Cada vez mais raro, Airbus A340 ainda resiste em pequenos centros da aviação
Em despedida das grandes companhias aéreas da Europa, primeiro quadrimotor da Airbus segue ativo com companhias desconhecidas


Tão importante e hoje quase esquecido. O A340, o primeiro jato comercial quadrimotor da Airbus, está virando uma ave rara. Representante de um segmento da aviação comercial cada vez mais fora de uso, o jato europeu ficou ainda mais apagado com a baixa de demanda de voos durante a pandemia do novo coronavírus.
Os números sobre quantas unidades permanecem em serviço podem variar. Até maio, a Airbus informou que existem 228 modelos A340 “em frota”. São unidades ativas e estocadas, que até certo ponto, ainda recebem assistência e são monitoradas pela fabricante. Nos registros do site Planespotters, 64 jatos estão listados como “ativos” em frotas de 23 empresas aéreas e 11 governos.
Os A340 foram muito utilizados no início da pandemia em voos de repatriação de estrangeiros na China, onde começou a disseminação do vírus da COVID-19. O longo alcance da aeronave – até 16.670 com o A340-500 – permitiu voar sem escalas (ou com poucas paradas) de diferentes partes do mundo até o foco do surto e retornar rapidamente. Com a emergência controlada em países da Ásia e Europa, esses fretamentos diminuíram. Em outra ponta, jatos com interior adaptado também foram escalados para voos de carga e atender a alta demanda de transporte aéreo de suprimento médicos durante a pandemia.
Fora dos grandes centros, jatos A340 solitários vêm operando com baixa frequência, mas mantendo o perfil de voos longos característico do quadrimotor europeu. Na Venezuela, a Conviasa opera um A340-200 da primeira “fornada” produzida pela Airbus, com 27 anos de uso. No Irã, duas empresas empresas, Iran Aseman e Mahan Airlines, voam outros seis aparelhos veteranos, os mais antigos do mundo, com voos quase diários para destinos no leste europeu, Ásia e Oriente Médio.

Berço do A340, o mercado europeu hoje tem poucos aparelhos em serviço. Antes o maior operador da aeronave, com mais de 20 exemplares, a Lufthansa agora tem apenas três aparelhos voando. A Iberia, outros importante cliente do quadrimotor, possui apenas um modelo disponível e logo deve desativá-lo. Outras empresas da velho continente, Air Belgium e Swiss têm cada uma quatro modelos ativos em rotas internacionais, incluindo destinos na América do Sul (no Equador, Peru e Suriname em voos da Air Belgium).
No Brasil, o quadrimotor da Airbus é agora é visto em raras oportunidades. Recentemente, um modelo A340-300 da Kam Air, do Afeganistão, passou pelos aeroportos de Cabo Frio (RJ) e Viracopos/Campinas (SP) trazendo suprimentos médicos para o combate ao coronavírus. No passado, dois modelos A340-500 tiveram uma passagem breve pela TAM, único cliente da aeronave no Brasil. As aeronaves foram usadas pela empresa entre 2007 e 2011.
O primeiro “Jumbo” da Airbus
A década de 1990 foi um período decisivo na história da Airbus. O grupo europeu começava a colher os rendimentos do A320, introduzido em voos comerciais em 1988 e que rapidamente se tornou um dos aviões mais pedidos pelas companhias aéreas e entrando na disputa contra o Boeing 737
Enquanto marcava território na categoria dos narrowbodies (jatos de um corredor), a fabricante europeia propôs uma alternativa ao Boeing 747. No início dos anos 1990, o preço mais baixo dos combustíveis ainda justificava a operação de widebodies (dois corredores) quadrimotores de longo alcance e grande capacidade e o modelo americano era a única opção.

A primeira resposta dos europeus – depois viria o A380 – para tomar pedidos do clássico Jumbo foi o A340. O modelo quadrimotor começou a ser projetado pela Airbus em 1987 e quatro anos depois o avião já estava pronto para voar. O primeiro a decolar foi o A340-200, em 25 de novembro de 1991 e certificado em 1993.
O projeto ainda teve as versões A340-300 (lançado em 1993), A340-500 (2002) e o A340-600 (2006), um dos maiores aviões do mundo com mais de 75 metros de comprimento. Deve-se lembrar também que o programa de widebodies da Airbus deu origem ao bimotor A330, disponível a partir de 1994.
O A340 foi bem recebido pelas companhias e a Airbus logo garantiu importantes encomendas de grande empresas da Europa. O avião até certo ponto comparável ao 747, com capacidade de passageiros que pode variar de 260 e 380 passageiros em layouts com três classes – ou máximo de até 440 passageiros. Ao mesmo tempo, corria o projeto do A380, que decolou em 2005.
A categoria dos quadrimotores parecia promissora e os europeus alimentavam a esperança de oferecer os substitutos definitivos para os antigos Boeing 747. As coisas andavam bem até 2008, quando estourou a crise econômica mundial e os preços dos combustíveis dispararam. Mesmo com as reduções nos valores realizadas desde então, criou-se um novo patamar que inviável para a operação a aeronave com quatro motores. Como alternativa, o bimotores evoluíram e estão assumindo a vaga do velho Jumbo e os quadrimotores da Airbus, aviões ainda considerados novos.
A Airbus produziu a série A340 entre 1991 e 2011 e entregou 380 aeronaves, um volume baixo comparado aos mais de 1.500 jatos 747 produzidos pela Boeing desde 1968. A seu favor, o quadrimotor europeu nunca registrou um acidente fatal.
Baixo potencial no ramo de carga
Projetado especificamente para o transporte de passageiros, o A340 é um avião pouco indicado para ser convertido em cargueiro, mesmo na versão “gigante” -600. Existem projetos de modificar o jato, como as propostas da Lcf Conversions, de Malta, e Bedek Aviation, de Israel, mas nenhum aparelho foi convertido. Na configuração “Freighter”, a aeronave teria capacidade para transportar até 90 toneladas de carga. É pouco para um quadrimotor: o 747-8F cargueiro leva quase 140 toneladas. Portanto, o modelo europeu dificilmente deve ganhar sobrevida no mercado de cargas.

Passada a pandemia do coronavírus, a retomada dos A340 estocados que resistirem a crise vai depender do “novo normal” da aviação comercial, o que pode reduzir ainda mais o espaço dos dispendiosos quadrimotores. O primeiro avião comercial da Airbus com quatro motores ainda tem fôlego para continuar voando por mais 20 ou 30 anos – os últimos aparelhos foram entregues em 2012, mas são caros de manter.
Cada vez mais raros nos aeroportos, o A340 foi um projeto importante para a Airbus e abriu o caminho para o programa A380. Não fossem as mudanças bruscas na economia nos últimos anos, os jatos europeus poderiam ter assumido maior protagonismo no mercado. Por outro lado, a obsolescência dos quadrirreatores forçou a indústria a criar uma nova geração de bimotores mais eficientes de longo alcance e com maior capacidade. Perdemos os clássicos, mas ganhamos em eficiência.
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