Bristol Brabazon, o gigante certo para o momento errado

Fascinante no tamanho, mas um completo fracasso comercial; Brabazon é até hoje o maior avião já desenvolvido pelo ingleses
(Aerospace Bristol)
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(Aerospace Bristol)

A história do maior avião britânico que o mundo conheceu começa em 1909. Em realidade, ali se daria o primeiro de um longo passo até se chegar ao gigante, que tinha um bom propósito, mas que chegou no momento errado.

John Theodore Cuthbert Moore-Brabazon foi o primeiro inglês a pilotar um avião em 2 de maio de 1909. Neste momento, o Reino Unido entrava na era dos aviões, fundamentais para a sobrevivência do país anos mais tarde.

Acontece que o voo de Brabazon marcou sua vida para sempre e isso influenciaria sua carreira na política britânica. Anos mais tarde, a Grã-Bretanha mergulhou fundo na Segunda Guerra Mundial e, como todo esforço de guerra, direcionou seus recursos para a criação de aviões de combate.

Obviamente que, além do Spitfire, Tempest e outros tantos aviões britânicos que voaram no conflito que varreu a Europa, os ingleses também desenvolveram aviões bem grandes, mas um deles chamava a atenção para a enorme envergadura de asa, algo impensável para a época.

Isso ocorreu por volta de 1942, sendo que o projeto era da Bristol e estava relacionado com um bombardeiro de longo alcance para atingir em cheio a Alemanha de Adolf Hitler. O problema é que tinha nada menos que 69 metros de envergadura e simplesmente não havia pistas para ele decolar.

Esse enorme avião teria um alcance de 8.000 km, mais do que suficiente para a ação direta da RAF (Real Força Aérea) nos céus germânicos. Mas, talvez por causa de seu tamanho e logística complicada, bem como por ser um alvo enorme para qualquer piloto da Luftwaffe (força aérea da Alemanha), o projeto acabou sendo deixado de lado.

O primeiro voo do Brabazon foi realizado no dia 4 de setembro de 1949
O primeiro voo do Brabazon foi realizado no dia 4 de setembro de 1949

A guerra terminou, a Inglaterra respirou e a Europa estava em ruínas. Para um recomeço, o Reino Unido estava empenhado em uma ação comercial já idealizada ainda durante a parte final do conflito, quando se sabia que a vitória era uma questão de tempo.

Como os cruzeiros, ou melhor, as linhas transatlânticas, continuavam a ser a única maneira de atravessar o Atlântico Norte com um custo aceitável para muita gente, especialmente imigrantes em busca do “sonho americano”, naturalmente só havia espaço para uma classe voar, a dos ricos.

O pensamento era de que apenas os ricos teriam fundos para isso e então, o plano de criar um avião gigante entrou em cena novamente. Desta vez, o 1º Barão de Brabazon de Tara, influenciou o desenvolvimento de um avião grande, muito grande, e que levaria seu nome: Brabazon.

A tarefa foi confiada à Bristol Aeroplane Company, que recuperou o projeto do bombardeiro da Segunda Guerra para fazer como os americanos com seus cargueiros militares C47 e C97, baseados no conhecidos DC-3 da Douglas e 377 da Boeing, uma versão civil do que fora um dia a fortaleza voadora B-29.

Bristol Brabazon

Durante a guerra, Brabazon foi Ministro dos Transportes e também da Produção de Aeronaves, que chegou mesmo a ter uma pasta própria. Por conta disso, o Barão tinha acesso aos planos daquele bombardeiro, que foi convertido em avião de passageiros.

A Bristol batizou-o com o nome do ex-ministro e, utilizando recursos do governo, iniciou o desenvolvimento do Brabazon no início pós-guerra. Internamente, ele era conhecido como Type 167.

Com 70 metros de envergadura, as asas do Brabazon eram maiores que as de um Boeing 747
Com 70 metros de envergadura, as asas do Brabazon eram maiores que as de um Boeing 747

Com 54 metros de comprimento, fuselagem com 8 metros de largura e 70 metros de envergadura de asa, o Bristol Brabazon se tornou o maior avião já produzido até hoje no Reino Unido. Seu enorme tamanho impressionou na época.

