O Brasil pode deter os países vizinhos pelo ar?

E se algum de nossos 10 vizinhos de fronteira decidir nos invadir pelos céus, podemos detê-los? Acompanhe cada caso

O AMX e o F-5 são as principais aeronaves de defesa e ataque do Brasil (FAB)
O AMX e o F-5 são as principais aeronaves de defesa e ataque do Brasil; jatos serão substituídos pelos novos F-39 Gripen (FAB)
O AMX e o F-5 são as principais aeronaves de defesa e ataque do Brasil (FAB)
O AMX e o F-5 são as principais aeronaves de defesa e ataque do Brasil (FAB)

Você sabia que o Brasil é um dos países que tem mais fronteiras terrestres no mundo? Ao todo, somos vizinhos de outras 10 nações na América do Sul. Perdemos apenas para China e Rússia, que fazem fronteiras com 16 países, além de vastos litorais, algo que esses três gigantes também possuem em comum. Agora imagine vigiar isso tudo pelo céu?

Não que exista um perigo imediato. O Brasil, um dos países mais pacíficos do mundo em questões militares, está longe de ser atacado por outra nação, especialmente por um de nossos vizinhos. No máximo, o que pode surgir de surpresa nos céus brasileiros são aviões clandestinos em operações de narcotráfico. Portanto, não seremos bombardeados.

Mas e se isso acontecer? O que nossos vizinhos de fronteiras têm para ameaçar o Brasil pelos céus? Falaremos aqui das melhores aeronaves das 10 forças aéreas que no cercam:

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Argentina

Maior “encrenqueiro” da América do Sul, a Argentina quase chegou as vias de fato com o Chile, durante Crise na Beagle, em 1978, e disparou tudo que tinha de melhor com a Fuerza Aérea Argentina durante a Guerra das Malvinas contra a Inglaterra, em 1982.

Atualmente sem caças supersônicos em condições de operação plena, a principal arma aérea da Argentina são os antigos caças-bombardeiros McDonnell-Douglas A-4 Skyhawk, com uma frota de 15 unidades ativas. No passado, o A-4 foi um formidável avião de ataque ao solo e inclusive afundou uma série de navios ingleses nas Malvinas. Mas as perdas também foram imensas, de aeronaves e pilotos. Pode ser armado com bombas e mísseis guiados por calor, no entanto tem alcance limitado e baixa velocidade: cerca de 1.100 km/h.

O veterano A-4 é atualmente a principal aeronave da Força Aérea Argentina (FAA)
O veterano A-4 é atualmente a principal aeronave da Força Aérea Argentina (FAA)

Outras “potenciais ameaças” argentinas podem ser os aviões nacionais da FMA (Fabrica Militar de Aviones), o turbo-hélice IA Pucará o jato IA-63 Pampa. No entanto, também são aeronaves com performances limitadas e baixo poder de fogo.

A Argentina está negociando a compra de 16 caças israelenses IAI Kfir de “segunda mão”. O negócio ainda não foi concluído, mas caso seja efetivado poderá elevar o poder de fogo do país a um nível mais preocupante, especialmente com a Força Aérea Brasileira (FAB) ainda sem o Gripen. O Kfir pode voar duas vezes mais rápido que o som (mach 2) e carrega uma pesada carga de armamentos “inteligentes”.

O avião argentino Pucará foi testado em combate com pouco êxito durante a Guerra das Malvinas (FAA)
O avião argentino Pucará foi testado em combate com pouco êxito durante a Guerra das Malvinas (FAA)

A Armada Argentina (Marinha da Argentina) ainda tem estocado 11 caças Dassault Super Étendard, que armados com mísseis Exocet podem ser devastadoras armas contra embarcações, como provaram os britânicos durante o conflito na década 1980.

Paraguai

Assim como o Northrop F-5 é o principal caça da FAB, o principal meio de interceptação da Fuerza Aérea Paraguaya é o brasileiro Embraer AT-27 Tucano, que aqui é usado como avião de treinamento. As aeronaves do Paraguai podem ser armadas com metralhadoras, bombas e foguetes, recursos mais adequados para atacar ameaças terrestres, e não outros aviões.

O Embraer Tucano é o caça paraguaio (FAP)
O Embraer Tucano é o caça paraguaio (FAP)

O Paraguai tem nove dessas aeronaves, que são as únicas do país que possuem armas. O Tucano, em configuração leve, pode alcançar a velocidade máxima de 448 km/h e tem alcance máximo de 2.055 km, o suficiente para ir da Cidade del Leste até Brasília (DF). Se fizesse isso, o avião poderia ser facilmente interceptado momentos após cruzar a fronteira pelos meios atuais da FAB.

Colômbia

Acostumada a engajar aeronaves do narcotráfico, a Fuerza Aérea Colombiana (FAC) possui um arsenal razoável. O principal caça da Colômbia, o IAI Kfir, caminha para seus últimos voos, com uma série de unidades já desativadas. São interceptadores Mach 2 com boa capacidade de manobras e armamentos, além de um longo histórico de combate por Israel.

