Lydia Litvyak, a caçadora de aviões nazistas

Primeira aviadora a derrubar um avião inimigo ficou conhecida pela excelente pilotagem
Durante a Segunda Guerra Mundial, Lydia Litvyak abateu 12 aviões alemães (Domínio Público)
Durante a Segunda Guerra Mundial, Lydia Litvyak abateu 12 aviões alemães (Domínio Público)
Durante a Segunda Guerra Mundial, Lydia Litvyak abateu 12 aviões alemães (Domínio Público)
Durante a Segunda Guerra Mundial, Lydia Litvyak abateu 12 aviões alemães (Domínio Público)

No dia 13 de setembro de 1942, uma esquadrilha de bombardeiros alemães Junker Ju-88 surgiu sobre os céus de Estalingrado (atual Volgogrado, na Rússia) dispostos a destruir a cidade, que era a porta de entrada para a Alemanha invadir a antiga União Soviética (URSS), no que foram alguns dos episódios mais sangrentos da Segunda Guerra Mundial. Os pilotos da Luftwaffe (Força Aérea da Alemanha), que imaginavam ter pela frente uma missão fácil, se surpreenderam quando caças soviéticos Yakovlev Yak-1 se aproximaram atirando com suas metralhadoras e canhões para impedi-los de lançarem suas bombas.

Mas os Ju-88 não estavam sozinhos. Os bombardeiros eram escoltados pelos temíveis caças Messerschmitt Bf 109. Ao ver um dos Junkers em chamas abatido por um avião soviético, o piloto alemão Sargento Erwin Maier, já um Ás condecorado com 11 vitórias aéreas, decidiu perseguir o líder daquela esquadrilha soviética.

Ao engajar o Yak-1, o alemão notou que aquele piloto russo era bem agressivo e nem de longe era um novato. Da posição de ataque com seu Bf 109, Maier subitamente foi surpreendido com uma manobra brusca de seu inimigo, que conseguiu se posicionar em sua traseira, virando o jogo. Agora perseguido pelo Yak, o avião alemão foi atingido e incendiado por tiros de canhão de 20 mm e o piloto alemão teve de saltar de paraquedas.

Ao ser capturado em solo pelas tropas soviéticas, o sargento Maier pediu para conhecer o piloto que o havia derrotado. Quando se encontraram ele riu, achou que se tratava de alguma brincadeira, até o piloto russo descrever em detalhes como foi o combate entre ambos. Neste momento o Erwin Maier descobriu que havia sido derrubado por uma mulher, a comandante Lydia Litvyak.

A aviadora soviética combateu os nazista com os caças Yakovlev (Domínio Público)
A aviadora soviética combateu os nazista com os caças Yakovlev (Domínio Público)

Rosa de Estalingrado

Lydia nasceu em Moscou no dia 18 de agosto de 1921 e sua paixão pelos aviões surgiu ainda na infância. Com 14 anos ingressou na escola de aviação de um aeroclube da capital e dois anos depois já havia conseguido sua licença de “piloto esportivo” e em 1939 se tornou instrutora de voo.

Quando a Alemanha iniciou a invasão da URSS, em junho de 1941, Lydia se voluntariou para a unidade de aviação militar. No entanto, acabou rejeitada por não ter horas de voo suficiente. A aviadora então decidiu falsificar seus registros de voo e acresceu mais 100 horas a tabela. Desta forma acabou aceita no recém-formado regimento exclusivo para mulheres, formado por Marina Raskova, navegadora aérea com vasta experiência militar.

Agora no meio militar, Lydia iniciou seus treinamentos com o caça Yak-1. Após um ano e meio de instruções, a aviadora estava pronta para entrar em combate. Em setembro de 1942, a piloto foi enviada a frente batalha em Estalingrado, que era palco de um violento combate entre os soldados nazistas e o “Exército Vermelho”.

E naquele mesmo mês, no dia 13, a aviadora já conseguiu suas primeiras vitórias aéreas conta a Luftwaffe. Em uma única surtida, Lydia conseguiu um “Double Kill”, derrubando um bombardeiro Ju-88 e um caça Bf 109, pilotado pelo Sargento Erwin Maier. Era apenas a sua terceira missão de combate na carreira.

