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Por que a compra de caças F-16 pela FAB pode ser uma roubada

Aeronáutica admitiu estudos iniciais para aquisição de aeronaves de combate usadas, mas complexidade envolvida em sua operação e custos para mantê-lo podem ser tiro pela culatra

Caças Gripen e F-16
Caças Gripen e F-16 (FAB e USAF)

O admitido interesse da Força Aérea Brasileira (FAB) pelos caças F-16 em meio a entregas de jatos Gripen novos causou surpresa e incredulidade.

Até então, a Aeronáutica parecia viver um clima de parceria perfeita com a Saab e o governo da Suécia. Como único cliente externo das versões Gripen E e F (biposto), o Brasil tem sido tratado com enorme deferência pelos europeus.

O evento que marcou oficialmente o início da montagem final do primeiro caça Gripen em solo brasileiro foi o ápice de uma relação que parecia não ter limites.

E veio a bomba revelada pelo site Janes: a FAB negocia a compra de 24 caças F-16 usados porque falta dinheiro para mais jatos Gripen.

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Caça F-16 Bloco 50 da Força Aérea dos EUA (USAF)
Caça F-16 Bloco 50 da Força Aérea dos EUA (USAF)

A notícia já surpreendeu pela mudança de direção. Na gestão do Comandante da Aeronáutica anterior, não havia limite para investir em mais caças Gripen às custas de menos C-390 Millennium e de programas promissores como o avião híbrido Stout, ambos da Embraer.

Até jato comercial A330 repassado pela Azul foi incorporado a toque de caixa, mesmo que até hoje sua principal missão, o reabastecimento aéreo, ainda esteja longe de ocorrer já que não há contrato para sua conversão.

Tudo se encaminhava, portanto, para um segundo lote de caças Gripen, além de um adendo de quatro aeronaves (indo de 36 para 40 jatos) dentro do atual contrato.

Ou seja, parecia que não faltava dinheiro, mas agora tudo indica que sim. E isso é, de fato, coerente já que o governo federal tem feito acrobacias para poder arcar com os custos da máquina pública, quanto mais investir em mais jatos de combate.

A FAB tem tradição em operar mais de uma aeronave de combate
A FAB tem tradição em operar mais de uma aeronave de combate (FAB)

Tradição em operar mais de um tipo de caça

Num episódio raro de transparência, a FAB reconheceu que estuda uma possível aquisição de caças F-16, porém, negou que isso tenha relação com o programa Gripen.

Mas uma reflexão breve mostra que a afirmação não faz qualquer sentido. Se o foco hoje é formar ao menos dois esquadrões de caças Gripen por que gastar dinheiro com outra aeronave e que tem pouco em comum com o jato sueco?

Como dissemos na semana passada, a Força Aérea há muito opera mais de um tipo de jato de combate. Teve seus Gloster Meteor e F-80/T-33 de forma simultânea por alguns anos enquanto recebeu os primeiros F-5 pouco tempo depois da chegada do Mirage III.

Caças F-39E Gripen da FAB (Saab)
Caças F-39E Gripen da FAB (Saab)

Portanto, um segundo caça não é algo inusitado na FAB, mas por outro lado ela nunca incorporou uma aeronave tão sofisticada, capaz e atual como o Gripen E/F.

O programa não envolve apenas operar um jato com desempenho superior aos antecessores, mas ter acesso a tecnologias inéditas na FAB como o radar AESA, sistemas de rastreio mais eficientes e mísseis e armamentos de última geração.

Custos escondidos

Uma eventual compra de caças F-16 usados, por outro lado, significaria criar toda uma infraestrutura nova e diferente do Gripen, que vai do motor a sistemas e armamentos.

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Também implica em preparar-se para um trabalho de suporte mais frequente já que são jatos usados. Além disso, pode ocorrer um retrocesso tecnológico dependendo da origem e das versões do F-16.

Por fim, há que se pensar em compatibilidade com os Gripen, o que exigiria investimentos para converter equipamentos para que houvesse alguma sinergia entre eles.

Jato KC-135 abastece um caça F-16 dos EUA (USAF)
Jato KC-135 abastece um caça F-16 dos EUA: sistema de lança não existe na FAB (USAF)

E quando se fala do reabastecimento aéreo, outro problema à vista. Os F-16 utilizam o sistema norte-americano de lança em vez de mangueira e sonda, como os Gripen.

Uma alternativa seria contratar a conversão dos KC-30 para o padrão MRTT incluindo a lança de reabastecimento, mas isso aumenta o custo do projeto e deixa os F-16 reféns do Airbus enquanto o Gripen pode ser abastecido no ar pelo KC-390.

Não há dúvida que diante da sua enorme extensão territorial e fronteira, o Brasil necessita de uma frota muito grande de caças, na casa dos três dígitos.

Resta saber se a alternativa do F-16 é realmente mais barata do que novos lotes de Gripen quando considerados outros fatores que não o preço de aquisição, este sem dúvida bem mais em conta.

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