Faz sentido colocar um A380 em uma rota de apenas 340 km?

Emirates estreou nesta semana a ligação entre Dubai e Mascate, com dois voos diários de apenas 40 minutos com o maior avião do mundo
O A380 é recebido com o tradicional jato de água em Mascate: tanta coisa para fazer em tão pouco tempo (Emirates)
O A380 é recebido com o tradicional jato de água em Mascate: tanta coisa para fazer em tão pouco tempo (Emirates)

Se dependesse da vontade de 99,9% das companhias aéreas do mundo, uma rota entre duas cidades separadas por apenas 340 km seria realizada com jatos de pequeno porte ou até mesmo turbo-hélices, dependendo da demanda. Mas para a Emirates Airline voar entre Dubai e Mascate (capital do Omã) justifica o uso do Airbus A380, o maior avião de passageiros do mundo.

Como anunciado recentemente, a companhia aérea do Oriente Médio estreou nesta semana nada menos que dois voos diários com o quadrirreator entre as duas cidades. As frequências são as mais curtas já atendidas pelo gigante da Airbus e para qual em tese não foi desenhado.

Colocar widebodies em voos de curto alcance, no entanto, não é algo anormal. As companhias aéreas japonesas, por exemplo, utilizaram o Boeing 747 na versão SR (de Short Range ou curto alcance) para voar em rotas domésticas. O Jumbo era configurado para levar 528 passageiros na ANA (All Nippon Airways) com 20 assentos na primeira classe e 508 na econômica.

Mas no caso da Emirates, o A380 não foi adaptado para essa nova função. Pelo contrário, a companhia aérea até se vangloria de oferecer uma cabine com 519 assentos distribuídos por três classes, incluindo 429 lugares na econômica, instalada no piso inferior, 76 assentos na classe executiva e, pasmem, 14 “suítes privativas”, ambos no deck superior da aeronave.

“Os passageiros que viajam nas três classes terão ao seu dispor o premiado sistema de entretenimento a bordo, o ice, que oferece mais de 1.500 filmes de todos os gêneros. Para assistir ao catálogo completo de filmes do ice, os passageiros teriam que voar mais de 3 mil vezes entre Dubai e Mascate no A380 da Emirates”, explica a companhia em seu comunicado.

Boeing 747SR da ANA: versão levava 528 passageiros em voos curtos no Japão (Yonezawa-Shi)

Fiação mais longa que a própria rota

A grande pergunta que o voo mais curto do A380 desperta é: vale a pena dispor de uma aeronave tão otimizada para voos de longa distância em um trecho cujo tempo de voo é de cerca de 40 minutos? O bom senso garante que não, afinal como usufruir das benesses da famosa cabine de primeira classe ou do serviço de bordo em poucos minutos?

A jogada da Emirates só tem uma explicação, puro marketing. Hoje a rota Dubai-Mascate é realizada em sua maioria com aviões menores como o Boeing 737, o A320 e mesmo o Embraer E175. Mas a principal companhia aérea do país vizinho dos Emirados Árabes Unidos, a Oman Air, também escala às vezes seus A330 e Boeing 787 – assim como a própria Emirates utiliza o Boeing 777.

Diante dessa oferta certamente os passageiros que se deslocam no trecho ficarão tentados a optar pelo Airbus de dois andares, mas seria mais eficiente ter aviões menores e bimotores para cumprir a rota, oferecendo mais horários e com tarifas mais atraentes.

Mas se fizesse isso, a Emirates perderia a chance de revelar curiosidades como o fato de a distância de voo ser mais curta do que toda a fiação interna do A380, de cerca de 500 km de comprimento. Ou que oferece 25 mil itens disponíveis para os clientes a bordo, entre refeições e comodidades.

O jeito é tentar aproveitar cada minuto a bordo do A380, mesmo que quase metade desse tempo seja passada ainda no solo.

A tripulação de um dos voos entre Dubai e Mascate posa com a hashtag: jogada de marketing (Emirates)

Veja também: British Airways quer ampliar usa frota de A380 com aviões usados

 

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  1. Pode ate ser jogada de marketing. Mas a demanda de passageiros nessa rota é altíssima. Então creio que não terá prejuízos para esses voos!diego

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