Lydia mandou pintar um lírio branco em seu caça (War Thunder)
Lydia mandou pintar um lírio branco em seu caça (War Thunder)

Ao final daquele mês, a aviadora soviética derrubou mais um caça e um bombardeiro, além de compartilhar outra vitória com um colega.

Com quatro vitórias em um mês, Lydia entrou para o grupo de elite de pilotos soviéticos e foi transferida para o 9º Regimento de Caças da Guarda, onde haviam somente homens. A piloto voltaria aos combates somente em fevereiro de 1942, derrubando mais três aviões até receber sua primeira condecoração, a Estrela Vermelha, e foi promovida a sub-tenente.

Nessa época, pilotos costumavam carregar amuletos, como pés de coelho e outros trevos de quatro folhas. Já Lydia pintou em seu avião uma flor de lírio, que acabou confundida com uma rosa branca, detalhe que rendeu a aviadora russa o apelido “Rosa de Stalingrado”.

Caçadora livre

Após a vitória da URSS na Batalha de Stalingrado, Lydia passou a atuar como “caçadora livre”, voando sem ordens específicas e com autorização para abrir fogo contra qualquer avião ou veículo alemão.

Atuando nessa nova função, a aviadora abateu mais caças e bombardeiros, além de um balão de observação que orientava as posições de artilharia alemã. Foi também uma época muito perigosa. Lydia foi abatida e ferida duas vezes (em 22 de março e 16 de julho de 1943) e em ambas ocasiões conseguiu realizar pousos de emergência em campos abertos.

O caça alemão Bf 109 foi a principal vítima da aviadora russa (Domínio Público)
O caça alemão Bf 109 foi a principal vítima da aviadora russa (Domínio Público)

Em 1943, Lydia se casou com o também piloto russo Aleksey Solomatin, mas a união durou pouco meses. O marido da aviadora morreu durante um treinamento naquele mesmo ano. A partir desse momento, segundo relatos, a piloto passou a combater em estado de fúria, realizando ataques extremamente perigosos e violentos, muitas vezes exagerando nos disparos contra os inimigos, que eram alvejados mesmo após já estarem em chamas no ar.

Última missão

O dia primeira de agosto de 1943 foi longo para Lydia. A Batalha de Kursk presseguia com toda intensidade e a aviadora se voluntáriou para quatro missões nesse dia, na qual deveria escoltar com seu Yak-1 os bombardeiros soviéticos Ilyishin IL-2. No quarto raid, a esquadrilha da aviadora foi atacada de surpresa por caças alemães, que se aproximaram da formação quase invisíveis, voando de costas para o sol, que ofuscava a visão dos pilotos soviéticos.

Em dois anos, Lydia alcançou a patente de sub-tenente (Domínio Público)
Os restos mortais de Lydia foram localizados em 1979, enterrados na Ucrânia (Domínio Público)

O avião de Lydia recebeu um ataque frontal efetuado por quatro caças alemães e entrou em chamas. Seus companheiros disseram ter visto seu avião caindo, mas não conseguiram encontrar nenhum paraquedas. Após várias tentativas de localizar a piloto, as buscas terminaram e ela foi declarada desaparecida. Durante muitos anos, os soviéticos suspeitaram que a aviadora fora feita prisoneira pelos nazistas. Mas não foi isso que aconteceu…

A solução para o mistério sobre o desaparecimento de Lydia Litvyak foi esclarecido somente em 1979, quando o corpo da aviadora foi finalmente encontrado em Donestk, na Ucrânia, próximo ao local onde seu avião caiu. Além dos restos mortais da aviadora, que pereceu decorrente de um ferimento da cabeça, a história sobre seus últimos momentos também foi descoberta.

Mesmo ferida e com o avião avariado, Lydia conseguiu pousar mais uma vez de barriga sobre um campo. A piloto chegou a sair da cabine, mas acabou morrendo nas asas do avião, como foi encontrada pelos locais, que temendo que seu corpo fosse violado pelos alemães decidiram enterrá-la ali mesmo. O Yak-1 da aviadora, por outro lado, nunca foi encontrado – a hipotése mais aceita é de que o avião tenha sido desmontado e saqueado por caçadores de lembranças ou sucata.

