O cenário é melhor do que o mais otimista executivo da Embraer possa ter imaginado. Nesta segunda-feira, 25, a fabricante de aviões brasileira já havia atingido uma valorização de mais de 50% em 2024 tanto na Bolsa de Valores de Nova York quanto de São Paulo.
Ela já é a empresa de capital aberto no país que mais ganhou valor neste ano e parece que o céu é o limite. Mas por que a Embraer de repente virou a queridinha de investidores e analistas?
Certamente a percepção de que a empresa tem bons fundamentos financeiros é uma delas. Desde o fim da joint venture com a Boeing há quatro anos, a direção da empresa teve que empregar um amplo programa de redução de custos e otimização para recuperar o tempo perdido com a parceria frustrada.
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Os resultados desse trabalho têm sido vistos nos dados trimestrais, cada vez mais sólidos, mas só isso não explica o frenesi atual.
Negócio diversificado
Em termos de negócios, a Embraer tem conseguido conquistar mais pedidos e acordos, mas nada espetacular. A aviação executiva vai bem, a divisão de serviços e suporte continua ganhando espaço na receita, mas elas representam 40% das receitas em dólares.
Já a divisão de Defesa e Segurança finalmente começa a colher os frutos do programa C-390 Millennium, com mais clientes selecionando a aeronave rival do C-130 Hercules. Mas ela representa o menor dos segmentos onde a Embraer atua.
![O primeiro C-390 da Hungria em voo](https://www.airway.com.br/wp-content/uploads/2024/02/c-390-hungria-voo-1-960x640.jpg)
Sobra então a aviação comercial, desde muito tempo o principal foco da Embraer. Em 2023, a divisão acumulou US$ 8,8 bilhões em pedidos, ou quase metade dos negócios da empresa.
A quantidade de aviões pendentes de entrega era de 388 unidades até dezembro, maior nível desde o segundo trimestre de 2018.
E as encomendas vão ter um grande impulso com os 90 pedidos firmes de jatos E175 pela American Airlines, colocando a Embraer num patamar que há muito ela não atingia.
![Jato E175 da American Airlines](https://www.airway.com.br/wp-content/uploads/2024/03/AMERICAN-1-1200x800.jpg)
Aproveitando da crise da Boeing
São dados animadores mas que não parecem suficientes para tanto otimismo. No entanto, há outros fatores em jogo, sobretudo os problemas pelos quais passa a Boeing, ironicamente a empresa que fez a Embraer ter de repensar sua estratégia de negócios.
A gigante aeroespacial dos EUA passa pela maior crise de sua longa história e que já se arrasta há vários anos. O último capítulo da novela foi a saída anunciada do CEO Dave Calhoun, seguido por outras duas mudanças importantes de executivos.
Desde que o 737, sua máquina de fazer dinheiro, começou a perder terreno para o Airbus A320, a Boeing tenta encontrar atalhos para competir com o jato europeu, mas eles têm se mostrado na prática grandes armadilhas em seu caminho.
Em vez de investir em um projeto novo e moderno, a Boeing tem preferido soluções paliativas e pressão sobre seus fornecedores para fazer o 737 permanecer no mercado. O resultado disso, como se vê, é um produto com inúmeros problemas.
![Localo onde ficava o tampão de porta do 737 MAX 9 da Alaska](https://www.airway.com.br/wp-content/uploads/2024/01/737-9-n704al-1-960x640.jpg)
A constatação de vários analistas é que a Boeing passará por um longo processo de restruturação até identificar o que está errado na empresa.
Isso fará com que as entregas de jatos comerciais atrasem, sobrecarregando também a Airbus, que tem suas próprias dificuldades como o desabastecimento na cadeia de suprimentos.
Para bancos de investimento como o Morgan Stanley, a Embraer é a bola da vez no mercado aeroespacial dado que ela teria disponibilidade para atender parte da demanda que Boeing e Airbus não conseguem.
De fato, o acordo de até 133 jatos E175 fechado com a American Airlines ratifica a opinião. A empresa aérea dos EUA precisa renovar sua frota de corredor único e não bastou encomendar mais A321neo e 737 MAX.
Família E2
O que se espera é que outras companhias aéreas sigam o caminho da American e procurem a Embraer para ter aeronaves mais eficientes e baratas de operar.
É nesse momento que a família E2, até aqui quase ignorada pelas grandes transportadoras, pode virar o jogo.
![Um dos 30 E195-E2 da Porter Airlines](https://www.airway.com.br/wp-content/uploads/2024/03/e195-e2-porter-fed-1200x800.jpg)
O maior dos jatos, o E195-E2, possui uma capacidade de passageiros bastante elevada, de até 146 assentos, embora seja comum vê-lo configurado com 132 a 136 lugares.
Com bom alcance e consumo de combustível baixo, a aeronave tem mostrado suas virtudes com a Porter Airlines, empresa aérea canadense que oferece tarifas mais baixas, mas serviço caprichado.
A Porter tem 75 pedidos firmes do E2, tendo recebido 30 aeronaves em pouco mais de um ano. Uma prova que a Embraer tem condições de suprir seus potenciais clientes enquanto a Boeing, outrora interessada em seus aviões comerciais, pena para conseguir.
Mas será que a Embraer tem condições, neste momento, em elevar a produção sem correr o risco de ter problemas na cadeia de suprimentos? Somente seus executivos tem a resposta.
Não estaria na hora de pensar em um novo avião, maior, a médio prazo? Não um concorrente direto dos 737 e 320, mas num inédito e inovador 2+2+2, com 2 corredores, sem o banco do meio, que é um sucesso da Embraer? Seria um verdadeiro “pulo-do-gato”!