Embraer prevê mais entregas de jatos E2 do que E1 em 2023

A crise global da cadeia de suprimentos e a escassez de pilotos nos EUA permanecem como os principais desafios que limitam o crescimento do número de entregas
Em 2023, o E2 deve responder por 60% das entregas, enquanto o E1 ficará com 40%, prevê a Embraer (Divulgação)

A Embraer está prestes a iniciar um novo ciclo de crescimento em 2023. Após se recuperar dos impactos decorrentes da pandemia e do fim do acordo com a Boeing, a companhia fechou o ano de 2022 com uma carteira de pedidos firmes (backlog) estimada em US$ 17,5 bilhões. “O backlog de vendas voltou ao patamar pré-pandemia”, afirmou o CEO Francisco Gomes Neto, durante teleconferência realizada na sexta-feira (10).

Pela primeira vez, a fabricante brasileira espera entregar mais jatos E2 do que E1. Em 2023, o E2 deve responder por 60% das entregas, enquanto o E1 ficará com 40%. No último ano, a proporção registrada foi de 67% para E1 e 33% para o E2. Dos 291 pedidos firmes a serem entregues, 201 são de E2 (194 do E195-E2 e 7 do E190-E2) e apenas 90 do E175. No final de 2022, as autoridades civis da China e do Canadá certificaram jatos da família E2.

A meta da Embraer é entregar de 65 a 70 jatos comerciais em 2023. Segundo o Gomes Neto, os slots de produção dos jatos a serem entregues no biênio 2023-24 estão quase todos ocupados. Mas a crise da cadeia de suprimentos permanece como o principal fator que limita a expansão da capacidade de entrega das encomendas. “Poderíamos entregar muito mais do que 70 aeronaves, mas existem limitações que nos impedem”, disse.

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Atualmente, as entregas do E1 e do E2 estão sendo afetadas pela escassez de pilotos nos Estados Unidos e o atraso no fornecimento de motores, respectivamente. No ano passado, a companhia entregou 57 jatos – três a menos do que a previsão mais pessimista (60). Alguns aviões estavam prestes a serem entregues, mas dificuldades logísticas de inspeção atrasaram o cronograma.

Apesar disso, a Embraer vislumbra um momento favorável para a aviação comercial diante do reaquecimento da demanda global. “Cumprimos o que foi prometido. O turn around foi concluído em 2022. Estamos preparados para iniciar uma nova fase de crescimento. A perspectiva é muito boa para os próximos anos”, garantiu o CEO.

Embraer E175 da Envoy Airlines
A Embraer ainda tem 90 pedidos pelo E175 de primeira geração (Envoy)

Recuperação levanta voo

Procurado pelo AIRWAY, Marcos José Barbieri Ferreira, economista da Unicamp e especialista em indústria aeroespacial, avalia que o crescimento do número de entregas e de pedidos firmes pela Embraer é um ótimo sinal, principalmente após a turbulência que a pandemia causou no complexo mundial de aviação.

De acordo com a sua análise, o processo de recuperação da Embraer deveria ter ocorrido de forma mais gradual ao longo de 2022, mas o arranque da companhia no último trimestre demonstra que o mercado está retomando as encomendas. Ele ressalva, no entanto, que a indústria de aviação ainda enfrentará desafios estruturais em 2023.

“A pandemia desorganizou as cadeias produtivas e provocou um apagão da mão de obra. Faltam pilotos, comissários, pessoal de infraestrutura aeroportuária… Não dá pra recuperar imediatamente. Não é um gargalo da Embraer, mas da indústria mundial. As companhias aéreas sentiram muito mais a crise do que as fabricantes”, disse.

Com destino incerto, introdução do E175-E2 depende da mudança das regras da aviação regional dos EUA (Embraer)

Como exemplo, ele cita a falta de pilotos nos EUA, que ocorre em função da cláusula de escopo (Scope Clause) – parte do contrato de trabalho atual entre pilotos e grandes companhias aéreas, que limita o número e o tamanho das aeronaves que podem ser pilotadas pelas afiliadas regionais das empresas aéreas naquele país.

“O E-175 é muito vendido lá por causa desta cláusula. Muitas companhias não compram os jatos da família E2 por causa dessa regulação, que aumenta o custo da operação da aeronave. Por isso, a falta de mão de obra afeta o E1”, explicou.

Sobre a virada previsível dos jatos da família E2 em relação ao E1, Barbieri acredita se tratar de algo previsível. “As aeronaves E2 são muito mais modernas, eficientes e econômicas. É um modelo de avião com asas, turbinas, sistemas aviônicos, trens de pouso e materiais novos. Então, elas vão substituir cada vez mais o E1. Se não fosse a pandemia, talvez já tivesse suplantado a versão anterior”, concluiu.

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