O avião do padre

Construído em quase 20 anos, aeronave artesanal pode voar, garante o padre Albino Dziadzio

Padre Albino a bordo de seu avião, o 'Borboleta Branca 2' (Jornal da Manhã)
Padre Albino a bordo de seu avião, o 'Borboleta Branca 2' (Jornal da Manhã)
Padre Albino a bordo de seu avião, o 'Borboleta Branca 2' (Jornal da Manhã)
Padre Albino a bordo de seu avião, o ‘Borboleta Branca 2’ (Cristiano Barbosa/Jornal da Manhã)

A Diocese de Ponta Grossa (PR) vem recebendo mais telefonemas do que o habitual. Quem entra em contato com a igreja paranaense não busca ajuda espiritual, mas sim informações sobre um avião. Ou melhor, o avião do padre Albino Dziadzio.

Recentemente, o padre Dziadzio ficou conhecido ao expor na Igreja Nossa Senhora de Monte Claro o “Borboleta Branca 2”, uma avião que ele mesmo construiu ao longo dos últimos 19 anos. “Esse é meu segundo avião. O primeiro, que eu comecei a construir em 1971, não ficou bom e então eu o desmontei e aproveitei para usar as peças no meu segundo projeto”, contou o sacerdote em entrevista ao Airway.

E ele voa, garante o construtor: “há dois anos fizemos testes de voos no aeródromo de Ponta Grossa e o avião saiu do chão duas vezes”, contou Dziadzio, no alto de seus 70 anos e mais de 40 de sacerdócio. “Mas eu não pilotei. Ainda não tenho brevê, mas fui ao lado de um piloto profissional”, confessou.

Entusiasta da aviação desde criança, Albino começou a criar asas quando ingressou no seminário. “Construir aeromodelos era o meu passa-tempo favorito quando não estava a serviço de Deus”, revelou o padre. “Você sabe como é? Se pobre quiser ter avião a única forma é construir um”, completou.

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Admirador de urubus, o padre Albino não tem um avião ou fabricante favorito: “não conheço direito esses aviões da Embraer, mas acho que são máquinas maravilhosas”. O padre também prefere voos lentos a alta velocidade. “Construí uma asa de grande sustentação, assim poderia fazer meus voos lentos e observar a paisagem tranquilamente, como um urubu faz. É disso que eu gosto”, contou o padre, que voou poucas vezes na vida. “Acho que só umas duas vezes. E faz tempo!”

O avião do padre Albino tem motor de VW Santana (Jornal da Manhã)
O avião do padre Albino tem motor de VW Santana (Cristiano Barbosa/Jornal da Manhã)

Avião de R$ 30 mil

Filho de carpinteiro, Albino contou que construiu o avião quase que inteiramente sozinho. “Tive ajuda apenas para montar a parte elétrica e instalar o motor. De resto fiz tudo sozinho a partir de ideias que me surgiam na cabeça”, revelou. Como explica o padre, o avião foi construído com alumínio, madeira, cabos de aço, parafusos e “muita cola”.

O avião foi construído com alumínio, madeira, parafusos e "muita cola" (Jornal da Manhã)
O avião foi construído com alumínio, madeira, parafusos e “muita cola” (Cristiano Barbosa/Jornal da Manhã)

No avião finalizado, o padre escreveu “Reanimai-vos! Cristo virá”. “Ficaria estranho um padre construir uma aeronave e ela não ter nenhum vínculo com a religião. Então, achei uma maneira de espalhar uma mensagem de fé”, contou o padre à reportagem.

“Quando comecei a construir o Borboleta Branca 2 as pessoas debochavam. Mas isso mudou depois que ele voou e eu passei a ser respeitado, principalmente pelos pilotos”, afirmou o padre.

Ao todo, em quase 20 anos de construção, Albino estima ter gastado cerca de R$ 30 mil até chegar no resultado atual, um avião com 7,15 metros de comprimento e espaço para dois ocupantes. “O grande diferencial do meu avião é o trem de pouso com quatro rodas”, se gaba.

O motor da aeronave é um Volkswagen AP 2000 a gasolina (usado, por exemplo, no antigo sedã VW Santana) e segundo o presbítero gera cerca de 95 cavalos de potência. “Esse motor é formidável, nunca quebra”, garante o padre.

O padre auto-didata demorou 19 anos para construir o 'Borboleta Branca 2' (Jornal da Manhã)
O padre auto-didata demorou 19 anos para construir o ‘Borboleta Branca 2’ (Cristiano Barbosa/Jornal da Manhã)

O padre Albino, porém, não está tão animado para continuar o projeto do Borboleta Branca 2, que ainda precisa de uma série de ajustes para conseguir o registro de aeronavegabilidade, emitido pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). “Já estou com 70 anos e o clima de hoje em dia também não favorece a realização de mais testes de voo”, lamenta o sacerdote de Ponta Grossa. “Desmontei as asas e guardei o avião do salão da igreja. Ainda não decidi se vou continuar”.

Perguntado qual trecho bíblico poderia ter relação com seu avião, o padre citou Lucas 21, 28: “Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima”. O que ele quis dizer com isso? Só Deus sabe…

*Fotos gentilmente cedidas pelo Jornal da Manhã, de Ponta Grossa (PR).

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