A Colômbia, por outro lado, poderia dar bastante trabalho ao Exército Brasileiro. Devido ao perfil operacional da força colombiana, equipada para combater principalmente ameaças de insurgentes no narcotráfico e grupos guerrilheiros, a frota possui um vasto arsenal de meios de ataque ao solo. O principal “espinho” contra tanques e carros de combate do EB poderia ser o Embraer A-29 Super Tucano.

O caça israelense IAI Kfir já foi utilizado em combate com sucesso no Oriente Médio (FAC)
O caça israelense IAI Kfir já foi utilizado em combate com sucesso no Oriente Médio (FAC)

O A-29 é atualmente um dos aviões de ataque ao solo mais desejados no mercado militar. Até os Estados Unidos comprou. Com a Colômbia, já foi utilizado para bombardear posições de guerrilheiros e acampamentos com drogas. Pode levar canhões, mísseis, bombas e foguetes. É também um avião ideal para interceptar aeronaves de baixa performance. No entanto, pode ser detido pela FAB pela dupla AMX e F-5 ou até mesmo por outro Super Tucano. O país possui 24 unidades dessa aeronave em operação.

A FAC também conta com os veteranos jatos Cessna A-37 Dragonfly, que foram utilizados com sucesso pelos EUA na Guerra do Vietnã, e os já antiquados OV-8 Bronco, aviões de ataque contra guerrilhas, como o Super Tucano.

Bolívia

A Fuerza Aérea Boliviana (também abreviada como FAB), que no passado ajudou a capturar o guerrilheiro Che Guevara, é atualmente uma força que não representa nenhuma ameaça significativa ao Brasil ou qualquer outro vizinho. É uma força composta por aeronaves sucateadas e com poucos recursos de alta tecnologia. O caça boliviano é o jato sino-paquistanês Hongdu K-8 ‘Karakorum’.

O jato leve sino-paquistanês Hongdu K-8 é a principal aeronave da Bolívia (Reprodução -Wikipedia)
O jato leve sino-paquistanês Hongdu K-8 é a principal aeronave da Bolívia (Reprodução –Wikipedia)

O K-8 pode voar a velocidade máxima de 800 km/h e tem alcance aproximado de 2.250 km. Suas armas são bombas de queda livre e mísseis guiados por calor, além da possibilidade de carregar foguetes e canhões. Seis desses aviões já caíram pelo mundo, sendo dois deles na Bolívia. Contanto as perdas, a frota boliviana tem apenas seis dessas aeronaves.

Uruguai

Pequeno, pacífico e sem ameaças internas, o Uruguai não precisa se preocupar tanto com invasões de aviões inimigos, quanto mais tentar invadir o Brasil. Mas caso tente fazê-lo pelo ar, os principiais meios de ataque da Fuerza Aérea Uruguaya (FAU) são o jato Cessna A-37 Dragonfly e o turbo-hélice argentino IA Pucará, que poderiam enfrentar outros aviões somente com canhões – o Uruguai não possui mísseis.

Veterano da Guerra do Vietnã, o Cessna A-37 continua em operação no Uruguai (FAB)
Relíquia da Guerra do Vietnã, o Cessna A-37 continua em operação no Uruguai (FAB)

A frota atual tem 10 Dragonfly e mais três Pucará em condições de voo. Ironicamente, os aviões de maior performance já operados no Uruguai ficaram no passado. O país já utilizou os jatos P-80 Shooting Star e o T-33. Esse segundo modelo, um projeto da década 1940, voou com as insígnias da FAU até 1996.

Peru

No embate diretos de caças da FAB com os da Fuerza Aérea del Perú, pode dar Peru. A força peruana é equipada atualmente com um bom inventário de caças russos MiG-29 e o francês Dassault Mirage 2000, aeronave que também operou no Brasil – entre 2005 e 2013. Ambos aparelhos podem voar a mais de 2.400 km/h e contam com radares de grande cobertura, o que permite armá-los com mísseis de médio e longo alcance guiados por radar próprio ou da aeronave. Essa arma pode derrubar um avião fora da distância de visão do piloto.

Vai encarar? O Peru possui os perigosos caças russos MiG-29 (FAP)
Vai encarar? O Peru possui os perigosos caças russos MiG-29 (FAP)

O Peru possui cerca de 19 caças MiG-29 operacionais, em diversas versões, e outros 12 Mirage 2000, em versões de um e dois assentos. Além desses poderosos caças, o arsenal peruano também conta com 18 jatos de ataque ao solo Sukhoi Su-25, aparelho que está sendo utilizado atualmente por forças russas no combate ao Estado Islâmico na Síria. O modelo russo ainda tem a companhia de mais 20 Cessna A-37 Dragonfly. É melhor não mexer com o Peru…

Suriname

Ex-colônia da Holanda e durante muitos anos governado por ditaduras militares, o Suriname hoje é um país praticamente sem poder de fogo. A “Surinaamse Luchtmacht” (“Força Aérea do Suriname”, em holandês, idioma local) não possui nenhum avião de ataque ou interceptação.

