Exército Brasileiro amplia encomenda de aviões Sherpa

Aeronaves de transporte chegam ao Brasil em 2021 e serão utilizadas principalmente na Amazônia

Short C-23 Sherpa: o Exército Brasileiro volta a ter asas fixas 76 anos depois (US Army)
Short C-23 Sherpa: bimotor pode transportar até 30 passageiros ou 3.500 kg de carga (US Army)

Prestes a voltar a voar com seus próprios aviões, o Exército Brasileiro (EB) aumentou o número de aeronaves Short C-23 Sherpa que receberá dos Estados Unidos. Em vez de apenas quatro modelos, agora serão oito unidades. A informação foi confirmada na revista oficial do EB Verde-Oliva. Ainda de acordo com a publicação, os dois primeiros Sherpas chegam ao Brasil em 2021, quando o Exército encerrará um jejum de 80 anos sem operar aeronaves de asa fixa.

Dos oito aviões encomendados, seis deles vão passar por processos de manutenção e modernização dos cockpits nos EUA. Os outros dois aparelhos, segundo a revista do Exército, serão destinados ao “suprimento” – aeronaves que normalmente ficam paradas e fornecem peças de reposição para os modelos em operação. O valor da negociação não é divulgado pelo EB.

O lote de aviões encomendados pelo EB foi fabricado entre 1984 e 1985. Já entre 1997 e 1998, essas mesmas aeronaves foram modernizadas para o padrão C-23B+, com sistemas de voo mais avançados. Os Sherpas serão operados pela Subunidade de Asa Fixa do 4° BAvEx (Batalhão de Aviação do Exército), criada recentemente em Manaus (AM) para receber as aeronaves. Segundo o publicação, os tripulantes do Exército serão treinados nos EUA.

Aviões são um antigo sonho do Exército Brasileiro, que não possui esse tipo de instrumento desde 1941, quando a Força Aérea Brasileira (FAB) foi criada e passou a operar todas as aeronaves militares do Brasil. Em 1986, o EB ganhou o direito de ter seus próprios helicópteros, mas ainda ficou dependente da FAB e empresas civis para operações aéreas mais complexas.

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O Sherpa pode transportar cerca de 30 passageiros ou até 3.500 kg de carga, com autonomia máxima próxima de 2.000 km a velocidade de cruzeiro de 422 km/h. Mas uma das partes que mais interessam ao EB é o seu custo operacional, muito mais baixo que os de helicópteros.

Os Sherpa americanos estão estocados desde 2014 (Divulgação)

Segundo a publicação do Exército, o C-23 tem um custo de hora de voo estimado em US$ 1.415 com carga máxima (ou US$ 0,40/kg). Já o helicóptero EC-725 Jaguar, hoje a maior aeronave do EB, transporta 5.670 kg ao custo de US$ 12.216 por hora de voo (US$ 2,15/kg).

Com a introdução de aviões da Amazônia, o Exército vai aumentar sua capacidade de transporte logístico e passageiros na região e reduzir custos. Como apontou a revista, 30% das horas de voo de todo o grupo de aviação do Exército, hoje composto somente por helicópteros, são registradas na região amazônica. A principal função do meio aéreo nesses locais é o transporte de tropas e abastecimento dos Pelotões Especiais de Fronteira (PEF).

Avião valente, mas desconhecido

O Sherpa é a versão militar do Short 330, um avião utilitário desenvolvido no início dos anos 1970 pela Short Brothers, da Irlanda do Norte, empresa controlada pela Bombardier desde 1989. O bimotor foi um dos últimos projetos da empresa britânica, que é lembrada nos livros de história por ser a primeira fabricante a estabelecer uma linha de produção de aviões, em 1908. A empresa hoje desenvolve componentes aeronáuticos e sistemas de voo.

Criado para operar em pistas curtas e muitas vezes precárias (ou mesmo em pista alguma), o Sherpa é um avião com grande capacidade para esse tipo de missão. Como a maioria dos aviões utilitários, tem asas altas, potentes motores turbo-hélices e um robusto conjunto de trens de pouso retrátil, uma característica incomum nesse segmento, que quase sempre prefere trens de pouso fixos.

O Sherpa foi usado pelos EUA no Iraque (US Army)

Outra facilidade da aeronave é a porta traseira retrátil, usada para embarque e desembarque de cargas ou mesmo para o lançamento de paraquedistas. Segundo dados do fabricante, o Sherpa pode pousar e decolar com peso máximo em um espaço de apenas 600 metros.

Os principais operadores do Sherpa foram a força aérea e o exército dos EUA, entre o início da década de 1980 até meados de 2014. O bimotor também serviu na Guarda Nacional dos EUA e atualmente 15 unidades são operadas pelo serviço de defesa florestal do país.

Apesar do pouco tempo de operação militar com as forças armadas dos EUA, o Sherpa participou de um teatro de guerra: a aeronave foi utilizada no transporte de tropas e cargas nos conflitos do Iraque entre 2006 e 2011.

O Twin Otter foi desenvolvido pela De Havilland Canada na década de 1960 (Thiago Vinholes)
O Twin Otter foi desenvolvido pela De Havilland Canada na década de 1960 e atualmente é produzido pela Viking Air (Thiago Vinholes)

O Sherpa foi desenvolvido em uma época de grande florescimento de aviões utilitários bimotores, entre os anos 1960 e 1970. Aviões projetados nesse tempo demonstraram desempenhos tão eficientes que muitos permanecem até hoje voando em versões atualizadas, como é o caso do clássico Viking Twin Otter, avião que chegou a ser testado pelo Exército no Brasil.

Diferentemente do Twin Otter, que soma mais de mil unidades produzidas, a produção do Sherpa, em versões civis e militares, foi de apenas 125 exemplares. O avião foi produzido pela Short Brothers entre 1974 e 1992.

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