Vendido como sucata, porta-aviões São Paulo é proibido de entrar na Turquia

Ministério do Meio Ambiente turco revogou a autorização de entrada da embarcação em portos do país por não receber do governo brasileiro o inventário de substâncias perigosas no navio

O NAe São Paulo deixando o Rio de Janeiro, em 4 de agosto de 2022 (AIRWAY)

Ex-porta-aviões da Marinha do Brasil, o NAE São Paulo está proibido de entrar em águas da Turquia, onde a embarcação seria desmantelada. A decisão foi divulgada nesta sexta-feira (26) pelo ministro do Meio Ambiente, Cidade e Mudanças Climáticas turco, Murat Kurum.

Conforme o AIRWAY publicou em primeira mão, o casco do porta-aviões foi arrematado em março de 2021 por R$ 10,5 milhões por representantes do estaleiro turco Sok Denizcilikve Tic, que é especializado no desmanche de embarcações desativadas. O navio aeródromo, que estava atracado no Arsenal da Marinha na Ilhas das Cobras, no Rio de Janeiro, iniciou a deslocamento até a Turquia em 4 de agosto, amarrado a um rebocador.

Segundo o ministro Kurum, a entrada do porta-aviões na Turquia foi barrada pois o governo brasileiro não enviou um relatório detalhado sobre a presença de substâncias tóxicas contidas na embarcação, exigido no último dia 9 de agosto pelas autoridades turcas. Sem a resposta de Brasília, a permissão de entrada do navio no litoral do país, emitida em 30 de maio deste ano, foi revogada.

“Após uma liminar da Justiça Federal do Brasil relativa ao desmantelamento do navio neste país, a fim de confirmar a permissão condicional emitida por nós, escrevemos ao Ibama e à Sök Denizcilik Tic em carta datada de 9 de agosto de 2022 com um pedido de relatório de inventário de mercadorias perigosas. Devido ao fato de ainda não ter sido apresentado o relatório exigido, o navio não poderá entrar nas águas territoriais da Turquia”, informou o ministro turco.

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Rebocador Alp Centre em processo de amarração ao NAe São Paulo, no início de agosto (AIRWAY)

O envio do porta-aviões São Paulo para a Turquia mobilizou ambientalistas no país. O maior temor dos turcos recai sobre a presença de amianto contido no navio. A quantidade da substância altamente cancerígena presente no barco é desconhecida. Algumas fontes citam que pode haver cerca de 9,6 toneladas do material, enquanto outras mencionam algo em torno de 700 toneladas.

“Repetidamente compartilhamos que não aceitaríamos o navio sem qualquer hesitação e o enviaríamos de volta antes que ele entrasse nas águas do nosso país, em caso de qualquer negatividade perigosa”, disse Kurum. “Acompanhamos de perto todas as etapas do processo, não só no navio NAE São Paulo, mas também em todos os navios. Não permitimos nenhum passo que possa prejudicar nosso meio ambiente e nosso povo. Que nossa nação descanse em paz.”

No site de rastreamento de navios Marine Traffic é possível acompanhar o rebocador que está transportando o casco do porta-aviões. Atualmente, o conjunto encontra-se próximo às Ilhas Canárias, na costa da África.

A Marinha do Brasil e o IBAMA ainda não se manifestaram sobre a proibição de entrada do porta-aviões em águas turcas.

Maior navio de guerra do Brasil

O navio-aeródromo São Paulo chegou às mãos da Marinha do Brasil no ano 2000, comprado da França por US$ 12 milhões durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O navio foi o substituto do NAeL Minas Gerais, que operou no Brasil entre 1960 e 2001.

O NAe São Paulo chegou ao Brasil em 2001; o navio foi construído na França entre 1957 e 1960 (Marinha do Brasil)
O NAe São Paulo chegou ao Brasil em 2001; o navio foi construído na França entre 1957 e 1960 (Marinha do Brasil)

Quando ainda estava ativo, o São Paulo era o porta-aviões mais antigo do mundo em operação. A embarcação foi lançada ao mar em 1960 e serviu com a marinha da França com o nome FS Foch, de 1963 até 2000. Sob a identidade francesa, o navio de 32,8 mil toneladas e 265 metros de comprimento atuou em frentes de combate na África, Oriente Médio e na Europa.

Com a Marinha do Brasil, no entanto, a embarcação teve uma carreira curta e bastante conturbada, marcada por uma série de problemas mecânicos e acidentes. Por esses percalços, o navio passou mais tempo parado do que navegando. Em fevereiro de 2017, após desistir de atualizar o porta-aviões, o comando naval decidiu desativar o NAe São Paulo em definitivo.

Segundo dados da marinha brasileira, o São Paulo permaneceu um total de 206 dias no mar, navegou por 54.024,6 milhas (85.334 km) e realizou 566 catapultagens de aeronaves. A principal aeronave operada na embarcação foi o caça naval AF-1, designação nacional para o McDonnell Douglas A-4 Skyhawk, hoje operados a partir de bases terrestres.

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