Preço de banana ou valor justo? Mexicana pagará US$ 750 milhões por 20 jatos Embraer E2
Governo do México revelou valor do acordo por 10 E190-E2 e 10 E195-E2 que serão adicionados à frota da companhia aérea estatal a partir de 2025. Desconto do preço de tabela pode ter atingido 53%

O governo do México forneceu um dado bastante raro no mercado de aeronaves comerciais, o valor real do acordo que a Mexicana de Aviación celebrou com a Embraer para adquirir 20 jatos E2, de nova geração.
Segundo Jorge Vega, que está à frente da divisão do governo que controla a companhia aérea estatal relançada em 2023, as 20 aeronaves custaram US$ 750 milhões, ou quase R$ 4 bilhões numa conversão direta.
Fram adquiridos 10 E190-E2 e 10 E195-E2, o que sugere um preço unitário de cerca de US$ 37,5 milhões. Como os dois aviões têm capacidades diferentes, pode se afirmar que a Mexicana pagará cerca de US$ 35 milhões pelo E190-E2 e US$ 40 milhões pelo E195-E2.
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Os valores significam um desconto de mais de 50% nos preços de tabela informados pela Embraer. A fabricante brasileira vez ou outra cita em seus comunicados de impresa um valor simbólico de alguns acordos, como ocorreu recentemente com a Royal Jordanian.

A empresa aérea de bandeira da Jordânia fechou um pedido de quatro E190-E2 e quatro E195-E2 em 2023, sendo que apenas dois deles foram adquiridos de fato – os demais serão arrendados pela Azorra dos quais dois já foram entregues.
O pacote foi avaliado pela Embraer em US$ 635 milhões em preços de tabela, ou US$ 79,4 milhões por aeronave em média (lembrando que ela também pagou um pouco mais pelos E195-E2, de maior capacidade).
Utilizando essa média no pedido da Mexicana, a Embraer teria fechado um acordo teórico de quase US$ 1,6 bilhão (R$ 8,5 bilhões) com a transportadora estatal.
Praxe do mercado é dar desconto de 50%
Se for esse o caso, o desconto final girou em torno de 53%. Uma pechincha ou um valor realista para uma aeronave nova e de última geração?
Difícil afirmar com absoluta certeza já que não é praxe entre fabricantes, companhias aéreas e arrendadores revelar detalhes de suas negociações.

Mas o entendimento geral no mercado é que os descontos giram em torno de 50%, embora cada negócio fechado tenha suas peculiaridades e o tamanho do pedido faça uma grande diferença no preço final.
O site AirInsight apontou em 2016 que um widebody A330-200 poderia ter um desconto médio de quase 63% enquanto os E-Jets de primeira geração da Embraer eram vendidos por preços em torno de dois terços dos valores de tabela.
Ryanair, a “rainha” dos descontos
No ano passado, o consultor Robert Boyle, da GridPoint, fez um interessante exercício para estimar quanto a companhia aérea de baixo custo Ryanair pagou por seus Boeing 737.
Segundo ele, um acordo de 2005 para jatos 737-800 teria custado cerca de US$ 27 milhões por aeronave, com um desconto teórico de 62% sobre o preço de tabela.

Em outra grande encomenda de 737-800 em 2013, a transportadora irlandesa teria conseguido um valor ainda melhor, de 65% menor que o preço de tabela.
Já na aquisição do 737 MAX 8-200 em 2022, a Ryanair pode ter pago US$ 38,8 milhões por aeronave, ou 69% menos do que os hipotéticos US$ 125 milhões informados pela Boeing.
Novo pedido impulsiona carteira da Embraer
Empresas como a Ryanair e arrendadores certamente conseguem descontos polpudos em virtude do volume de pedidos, o que não é o caso da Mexicana de Aviación.

Por outro lado, a Embraer está numa fase de vendas da nova família E2 em que é preciso preencher os slots de produção e assim amortizar os pesados investimentos na nova série de aeronaves comerciais.
Com o acordo com a empresa mexicana, a família E2 deverá atingir ao menos 326 pedidos firmes, um número importante mas muito distante ainda dos mais de 1.900 E-Jets de primeira geração encomendados.
Vendo por esse ângulo, os US$ 750 milhões a serem pagos pela Mexicana de Aviación parecem um bom negócio.