A força aérea do Suriname dispões de pouquíssimas aeronaves, como o helicóptero indiano Chetak (FAS)
A força aérea do Suriname dispões de pouquíssimas aeronaves, como o helicóptero indiano Chetak (FAS)

A frota surinamense atual conta com um monomotor Cessna 175 Skyhawk e um bi-motor Britten-Norman Islander, além de outros três helicópteros indianos HAL Chetak. O máximo que poderia acontecer seria essas aeronaves lançarem soldados paraquedistas a poucos quilômetros da fronteira. E provavelmente não conseguiriam voltar…

Venezuela

Por sorte, os governos do Brasil e da Venezuela têm relações pacíficas, caso contrário poderíamos ter sérios problemas aéreos na fronteira – como a Colômbia tem. O país tem os caças mais ameaçadores de toda América do Sul, os avançados Sukhoi Su-30, aeronaves que podem enfrentar diversos alvos simultaneamente e realizar manobrais impensáveis, além de ter ótimas performances de velocidade e autonomia. É um dos poucos aviões que podem vencer, por exemplo, o F-15 dos da Força Aérea dos EUA ou o F-18 do US Navy e Marines.

Os F-5 da FAB, mesmo em combate próximo, sua principal virtude, dificilmente teriam chances contra o caça russo operado pela Aviación Militar Bolivariana Venezolana (AVMBV). Além disso, a Venezuela possui 23 unidades dessas aeronaves e recentemente formalizou um pedido para adquirir mais 10. Quando concluída, será uma invejável frota de caças avançados. Para detê-los no continente, talvez só com a chegada dos Saab Gripen NG da FAB, em 2019.

A Venezuela possui a maior frota de caças modernos da América Latina (AVMBV)
A Venezuela possui a maior frota de caças modernos da América Latina (AVMBV)

O Su-30 ainda podem contar com reforço de aproximadamente 12 caças norte-americanos Lockheed-Martin F-16. A Venezuela, assim como a Bolívia, foi outro país que investiu no jato sino-paquistanês “Karakorum”, com 20 unidades no inventário. A experiência venezuelana com a aeronave, diferentemente da boliviana, é bem sucedida e até o momento nenhum aparelho foi perdido. A AVMBV aplica essa aeronave no treinamento de pilotos em conversão para jatos e também para ataque ao solo.

Guiana

Países tão pequenos, mas ao mesmo tempo potencialmente ameaçadores. Apesar de independentes, Guiana e Guiana Francesa ainda têm fortes laços com suas nações colonizadoras, no caso o Império Britânico e a França.

A Guiana reúne todas as suas frentes militares em apenas um grupo, o “Guyana Defence Force” (“Força de Defesa da Guiana”) . Por conta própria, o país possui apenas duas aeronaves de transporte e outros quatro helicópteros, que operam principalmente em operações de vigilância costeira. Nenhum deles é armado.

Com auxílio de reabastecimento aéreo, os Typhoon da RAF podem alcançar o Brasil a partir das Ilhas Falkland ou Ascensão (RAF)
Com reabastecimento aéreo, os Typhoon da RAF podem alcançar o Brasil a partir das Ilhas Falkland ou Ascensão (RAF)

O país, em contrapartida, é membro do Commonwelth, grupo formado basicamente por ex-colônias britânicas e regiões ainda sob controle inglês. Arrumar briga com a Guiana pode ser algo tão grave quanto afrontar as Ilhas Falkland, outro membro da “turma”, como fizeram os argentinos na Guerra das Malvinas – e se deram muito mal.

Portanto, atacar a Guiana ou enfrentar o Império Britânico pode não ser uma boa ideia. Uma ação desse tipo poderia atrair uma retaliação da RAF (Royal Air Force – Força Aérea Real Britânica) com caças Eurofighter Typhoon, que seriam duros adversários para os F-5 da FAB.

Guiana Francesa

Território ultra-marino da França, a Guiana Francesa também é outro país que conta com uma proteção “velada”. Todo controle policial e de defesa do país é realizado por autoridades francesas, que mantém na região apenas homens e poucos helicópteros da Marine Nationale, a poderosa Marinha da França.

A Guiana Francesa pode ser defendida pelo porta-aviões nuclear Chales de Gaulle com caças Rafale (Marine Nationale)
A Guiana Francesa pode ser defendida pelo porta-aviões nuclear Chales de Gaulle com caças Rafale (Marine Nationale)

Uma confusão militar com a Guiana Francesa poderia trazer para o litoral brasileiro o porta-aviões nuclear Charles de Gaulle com más intenções e caças Rafale e Super Étendard, aeronaves que também podem romper as defesas brasileiras.

Independentemente de quem é mais “forte” ou mais “fraco”, que em todas as fronteiras reine a paz, principalmente nos céus.

Veja mais: Guerra do Cenepa entre Equador e Peru completa 20 anos

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