Os perigos ao se automedicar para dormir em longos voos

Muitos passageiros apelam para medicamentos pesados para superar o medo de voar ou dormir em longas viagens de avião, mas atitude não é recomendada por médicos
Alguns passageiros têm facilidade para dormir a bordo de aviões. Já que não tem apela para medicamentos perigosos (Foto - Lufthansa)
Alguns passageiros têm facilidade para dormir a bordo de aviões. Já que não tem apela para medicamentos perigosos (Lufthansa)
Alguns passageiros têm facilidade para dormir a bordo de aviões. Já que não tem apela para medicamentos perigosos (Foto - Lufthansa)
Alguns passageiros têm facilidade para dormir a bordo de aviões. Já que não tem apela para medicamentos perigosos (Foto – Lufthansa)

Uma longa viagem de avião pode ser um enorme desafio de paciência e ansiedade para indivíduos que não lidam muito bem com esses sentimentos. Um voo de São Paulo até Miami é relativamente curto: leva de nove a 10 horas. Para Londres ou Paris o tempo aumenta para cerca de 12 horas. Já aos que se arriscam ir até a Ásia têm de se preparar para duas sessões extremamente longas de enclausuramento que podem durar mais de 30 horas. Em alguns desses casos, passageiros apelam para automedicação, inclusive com remédios “tarja preta”.

Para dormir logo após a decolagem e acordar com os primeiros avisos sobre o pouso – ou até cutucados pelos comissários – passageiros utilizam medicamentos com efeitos sedativos fortes e que podem causar efeitos colaterais que vão muito além do sono. Alguns dos remédios mais procurados para aliviar a tensão durante o voo são o Rivotril, Diazepam, Frontal, Dormonid e o popular Dramin, cuja prescrição para dormir no avião é controversa, como explicou o Doutor Daniel de Sousa Filho, médico psiquiatra do Hospital Albert Einstein, em entrevista ao Airway.

“O dimenitrado (Dramin) é um anti-histamínico utilizado para tratar enjoos, tontura e vômitos em geral, incluindo as situações que ocorrem durante a gravidez e por movimentos durante viagens, seja de avião ou automóvel. Deve ser prescrito somente após avaliação médica”, conta Sousa. “Efeitos colaterais comumente associados ao uso deste medicamento são dores de cabeça, visão turva, tontura, boca seca e constipação intestinal, comprometendo a atenção e coordenação motora”, analisa o médico.

O remédio, porém, é prescrito com frequência para passageiros/pacientes saudáveis e também orientado para crianças com graves quadros de ansiedade. Em excesso, o Dramin pode causar sonolência intensa, arritmias cardíacas, confusão mental, alucinações visuais, convulsões, insuficiência respiratória e ate estado de coma.

O Dramin é o remédio mais receitado para quem quer dormir em longas viagens de avião
O Dramin é o remédio mais receitado para quem quer dormir em longas viagens

Portanto, como analisa o especialista do Albert Einstein, pessoas ainda sob efeito de Dramin após a viagem, com os sentidos comprometidos, não devem dirigir veículos ou operar máquinas. O medicamento, no entanto, pode ser comprado sem a necessidade de receita. Já drogas com maior poder de sedação, geralmente de uso psiquiátrico, são vendidas somente com prescrição, mas muitas pessoas conseguem ter acesso de forma inadequada.

“Mesmo as medicações homeopáticas, consideradas mais ‘leves’ pela população, têm suas indicações e contraindicações e devem ser prescritas por médicos especializados”, avisa Sousa.

Sono profundo

“Viajo com frequência para a China e Japão a trabalho e para me adaptar mais rápido ao fuso horário tomo alguns remédios durante a viagem para dormir”, conta Kenji M, que realiza essa viagem pelo menos uma vez por mês há dois anos em classe executiva e que pediu para não ser identificado na reportagem. “Tenho receitas para o Dormonid e o Rivotril. Quando acordo no final da viagem, demoro alguns segundos para entender que estou dentro de um avião prestes a pousar”, conta M, que revelou ter conseguido as receitas de forma legal após consultas com médicos.

“Os efeitos colaterais imediatos dos ‘benzodiazepínicos’ (como Rivotril e Dormonid) são deficit de atenção, fadiga, sonolência, confusão mental, tonturas, vertigem, depressão e parada respiratória”, conta o Dr. Sousa.

No longo prazo, para pessoas que tomam esses remédios com frequência sem acompanhamento médico, esses medicamentos podem causar dependência física, prejuízo da memória e sintomas de abstinência quando diminuída a dose ou retiradas da rotina do paciente.

Devido ao seu efeito sonífero comprovado, a caixa do Rivotril virou tema de almofada
Devido ao seu efeito sonífero comprovado, a caixa do Rivotril virou tema de almofada

“Tomo o remédio quando é servida a janta, e logo depois da refeição tudo apaga. Quando acordo fico um pouco tonto, mas logo passa quando tomo o café da manhã”, explica M. “Sem os remédios eu fico acordado durante os dois voos e adaptação ao fuso fica ainda mais complicada”, completa.

