IBAMA pede o retorno do porta-aviões São Paulo ao Brasil
Casco da ex-embarcação da Marinha do Brasil foi vendido como sucata a uma empresa de reciclagem de navios da Turquia para ser desmontado

Proibido na última sexta-feira (19) de entrar em águas turcas, o ex-porta-aviões NAe São Paulo da Marinha do Brasil agora deve retornar ao Brasil, conforme exigência do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Em ofício divulgado nesta terça-feira (30), o instituto brasileiro de meio ambiente confirmou o cancelamento da autorização que permitia o envio da embarcação para o desmantelamento no porto de Aliaga, na Turquia.
Conforme o AIRWAY publicou em primeira mão, o casco do porta-aviões foi arrematado em março de 2021 por R$ 10,5 milhões por representantes brasileiros do estaleiro turco Sok Denizcilikve Tic, que é especializado no desmanche de embarcações desativadas. O navio aeródromo, que estava atracado no Arsenal da Marinha na Ilhas das Cobras, no Rio de Janeiro, iniciou a deslocamento até a Turquia em 4 de agosto, amarrado a um rebocador de bandeira holandesa.
Na semana passada, o ministro do meio ambiente turco, Murat Kurum, assinou a ordem que barrou o envio do porta-aviões desativado para águas territoriais do país. A proibição ocorreu após as autoridades turcas não receberem do governo brasileiro um relatório detalhado sobre a presença de substâncias tóxicas contidas da embarcação, exigido em 9 de agosto. Sem a resposta, a permissão de entrada do navio na Turquia, emitida em 30 de maio deste ano, foi suspensa.

O envio do porta-aviões São Paulo para o desmantelamento mobilizou ambientalistas na Turquia. O maior temor recai sobre a presença de amianto contido no navio. A quantidade da substância altamente cancerígena presente no barco é desconhecida. Algumas fontes citam que pode haver cerca de 9,6 toneladas do material, enquanto outras mencionam algo entre de 700 e 900 toneladas.
Neste momento, o navio rebocado encontra-se na parte final de seu deslocamento, próximo a Gibraltar na entrada do Mar Mediterrâneo, segundo monitoramento do Greenpeace.
O ofício do IBAMA acrescenta que o exportador brasileiro do navio, no caso a empresa carioca Oceans Prime, deve providenciar, “às suas expensas”, o retorno da embarcação ao Brasil, sob o risco de incorrer em tráfico ilegal de resíduos perigosos, conforme previsto no Artigo 9 da Convenção de Basileia e Lei de Crimes Ambientais.
O ofício do IBAMA acrescenta que o exportador brasileiro do navio, no caso a empresa carioca Oceans Prime, deve providenciar, “às suas expensas”, o retorno da embarcação ao Brasil, sob o risco de incorrer em tráfico ilegal de substâncias perigosos, conforme previsto no Artigo 9 da Convenção de Basileia e Lei de Crimes Ambientais – que trata da movimentação transfronteiriço de resíduos perigosos ou outros rejeitos.

“O Ibama poderá cancelar a autorização e autuar a empresa a qualquer momento, caso a Oceans Prime não informe as providências para o retorno ou deixe de agir para cumprimento deste ofício”, conclui o documento.
O AIRWAY não conseguiu contato com a Oceans Prime. A Marinha do Brasil também não se manifestou até o momento.
Maior navio de guerra do Brasil
O navio-aeródromo São Paulo chegou às mãos da Marinha do Brasil no ano 2000, comprado da França por US$ 12 milhões durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O navio foi o substituto do NAeL Minas Gerais, que operou no Brasil entre 1960 e 2001.

Quando ainda estava ativo, o São Paulo era o porta-aviões mais antigo do mundo em operação. A embarcação foi lançada ao mar em 1960 e serviu com a marinha da França com o nome FS Foch, de 1963 até 2000. Sob a identidade francesa, o navio de 32,8 mil toneladas e 265 metros de comprimento atuou em frentes de combate na África, Oriente Médio e na Europa.
Com a Marinha do Brasil, no entanto, a embarcação teve uma carreira curta e bastante conturbada, marcada por uma série de problemas mecânicos e acidentes. Por esses percalços, o navio passou mais tempo parado do que navegando. Em fevereiro de 2017, após desistir de atualizar o porta-aviões, o comando naval decidiu desativar o NAe São Paulo em definitivo.
Segundo dados da marinha brasileira, o São Paulo permaneceu um total de 206 dias no mar, navegou por 54.024,6 milhas (85.334 km) e realizou 566 catapultagens de aeronaves. A principal aeronave operada na embarcação foi o caça naval AF-1, designação nacional para o McDonnell Douglas A-4 Skyhawk, hoje operados a partir de bases terrestres.