Em seus pouco mais de dois anos de carreira militar, Lydia Litvyak abateu 12 aviões alemães e compartilhou outras quatro vitórias com seus colegas. Em 1990, o então presidente da URSS, Mikhail Gorbachev, concedeu postumamente a Lydia a medalha de ouro de Heroína da União Soviética. Quando morreu, Lydia estava prestes a completar 22 anos de idade.

Veja mais: O temível Barão Vermelho

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  1. Além dela, várias outras mulheres russas ganharam glória e fama nos campos de batalha contra os nazistas. Tanto no ar como na terra, deram o sangue e a coragem para libertar seu povo do sofrimento. Jamais serão esquecidas!!
    É uma pena que o governo russo não nutre o mesmo amor pelo próprio povo.

  2. Uma mulher pilotando aviões em 1935 com 14 anos de idade, realmente essa sociedade comunista soviética era terrível, um grande mal para a humanidade, um lugar horrível de se viver, totalitário, onde as pessoas não tinham direitos nem liberdades.

  3. O Mundo precisa muito de mulheres como Lydia, corajosa, valente e honrada, que nao tinha medo de enfrentar os nazistas,
    ao contrario de certos franceses que se acovardaram.

  4. Chamar pilotos Alemães de Nazistas é incorreto e preconceituoso, igual seria denominar a “caçadora comunista…”, a História é o troféu de quem vence… a mentira é a logica do heroismo, cito Minotauro, é sempre assim…

  5. Excelente texto sobre um fato histórico pelo qual me interesso muito, que é a 2ª Guerra Mundial. Parabéns.

  6. Vocês poderiam fazer uma matéria sobre as Nachthexen (Bruxas da Noite), esquadrão soviético de bombardeio noturno composto só por mulheres… Além de voarem o PO-2, que é um biplano bem “complicado” por ter pouca capacidade de defesa e manobrabilidade, os feitos delas são reconhecidos em toda comunidade aeronáutica…

  7. Deria sim é combater os proprios russos, estes sim foram o cancer da humanida e ninguem , masssssssssss, ninguem fala, porque será, conveniencia, ou historia falsa.!!!!!!!!!!!!.

  8. Nenhum Homem é capaz de derrotar uma Mulher decidida e treinada no que faz.
    Aliás, nunca foi desejo do verdadeiro Homem derrotar uma verdadeira Mulher.
    Estes estão lado a lado nesta parceria incrível para alguns.
    De fato, a Rússia foi a responsável pela queda de Hitler na 2a. Guerra Mundial…

  9. @Adonis

    Mas ela era comunista, como aliás a maioria dos militares do Exército Vermelho (cerca de 8 milhões dos 11 milhões). Por isso eles triunfaram e lutavam até a morte, por que eles tinham um ideal, quando se tem um ideal, um objetivo que transcende um indivíduo, torna-se possível explicar como uma garota de 20 anos (ou 19, no caso de Zoya) realizava tais proezas.
    O próprio nome “Exército Vermelho Operário-Camponês” diz respeito ao ideal comunista, depois renomeado para “Exército Soviético” (referente aos sovietes, idealizados por Lenin).
    Muitos tanques e aviões carregavam a inscrição “Por Stalin” (ЗА СТАЛИНА).

  10. @Dudaweyll

    Ela não era judia, tinha nacionalidade russa e cidadania soviética. Também não combatia num esquadrão feminino, como pensam alguns.

  11. @CRISTIANO

    Ela era judia, à época 3/4 dos judeus da Europa viviam na Rússia, Litvyak é um sobrenome iídiche.

    Referência (desculpe o hebraico, use o translator): http://www.iaf.org.il/4593-32722-he/IAF.aspx

    Sobre o esquadrão, não leu o que escrevi direito, não me referi a Lydia, mas às Nachthexen, faça qualquer pesquisa no Google sobre Night Witches que encontrará, pode até procurar sobre a altamente condecorada Nadezhda Popova, que participou do esquadrão e faleceu há alguns anos.

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