Para termos uma ideia, sua área alar era de 494 m2 e a altura chegava a 15 metros. O peso vazio era de pouco mais de 65 toneladas, mas o máximo de decolagem atingia 130 toneladas, algo assombroso para a ocasião.

Mas, como tirá-lo do chão? A Bristol resolveu isso com 8 motores da própria marca, o Centarus. Cada um desses motores radiais tinha 2.650 hp, suficientes para levá-lo até 480 km/h.

Cada dois Centaurus movia um eixo de hélices de quatro pás contra-rotativas, no mesmo estilo do famoso Tupolev Tu-95 “Bear” da ex-URSS, que mais tarde seria duas vezes mais rápido que o Brabazon.

A primeira versão do Brabazon foi equipada com motores radiais, depois substituídos por turbo-hélices
A primeira versão do Brabazon foi equipada com motores radiais, depois substituídos por turbo-hélices

Com quatro hélices duplas de 4,9 metros, o Bristol Brabazon tinha velocidade de cruzeiro de 400 km/h a 25.000 pés (7.600 metros) e alcance de 8.900 km. Com tudo isso, ele cumpriria a missão de cruzar o Atlântico Norte sem escala, podendo do ir do centro da Europa até a Costa Leste dos Estados Unidos.

Para voar tão alto, o Brabazon precisou de uma cabine pressurizada e essa era enorme. Foram criadas algumas configurações para o novo avião e uma delas levava 100 passageiros endinheirados. O mega-avião da Bristol era tão grande que tinha até dois andares na parte central e a tripulação chegava a 12 pessoas. E tinha mais.

Noutra havia um cinema na parte traseira, também tinha um bar restaurante na parte central, que por ser elevada, dificultava a movimentação de passageiros. Até uma cozinha foi planejada na parte inferior central, que também podia conter banheiros e praticamente qualquer outra coisa. Espaço não era problema.

A cabine do Brabazon era tão grande que havia espaço até para um cinema
A cabine do Brabazon era tão grande que havia espaço até para um cinema

O projeto do Bristol Brabazon logo encontrou dificuldades e soluções. No primeiro caso, o problema era como fazê-lo decolar. Como os aeródromos ingleses eram pequenos o fabricante teve que construir uma pista muito maior e um hangar capaz de abrigá-lo.

Resolvido isso, notou-se que os motores Centaurus eram fracos demais para dar um desempenho melhor para o Brabazon, que não atravessaria o Atlântico Norte em 12 horas, como era o desejável. Assim, um projeto Type167 Mark II adicionou os motores Proteus, que tinha individualmente 3.800 hp e adotavam a nova tecnologia turbo-hélice.

Tarde demais

Em 4 de setembro de 1949, o Bristol Brabazon decolou pela primeira vez, chamando a atenção do público e da imprensa. Mas, apesar de a proposta ser interessante, como já dito, as massas ainda não podiam pagar e logo o público mais abastado não se interessou em número suficiente.

Três anos depois, um segundo protótipo foi cancelado e até então, o Brabazon só era conhecido como avião de demonstração em shows aéreos. Da mesma forma que os ricos deram de ombro, as companhias aéreas também não se manifestaram, devido ao custo de operação muito alto.

O peso máximo do Brabazon podia passar de 130 toneladas, algo impensável no final dos anos 1940
O peso máximo do Brabazon podia passar de 130 toneladas, algo impensável no final dos anos 1940

Só em tripulação, para manter o Brabazon no ar, havia piloto, co-piloto, engenheiro de voo, navegador e operador de rádio. Assim, o tempo rapidamente passou para o gigante da Bristol e em 17 de julho de 1953, o governo inglês anunciou o cancelamento do projeto 167.

Com isso, o Reino Unido perdeu seu maior avião já feito e de forma inglória, pois o demonstrador foi desmantelado e vendido como sucata, para ser esquecido. Enquanto isso, do outro lado do oceano, a Boeing colocou no ar meses depois o jato comercial Dash 80, que conhecemos hoje como o icônico 707.

