Já pensou em ganhar um Boeing 787 numa rifa por apenas R$ 110?

Presidente do México, Andres Manuel López Obrador, quer oferecer o avião presidencial do país por meio de financiamento coletivo
O Boeing 787 presidencial do México: rifa para tentar se livrar do avião (Governo do México)
O “TP-01”, Boeing 787 presidencial do México: rifa para tentar se livrar do avião (Governo do México)

Já imaginou pagar pouco mais de R$ 110 por um Boeing 787 VIP e ainda voar de graça com ele por um ano? Parece piada, mas é o que o presidente do México, Andres Manuel López Obrador, pretende fazer com a luxuosa aeronave adquirida pelo seu antecessor Enrique Pena Nieto.

Encomendado em 2012 e entregue em 2014, o jato Dreamliner substituiu um Boeing 757 presidencial utilizado por quase duas décadas, mas seu custo elevado foi considerado superflúo pelo novo mandatário, que assumiu o governo mexicano no final de 2018 e tem pregado a austeridade como diferencial de seu mandato.

Desde então, Obrador tenta vender o jato, que ficou meses em um hangar na Califórnia já que o atual presidente passou a utilizar aviões de carreira em seus deslocamentos. No entanto, até agora não houve interessados pelo 787 VIP.

Agora, o presidente mexicano admitiu que pode lançar uma espécie de loteria para tentar recuperar parte do investimento. A ideia aventada por López Obrador é oferecer seis milhões de bilhetes de rifa ao preço de 500 pesos mexicanos (pouco mais de R$ 110), o que geraria um caixa de US$ 160 milhões (R$ 667 milhões) caso todos eles fossem vendidos.

O governo mexicano admite incluir na rifa até mesmo a operação do jato por um ano sem custos caso o vencedor não tenha dinheiro para voar com ele. A ideia obviamente virou motivo de memes e piadas na internet, com gente tentando imaginar onde estacionar um avião com mais de 60 metros de comprimento e que tipo de “programa” fazer com ele como ir a festas, e mesmo com qual cores pintá-lo.

O antecessor de López Obrador resolveu substituir um Boeing 757 pelo Dreamliner (Governo do México)

Curiosamente, o 787 é um dos jatos mais eficientes da atualidade e deveria ser uma venda fácil para alguma empresa de arrendamento. No entanto, não se sabe se o preço pedido pelo governo mexicano é alto demais ou se a conversão da aeronave pode sair muito cara. Para fazer a função de avião presidencial, o 787-8 mexicano é configurado para transportar 80 pessoas em vez de 300, e possui mimos como uma suíte completa com banheiro privativo.

Sucatão ou Aerolula?

A inusitada situação mexicana lembra, é claro, a polêmica dos aviões presidenciais brasileiros. Desde que Getúlio Vargas passou a utilizar um bimotor Lodestar na década de 1940 o tema é recorrente da Aeronáutica. Juscelino Kubitschek, que não parava em seu gabinete, adquiriu dois quadrimotores britânicos Vickers Viscount na década de 1950, mas o general Artur da Costa e Silva preferiu introduzir os jatos no transporte presidencial ao optar pelos também ingleses BAC One-Eleven.

Na década de 70, Ernesto Geisel encomendou dois Boeing 737-200, batizados de VC-96, e que foram usados por muitos anos. Mas como não tinham alcance intercontinental, o governo Sarney buscou uma solução barata e problemática, transformar velhos Boeing 707 da Varig em aviões VIP, que mais adiante ganharam o injusto apelido de “Sucatão”. Os 737, bem mais novos e conservados, coitados, acabaram sofrendo com a fama alheia ao serem chamados de “sucatinhas”.

Projeção do Air Force One baseado no 747-8: Trump vai gastar uma fortuna no novo avião presidencial (Boeing)

No governo FHC, diante da precariedade dos jatos presidenciais, a opção escolhida foi arrendar aviões A330-200 da TAM por meio de licitação, mas seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, preferiu encomendar um jato executivo novo, o A319CJ, versão VIP do A319, da Airbus. Com o apelido “Aerolula”, o Airbus custou quase US$ 50 milhões em valores de 2005, quando o jato começou a operar.

Aviões presidenciais seguem sendo um tema polêmico afinal custam caro e denotam uma certa despreocupação com recursos públicos. Veja o caso de Donald Trump que pretende pagar bilhões de dólares por dois 747 que serão transformados nos novos Air Force One. Mas se para os Estados Unidos isso é algo ainda admissível, para países como o México e o Brasil, parece que não . O jeito é buscar uma forma de recuperar o investimento, quem sabe até mesmo alugar o avião por hora, como López Obrador admitiu, num sinal claro de desespero para se livrar do jato. Será que ele aceita um A319 usado na troca?

O avião presidencial do Brasil é um CJ319 (FAB)
O Airbus A319CJ comprado pelo Brasil e apelidado na época de “Aerolula” (FAB)

Veja também: Boeing 747 ainda faz sucesso como avião de chefes de estado e monarcas

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  1. Dizer que o Air Force One é um desperdício, é não entender as necessidades estratégicas da América. Voces já imaginaram um presidente americano voando em aviões de carreira ou algo parecido sem poder usar o imenso poder de inteligência e ação militar num momento de crise? O AF1 não se destaca pelas torneiras de ouro ou pelo banheiro privativo. O que é importante e a capacidade de voar com o presidente e toda sua equipe podendo comandar o pais do ar, em períodos de mais de 24 horas graças ao reabastecimento aéreo e sua tecnologia incorporada. Isto tudo não sai de graça, não se trata de um B-747 na veresão executiva; é uma aeronave militar com muitas mais capacidades do que um avião comercial. É claro que ao meu ver, o México não tem esta importancia no contexto internacional, mas mesmo assim seu presidente deveria ter a capacidade de se deslocar sem necessitar usar as companhias comerciais. Talvez o importante seja a configuração e não o fato de haver um ou mais aviões dedicados.
    O mesmo vale ainda, que em muito menor escala que a americana, para paises de dimensões continentais ou que tenham uma importância grande no contexto das nações.

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