, e sem nenhum auxílio eletrônico. O único recurso no aeródromo é uma biruta. O avião desce num ângulo bastante inclinado e estabiliza rapidamente antes de tocar as rodas no asfalto e frear com vigor – por isso ele tem cintos de três pontos. No chão e em segurança, os pilotos voltam a abrir as portas enquanto manobram o avião.

Foi um voo tranquilo e sobretudo rápido. Um pulo de 25 minutos de Salvador para Morro de São Paulo com uma paisagem exuberante. Não tem nada radical, não dá tempo.

Retorno

Enquanto o embarque no voo da Abaeté em Salvador é como o de qualquer outra companhia aérea, em Morro de São Paulo a experiência é bem diferente. Uma pequena casa é o “terminal” do Aeródromo Lorenzo e não há controle de segurança por raio X. Todo trabalho no local (fazer o check-in dos passageiros, pesar malas, balizar e carregar/descarregar o avião) é feito por apenas um funcionário da empresa.

“Porteira de embarque”: a pista em Morro de São Paulo é operada com exclusividade pela Abaeté (Thiago Vinholes)

Pontual, o Caravan da Abaeté pousou em Morro em São Paulo às 13:25, deixando seis passageiros e embarcando outro sete no retorno para Salvador. Após carregar todas as bagagens, um dos pilotos avisa que o avião está pronto para decolar. E lá vamos nós para a cabine.

Diferentemente do voo de ida, que passou por uma breve turbulência depois da decolagem, no retorno de Morro de São Paulo o Cessna da Abaeté parecia voar apoiado em trilhos. Em nenhum momento o avião balançou no trecho para Salvador e a viagem durou em torno de 30 minutos.

Barco x avião

Os preços dos bilhetes para atravessar de Salvador até Morro de São Paulo de barco variam. Nos catamarãs, a opção marítima mais usada no trecho, a viagem é realizada em duas horas e as passagens custam cerca de R$ 200 por pessoa. Há opções mais em conta, mas em barcos menores e lentos.  E quanto mais tempo viajando no mar, menos tempo se aproveita na praia.

A Abaeté Linhas Aéreas conta seis Cessna Caravan da frota, além de outras aeronaves (Thiago Vinholes)

Quem escolhe ir de avião com a Abaeté, a única empresa aérea que atende a rota, paga entre R$ 500 e R$ 800 (com taxas de aeroportos incluídas) dependendo do dia. Não é um serviço barato, mas é de longe a melhor forma para chegar em Morro de São Paulo. É um preço que paga o luxo da comodidade de chegar a um destino inacessível em pouco minutos.

Já aos que, independentemente dos preços da passagem, pensam que o Caravan, por ser um avião pequeno, pode balançar durante o voo até Morro de São Paulo, é bom lembrar que os barcos balançam ainda mais no mesmo trecho e por mais tempo.

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