Dali em diante, as massas poderiam voar não só mais alto, como também mais rápido e com tarifas competitivas. O Brabazon morreu pouco antes do início da era do jato, que mudaria para sempre a aviação mundial. Ele foi o símbolo de um império em decadência, mas marcou sua passagem na história, sem dúvida.

Veja mais: XB-70 Valkyrie, o avião que veio do futuro

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  1. Eu sinto muita tristeza em ver que a história brasileira insiste na mentira deslavada de que o “inventor do avião” teria sido o play boy brasileiro Santos Dumont; mais triste ainda é que no Brasil não surgiu uma indústria verdadeiramente brasileira que tentasse produzir aviões na era de ouro logo após o término da 2ª Guerra. O embuste ficou completo com o Lula jogando na lata do lixo US$ 25 milhões para mandar o ex-major da FAB, Pontes, pro espaço para um turismo bem caro.

  2. Este avião, do qual me lembro vagamente, foi o primeiro dos “certos nas horas erradas” de toda indústria aeronáutica britânica, após a Segunda Guerra Mundial.Citaria muitos casos, como o DH Comet, o Vickers VC-10, além de uma longa lista de caças e bombardeiros.Todos bonitos, elegantes,festa para os olhos.Vide o caso do Avro Vulcan, na Guerra das Malvinas,do BA TSR-2.Hoje, a indústria aeroespacial britânica, é apenas subempreiteiras da EADS.ou de americanas.

  3. Senhor SHimura. Não sei se V.Sªreparou mas o artigo é sobre o BRITOL BRABAZON. Sua visão de Santos Dumont consegue ser mais tola e mesquinha que a tolice que V.Sª aponta.Santos Dumont era rico, sim.Poderia ser um “bon vivant” como Jorge Guinle. décadas depois. Mas um autor francês o descreve coo “genial bricoleur”,Espécie de inventor sem grandes conhecimentos , mas grandes ideias. Nunca reivindicou para si a invenção do avião.Que não tenha sido ele.Mas, apenas ele, pediu que não usassem o avião como arma de guerra.Seus ancestrais inventaram os “Kamikases”.

  4. Boa Noite a todos.

    Leio e estudo sobre aviões e tudo que se relaciona , a história nem se fala, há muitos inventores e admiráveis estudiosos do assunto, que tem seus respectivos méritos. Voar desde os primórdios da humanidade era um desafio ousado e acalentado, e com o advento da Revolução Industrial, conhecimentos, invenções pululavam nos meios científicos, literalmente havia uma febre no ar, mas para o avião em si faltava o motor ideal, pois avião tem muitos inventores e cientistas,já haviam construído com algum sucesso,voavam poucos metros, planavam,ou se arrebentavam, era uma curiosidade popular.O cientista estuda, o inventor inventa , mas o idealista Alberto Santos Dumont, desde menino desafiava a ciência do voo e insistia que o homem podia voar, e procurava entender e por em prática suas idéias. Podendo viver uma vida de esbanjamento e luxurias,ao contrário ele imaginava seu avião como um beneficio para a humanidade,juntou o que havia de melhor na sua época, testou, desenhou, se arriscou,fez inúmeras demonstrações públicas com reconhecimento das autoridades, voava com sua Demoiselle para seus compromissos, como fazem os homens hoje em dia, fez demonstrações com seu 14 Bis, taxiando, decolando e voando perante um grande público,como fazem os aviões de todos os tipos hoje em dia,fez uma revolução no transporte de passageiro, o mundo ficou menor.Os homens se enganam, a prepotência quer liderar,o brilho de um homem é ofuscado por Doutores e Capitalistas, mas a história não se engana, ela viu, acolheu e glorificou o Pai da Aviação, sim Pai da Aviação, porque avião, avioneta,papagaio, pipa,aeromodelo até uma criança faz, mas planejar um caminho futuro para a humanidade só um gênio e uma alma valorosa, Que estes ecos cheguem aos Céus.

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