Brasil não seria páreo para enfrentar um único porta-aviões dos EUA

Em mais uma declaração infeliz, presidente Jair Bolsonaro sugeriu usar “pólvora” como instrumento diplomático contra os EUA

Porta-aviões da classe Nimitz
(US Navy)
Porta-aviões da classe Nimitz
Um porta-aviões da classe Nimitz pode transportar até 90 aeronaves, incluindo mais de 30 caças (US Navy)

“Assistimos há pouco aí um grande candidato a chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá. Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão, não funciona. Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo. Ninguém tem o que nós temos”, declarou o presidente Jair Bolsonaro em evento no Planalto nessa terça-feira (11).

O comentário infeliz em tom belicoso de Bolsonaro foi direcionado a Joe Biden, novo presidente eleito nos EUA e que durante sua campanha prometeu “reunir o mundo” para forçar o governo brasileiro a interferir nos incêndios que assolam a floresta amazônica e Pantanal neste ano caótico.

Claramente incomodado com a derrota do “amigo” Donald Trump, Bolsonaro disparou o que pode ser considerado até o momento a maior de suas bravatas. Essa foi a primeira vez que um presidente brasileiro fez uma declaração com esse teor contra os EUA ou qualquer outro país desde a Segunda Guerra Mundial. É algo gravíssimo e sem precedentes na história contemporânea.

Bolsonaro, que administra o país aos trancos e barrancos, usa os militares brasileiros como instrumento político pessoal. É exatamente o mesmo modus operandi do ditador Nicolás Maduro da Venezuela ou de Kim Jong-un, “líder supremo” da Coreia do Norte. Só não enxerga quem não quer.

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Como se não bastasse a declaração desproporcional, Bolsonaro transformou as forças armadas brasileiras em motivo de chacota nas redes sociais, que foram inundadas por “memes” humilhantes, sobretudo contra o nosso honroso Exército Brasileiro, que no passado lutou ao lado dos Aliados contra a Alemanha nazista para preservar a paz e a democracia.

Bolsonaro tem razão ao dizer que a “pólvora” tem o poder de persuasão diplomática. No entanto, ele se esqueceu de olhar para o próprio umbigo. As forças armadas brasileiras não são pensadas ou equipadas para projetar poder bélico. Por aqui, a marinha, exército e força aérea servem basicamente como instrumentos de defesa da soberania nacional e fiscalização de fronteiras, além de prestar um importante apoio em variadas ações sociais e missões de paz ao redor do mundo.

Na outra ponta, as forças armadas dos EUA são configuradas para projetar poder muito além de seu território e áreas de influência. Não por acaso, a marinha dos EUA tem a disposição nada menos que 11 porta-aviões de propulsão nuclear, cada um deles com uma frota de aeronaves de ataque capazes de colocar grandes exércitos de joelhos e devastar a infraestrutura de um país inteiro. Nem a frota completa de 36 caças Gripen da FAB seria capaz de impedir um ataque desse porte.

SAAB F-39E Gripen - Força Aérea Brasileira
O Gripen E é um caça avançado, mas não o suficiente para atacar um porta-aviões dos EUA (FAB)

O “barril de pólvora” dos americano ainda é complementado por bombardeiros furtivos de longo alcance, mais de 2 mil caças, submarinos e navios com mísseis de cruzeiro e, claro, um imenso arsenal de armas nucleares.

Na eventualidade de uma guerra, os EUA poderiam liquidar com os meios de defesa do Brasil em questão de dias. Não temos mísseis de cruzeiro, faltam aviões de ataque modernos e embarcações capazes de repelir o avanço de um porta-aviões da marinha norte-americana e sua escolta.

Obviamente, isso não passa de uma sandice, tal como foi a nova declaração de Jair Bolsonaro, um presidente que se alimenta de devaneios.

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