Todos os medicamentos têm uma dose máxima, quase sempre descrita nas bulas. “Cabe ao médico prescrever a dose indicada para o seu quadro, de acordo com sua idade, peso, presença ou não de outras patologias. Automedicar-se com doses muitos altas de qualquer medicação pode trazer como consequência quadros de intoxicação aguda, depressão, parada respiratória e até morte”, alerta o médico-psiquiatra do Albert Einstein.

Não há evidências se os efeitos desses medicamentos podem ser potencializados pela altitude, como acontece com o álcool.

Como dormir no avião?

Na maioria dos voos, fatores como barulho, iluminação excessiva, pouco conforto e inclinação reduzida dos assentos, bem como o próprio desconforto causado pela altitude, podem interferir negativamente no sono de algumas pessoas, que viram os “zumbis” do avião.

Aos que realmente têm problemas para dormir em aviões, o Dr. Sousa indica a psicoterapia. “São técnicas de respiração e relaxamento que podem ser indicadas para pessoas com quadros de ansiedade, fobias, transtornos de pânico, bem como outras situações associadas a insônia durante o voo”, indica o médico.

O sistema de entretenimento das cabines pode servir para trazer o sono e também é bom se agasalhar para a viagem na cabine, que costuma ser fria. Viagens de longa duração, como o voo para Abu Dhabi que pode levar até 15 horas, também é indicado levar um “kit de sobrevivência” com almofadas, máscaras para os olhos e creme para não ressecar os lábios, especialmente quem viaja na classe econômica.

“Recomenda-se uma leitura agradável durante o voo, ouvir música relaxante e preferir refeições leves antes e durante a viagem. Deve-se evitar café, refrigerante e bebidas alcoólicas ou energéticas”, sugere o especialista do Hospital Albert Einsten. Portanto, muita calma, nada de remédios e boa viagem.

Veja mais: Mitos e verdade sobre acidentes aéreos

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  1. Sempre viajei de avião, porém não gosto dessa maquina voadora…..Já cheguei a tomar 5 comprimidos de Dramin para viajar e nada me derrubava, hoje tomo Frontal 01mg, uns dois a três comprimidos já me derrubam….quando chego é um problema, não me lembro de nada, já cheguei em casa e nem sabia o que tinha acontecido, já passai pela imigração nos Estados Unidos e não lembrava o que tinha falado, nem quando e como peguei minhas malas…….acho chato isso, mas não viajo sem meu remédio tarja preta.

  2. Ok, talvez isso seja uma coisa pessoal minha e eu seja abençoada por não te-lo, mas eu nunca vou entender a ideia de se ter medo de avião. Avião é um dos meios de transporte mais seguros que existe (exatamente porque se você tiver só um defeitinho sequer as consequencias são trágicas demais pra deixarem passar durante as inspeções de segurança) e a experiência e a sensação de voar dentro de um avião é tranquila demais e não justifica nenhum temor que um passageiro possa ter se comparada com a de outros meios de transporte como navios e trens.

  3. Como médico e viajante, acho que há um pouco de alarmismo na reportagem. Parada respiratória com remédios faixa preta? muito difícil, mesmo tomando uma caixa inteira… Depressão? com uma viagem? exagero… Não estou dizendo que é para tomar remédio sem controle, mas tomar algum tranqulizante ocasionalmente SABENDO DAS LIITAÇÕES DE COORDENAÇÃO E MEMÓRIA NOS MOMENTOS APOS DESPERTAR não é um deusnosacuda…

  4. Tomei Dormonid prescrevido pelos médicos por um tempo. Ele é um anestésico usado em operações cirúrgicas. Não vale o risco tomar. Aviões são muito seguros e não há necessidade de remédios, a não ser para quem tem labirintite; e analgésicos ou antiácidos. O jeito é sempre conseguir uma Companhia que tenha uma classe com cadeiras reclináveis e curtir as distrações que o avião oferece. Não é conveniente nem necessário de sentir medo de avião. Até porque, se cair, ninguém vai sentir nada.

  5. Ja viajei de avião varias vezes a trabalho e quando em viagem longa tomava clonazepan para relaxar e dormir. Não por medo, mas para não sentir o desconforto da poltrona do avião, assim como para dormir a maior parte da viagem e a mesma se tornar menos monotona. NUnca senti nada diferente durante e apos o voo alem do sono.

  6. Melhor coisa para voos de 10 horas, antes de embarcar tomar um Chopp, ou dois! É uma beleza, dorme de qualquer jeito. Fiz isso de New York pra SP.

  7. Quem tem medo de voar sofre e o que não faz sentido é alguém dizer que não faz sentido ter medo. Eu acho sim que, se for avaliado por um médico, não há problema algum de tomar algum medicamento para ajudar pois eu ainda quero conhecer vários lugares!!!

  8. Engraçado falar sobre o medo de avião , altura , as pessoas que não tem medo disso não entendem a situação , por exemplo eu não tenho medo de ladrão , não tenho medo de bandido , não tenho medo de nada , mas esse tal de avião não tem como andar mais , antigamente eu até conseguia , hoje não , e perdi oportunidade de conhecer uns 20 países , conheço 8 com o Brasil , agora vou fazer uma viagem pequena de 1 hora tomando o rivotril , depois vou fazer uma viagem maior tomando o dormonid , talvez seja o único jeito , a ansiedade me consome .

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