Jato chinês C919 tem produção ameaçada por falta de componentes ocidentais
Aeronave comercial do COMAC tem primeira entrega programada para o final do ano, quando se espera a certificação da autoridade chinesa de aviação, mas falta de peças pode comprometer cronograma

O problemático programa de desenvolvimento do jato comercial C919 ganhou mais um imprevisto. Fornecedores ocidentais teriam motivado um novo atraso no cronograma da aeronave da COMAC, projeto civil mais ambicioso já criado na China.
Segundo fontes da Reuters, as restrições impostas pelo governo dos EUA desde dezembro de 2020 ao fornecimento de partes de reposição da aeronave estão ameaçando seu início de produção.
A administração Trump considerou que vários fabricantes chineses como a própria COMAC são utilizados pelo governo comunista como fachadas para o desenvolvimento de tecnologia militar. Por isso, as empresas dos EUA estão encontrando mais dificuldades em exportar seus produtos para a China.
O C919 foi lançado pela estatal COMAC em 2008 com meta de entrar em serviço em 2014. O jato narrowbody pode transportar até 168 passageiros e é bastante similar em porte ao Airbus A320.
Inicialmente, a COMAC buscou o apoio de várias empresas ocidentais a fim de tornar o C919 mais próximo de seus concorrentes em confiabilidade e suporte de manutenção além de facilitar possíveis certificações em outros mercados.

No entanto, o governo chinês tem desenvolvido em paralelo vários sistemas e equipamentos locais para não depender do fornecedores externos e como forma de modernizar sua própria indústria.
Engenharia reversa
Um dos pontos mais polêmicos do projeto diz respeito ao motor Leap-1C, fornecido pela CFM (joint venture entre a Safran e a GE). Embora seja uma parceira, a empresa teria sido alvo de espionagem da China a fim de prover engenharia reversa para o projeto doméstico do turbofan CJ-1000.
Apesar dos esforços, o programa C919 está muito atrasado. Seis aeronaves de testes estão sendo usadas nos voos de certificação, mas há dúvida se a CAAC, a autoridade chinesa de aviação civil, permitirá que o avião entre em serviço em 2022, como esperado.

Além disso, a produção em série da jato pode levar anos para ganhar ritmo, um problema recorrente no modelo ARJ21, um jato regional baseado no Boeing 717.
A despeito disso, a fabricante chinesa mantém a previsão de entregar o primeiro C919 de produção para a OTT Airlines, subsidiária da China Eastern Airlines, a única companhia aérea a assinar um acordo de compra da aeronave, com cinco unidades – há também outros 810 aviões reservados por diversas empresas do país e alguns grupos estrangeiros.