DC-3 destruído no Galeão mostra que o Brasil não se importa com o passado

(Reprodução/Whatsapp)
Mais uma memória da aviação da aviação transformada em sucata por alguns trocados (Reprodução/Whatsapp)

A notícia sobre a destruição de um clássico DC-3 que pertenceu à Varig deixou a comunidade aeronáutica estarrecida na última sexta-feira (31/1). O avião ficava exposto na área restrita do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, e acabou retalhado por tratores. Uma decisão infeliz e desnecessária, mostrando como o Brasil e seus burocratas não se importam com o passado e a história do país.

O DC-3 destruído na última semana era um avião construído em 1942. A aeronave operou com as forças armadas dos EUA na Segunda Guerra Mundial e terminado o conflito foi repassada à aviação comercial. O modelo chegou nas mãos da Varig na década de 1950 e fez seu último voo em 18 de agosto de 1971, entre São Paulo e o Rio Janeiro, seu destino final.

Observando a revolta e as críticas do público, a Fentac (Federação Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil), sindicato que representa ex-funcionários da Varig, informou no sábado (1) que o DC-3 foi destruído por autorização judicial após um pedido dos gestores da Massa Falida da companhia, a EX Aviation Center.

Expressando nenhum arrependimento e firme na postura, o sindicato informou que a aeronave “apresentava corrosão em 100% de seu revestimento externo” e que se viu em “uma encruzilhada imposta pela administradora do aeroporto Galeão”, onde o avião estava estacionado. A Fentac ainda relatou que o custo de manter uma “aeronave antiga e corroída, pagando valores altíssimos, por mero saudosismo é violentar os próprios trabalhadores da VARIG que ainda aguardam para receber integralmente suas verbas trabalhistas”.

Antigo DC-3 que ficava na área restrita do Galeão (Reprodução/Whatsapp)

A Fentac acrescentou que a massa falida buscou “solucionar o problema com o menor custo, inclusive o ofertando para o Museu Aeroespacial (MUSAL)”, que recusou a aeronave, continua o comunicado. Procurado pelo Airway, o MUSAL não se pronunciou até a conclusão deste texto.

Concessionária do aeroporto, a RIOgaleão informou que espaço onde o avião estava parado não era de sua administração. O local é conhecido como “área industrial”, onde antes ficavam instalações e hangares da Varig e hoje é ocupado por centros de manutenção da TAP e a GE Celma.

“O RIOgaleão esclarece que a aeronave em questão estava localizada em uma área cedida pela concessionária, sobre a qual não havia gerência da administração do aeroporto. A EX Aviation Center, responsável pela massa falida da Varig, conduziu todo o processo de remoção”, diz o comunicado do aeroporto.

Usando um tom bastante insensível, a Fentac diz em sua nota que existe um avião “idêntico” no Aeroporto de Porto Alegre. O sindicato fala do DC-3 “PP-ANU”, outro valioso avião que voou com a Varig e hoje está restaurado e exposto no shopping Boulevard Laçador, próximo ao aeroporto da capital gaúcha.

Companhia aérea mais famosa do Brasil, a Varig levou o nome do país para o mundo todo desde os primórdios da aviação comercial, iniciando as operações em 1927. O fim da empresa aconteceu de forma melancólica e se arrastou por ano até de fato os voos serem encerrados, em 2006. Após mais de uma década, ex-funcionários e restos da companhia continuam espalhados no país inteiro (e até no México) à espera de uma restauração, algo relegado ao velho DC-3 PP-VBF, um dos “Douglinhas” mais antigos do mundo.

O DC-3 PP-VBF ficou exposto no Aterro do Flamengo nos anos 1970 antes de ser levado para a área do Galeão (RuthAS)

Puro saudosimo, sim senhor

Pátria de Alberto Santos Dumont, inventor do avião, o Brasil despreza sua história na aviação e destrói antigas relíquias a troco de sucata. Antes uma peça de valor inestimável, o avião estraçalhado no Galeão agora é um punhado de metal que será vendido por alguns poucos milhares de reais. Com alguma sorte partes do avião podem ser preservadas em alguma como uma mesa ou uma cadeira descolada…

A destruição do DC-3 no Rio de Janeiro mostrou um típico caso da ingerência de vários setores do Brasil com seu patrimônio histórico. Por conta de ações desse tipo (e muitas outras) somos um povo que não lembra do passado e vivemos somente de memórias recentes. Nossas grandes realizações e aprendizados de outros tempos são esquecidos e por isso sempre repetimos os mesmos erros.

Ruínas do PP-VBF:  avião voou com a Varig até 1971 (Reprodução/Whatsapp)

A aviação em especial, mesmo com todo o envolvimento de Santos Dumont e toda discussão que e o tema gera, é um assunto ignorado no Brasil. Ao contrário de nós, os EUA preservam o legado dos Irmãos Wright nos mínimos detalhes. Assim fica difícil dizer quem inventou primeiro o avião.

Fosse previamente anunciado pela massa falida da Varig ou feito alguma movimentação para dar um destino digno ao antigo avião, o DC-3 poderia ser resgatado em vez de transformado em lixo. Aeronaves em condições piores já foram restauradas e em raros casos até colocadas para voar novamente.

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  1. Em mais duas décadas ninguem lembrará de Santos Dumont e apenas os Irmãos Wrigth serão considerados por um simples motivo; Os EUA preservam suas memórias e tradições, já aqui em Banânia…..

  2. Em outra reportagem li que este avião foi pilotado por Howard Hughes, Se já tinha valor histórico, com mais esse detalhe, esta aeronave tinha valor inestimável. Tem uma frase de Luis Carlos Mathias que diz o seguinte: ” Um país que não preserva o seu passado e sua história não tem futuro.” É o que o Brasil e seus cidadãos são, um país sem futuro.

  3. Dizem que o pior do Brasil são o brasileiros, mas o correto seria dizer que o pior do Brasil são os brasileiros sindicalistas. Está Fentac estava mais preocupada com parcos reais proveniente da venda da sucata do que com a preservação da memória da Varig e aviação brasileira. Atitude idêntica aos ladrões da taça Jules Rimet.

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