Despesas da Boeing na aviação comercial custam “uma Embraer” por mês

Dívida da fabricante está crescendo rapidamente devido a pandemia do Covid-19 e o aterramento do 737 MAX
A variante 787-9, de capacidade intermediária (Boeing)
Dias difíceis pela frente: a produção do 787 deve ser normalizada somente em 2022 (Boeing)

Abril vai ser um mês cruel para a Boeing, preveem analistas. As principais fábricas da companhia nos estados de Washington e na Carolina do Sul foram fechadas no começo deste mês por tempo indeterminado para o conter o surto do novo coronavírus nos EUA, hoje o país mais afetado pela pandemia. Não só isso, a empresa ainda lida com a complexa recertificação de segurança do 737 MAX, aterrado no mundo todo há mais de um ano.

Com as linhas de montagem paralisadas e as incertezas sobre o retorno do 737 MAX, as dívidas da Boeing estão crescendo rapidamente. A empresa encerrou 2019 com prejuízo de US$ 27 bilhões e as perdas aumentaram neste ano com a pandemia. Somente a divisão de aviação comercial da Boeing (Boeing Commercial Airplanes) está gastando mais de US$ 4 bilhões por mês para manter sua própria operação.

O custo mensal para manter a Boeing Commercial Airplanes é quase o mesmo valor que a fabricante norte-americana vai desembolsar para assumir 80% do controle da Embraer Aviação Comercial, negociado por US$ 4,2 bilhões. Apesar do momento delicado, nenhuma das empresas dá sinais de que devem desistir ou adiar a conclusão do acordo.

Esse turbilhão de problemas e gastos podem dobrar a dívida da Boeing este ano, especialmente se o 737 MAX não voltar ao serviço até o final de 2020 devido a mais atrasos causados pela Covid-19, prevê o Aviation Week. A pandemia também prejudica o andamento de novos projetos, casos do 777X e os MAX 7 e MAX 10, previstos para os próximos anos.

Pouco dinheiro para muitos problemas

No mês passado, a Boeing pediu ao Congresso dos EUA uma ajuda de pelo menos US$ 60 bilhões em garantias de empréstimos para si e outros fabricantes aeroespaciais do país durante o enfrentamento da crise do coronavírus.

O diretor financeiro da Boeing, Greg Smith, disse no começo de abril que a Boeing tem atualmente US$ 15 bilhões em reservas e uma linha de crédito de US$ 9,6 bilhões.

Para Dhierin Bechai, consultor de investimentos do Seeking Alpha, a Boeing não tem muitas opções para sobreviver sem uma garantia do governo. “Fazendo as contas, você pode concluir rapidamente que a Boeing pode se sustentar por alguns meses, mas se isso durar até o final de 2020, então é insustentável”, disse Bechai.

Analistas da Jefferies preveem que as entregas de aeronaves podem cair cerca de 70% neste ano, à medida que as companhias aéreas continuam adiando as entregas de novos aviões. A consultoria ainda supõe que a Boeing produzirá o 787 a uma taxa média de quatro unidades por mês até o final deste ano, aumentando para seis em 2021 ou 2022. Eles também apontam que a linha de montagem do 777X deve concluir uma aeronave por mês, contra três exemplares mensais previstos originalmente pela fabricante.

O forte golpe causado pelo coronavírus na aviação comercial também derrubou a necessidade por aeronaves “zero km”. Analistas da Vertical Research Partners apontam que o mercado vai exigir 6.300 novos aviões nos próximos cinco anos, ou 2.000 a menos que a previsão anterior. Esse montante inclui 1.540 jatos de corpo estreito e 380 widebodies, além de aparelhos de outras categorias.

Enfrentando seu pior momento em mais de 100 anos, a Boeing tem pela frente os desafios mais difíceis de sua carreira e que podem deixar marcas duradouras em suas finanças.

Veja mais: Maior avião do mundo, Antonov An-225 entra no combate ao coronavírus

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