Popular, helicóptero que vitimou Ricardo Boechat já voava há 44 anos
Modelo Bell 206B JetRanger já foi um dos helicópteros mais vendidos em seu segmento; situação da aeronave era regular


O helicóptero que caiu nesta segunda-feira (11) em São Paulo (SP) vitimando o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci era um modelo Bell 206B JetRanger, aeronave que já foi muito popular no mercado e acumula mais de 7.300 unidades produzidas (somando todas as versões) desde 1962. Segundo registro da ANAC, o modelo com prefixo PT-HPG foi fabricado em 1975 e pertencia a RQ Helicópteros, empresa que se denomina como uma “especialista em helicópteros” e que pertencia ao piloto que morreu no acidente.
“O fato de o helicóptero ser antigo não preocupa. A vida de uma aeronave é medida em horas de voo e ciclos. O mesmo vale para o seu motor, cuja ‘idade’ também é medida em horas. Se for um helicóptero bem cuidado, com todas as manutenções programadas em dia, pode voar sem problemas, como era o caso do PT-HPG”, explicou Shailon Ian, engenheiro aeronáutico do ITA e presidente da consultoria Vinci Aeronáutica, consultado pelo Airway.
De acordo com o Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) da ANAC, o modelo acidentado era registrado na categoria “Privada Serviço Aéreo Especializado Público” (AC/F/R). “Um helicóptero com esse tipo de registro pode realizar serviços especializados, como operações aeroagrícolas, filmagens e fotografias aéreas ou voos para levantamentos de dados”, disse Ian.
A reportagem tentou contato com a RQ Helicópteros, proprietário da aeronave acidentada, mas todos os telefones da empresa estavam desligados. “Empresas pequenas como essa não costumam ter planos de emergência em casos de acidentes. Esse tipo de reação (de não atender a imprensa) pode ser comum em casos como esse, ao menos logo após um acidente”, contou o especialista.
Segundo Hugo Mello, advogado especializado em direito aeronáutico da Mello Advogados, o helicóptero acidentado obedecia as regras da ANAC e podia realizar transporte de passageiros, embora não possuísse a certificação específica TPX, de táxi aéreo. “Aeronaves que constam no Registro Aeronáutico Brasileiro com a anotação ‘serviço público’ em via de regra, possuem autorização para o transporte de passageiros”, explicou o jurista.
A regra citada pelo advogado foi alterada recentemente pela medida provisória 863/2018, editada no fim do governo Michel Temer. Antes dessa mudança, aeronave registradas na categoria Privada Serviço Aéreo Especializado Público não eram autorizadas a realizar o transporte remunerado de passageiros. “Essa medida provisória acabou abrandando os requisitos para a concessão dessa autorização”, salientou Mello.
Em nota oficial, a ANAC confirmou que o helicóptero estava em situação legal, com o Certificado de Aeronavegabilidade (CA) válido até maio de 2023 e a Inspeção Anual de Manutenção (IAM) em dia até maio de 2019.
De acordo com informações oficias da Aeronáutica, o piloto da aeronave, Ronaldo Quattrucci, estava com as licenças e habilitações de piloto comercial de helicóptero (PCH) válidas.
As investigações sobre as causas do acidente estão sendo conduzidas pelo Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), do Comando da Aeronáutica.