Quanto pode custar a conversão do A330 em avião de reabastecimento KC-30?
Força Aérea Brasileira recebeu nesta semana o primeiro de dois jatos da Airbus, mas ainda terá de contratar o serviço de transformação das aeronaves para o padrão MRTT

A Força Aérea Brasileira (FAB) comemorou nesta semana a incorporação do primeiro KC-30, designação adotada para os dois Airbus A330-200 adquiridos da Azul Linhas Aéreas.
Como se sabe, a intenção do atual Comando da Aeronáutica é transformar os dois widebodies para o padrão MRTT (Multi-Role Tanker Transport), um programa desenvolvido pela Airbus para tornar o A330 num jato com capacidade de reabastecimento aéreo, além de outras missões como transporte de tropas e evacuação aeromédica.
Até aqui, o custo do programa KC-X3 se resumiu aos cerca de US$ 80 milhões gastos com o leilão das duas aeronaves, e no qual apenas a Azul apresentou proposta – mesmo não sendo dona à epoca dos A330.
Na terça-feira, o Comadante da Aeronáutica, Brigadeiro Bapstita Junior, prometeu que a licitação para converter os dois jatos, os maiores já operados pela FAB, será lançada ainda em 2022.

Mas afinal quanto o programa KC-X3 poderá custar aos cofres públicos?
O A330 MRTT é uma aeronave que tem obtido vários contratos e concorre, inclusive, no programa KC-Y, disputa lançada pela Força Aérea dos EUA (USAF) como avião-tanque tampão entre o KC-46A e um futuro reabastecedor possivelmente autônomo.
O MRTT pode ser adquirido novo da Airbus, como faz a OTAN, e ser equipado com lança rígida de reabastecimento, compatível com aeronaves dos EUA. Ou então receber duas sondas com mangueiras sob as asas, como ocorrerá com os KC-30.
Um exemplo do custo desse projeto pode ser um contrato recente do Ejercito del Aire, a Força Aérea da Espanha, que terá três MRTT entre 2024 e 2025.

O acordo espanhol tem um teto de 675 milhões de euros, algo como R$ 3,57 bilhões. Ou seja, uma média de cerca de R$ 1,2 bilhão por aeronave. Como comparação, a FAB está desembolsando algo com R$ 417 milhões pelos dois A330-200 da Azul, o que demonstra que a conversão para o padrão MRTT ainda deve fazer os gastos subirem sensivelmente.
Embora as negociações entre países e a Airbus tenham diferenças, se for feito um paralelo com o recente contrato espanhol, a FAB poderia arcar com cerca de R$ 1,6 bilhão pela conversão para o Multi-Role Tanker Transport, dependendo de fatores como câmbio e pacote de mudanças.
Conversão em território espanhol
Vale dizer que o programa da Espanha guarda importantes diferenças para o KC-X3. Quando decidiu receber o MRTT, o governo do país determinou que os três A330 seriam adquiridos da Iberia, a principal companhia aérea espanhola. No entanto, é a Airbus, e não a Força Aérea, que negociou os aviões.

O pacote, portanto, já inclui não apenas os três A330, o primeiro repassado pela Airbus no final do ano passado, como também manutenção, suporte, treinamento e, obviamente o trabalho de conversão, que será feito pela Getafe, uma divisão da airbus na Espanha.
É uma condição contratual que 60% do investimento no programa seja feito na Espanha, incluindo a criação de 800 postos de trabalho. Como se sabe, o país é um dos sócios da gigante aeroespacual europeia.
O MRTT é capaz de transportar até 110 toneladas de combustível, levar até 300 soldados ou 45 toneladas de carga. Assim como o KC-30, os jatos espanhois serão usados para transporte enquanto aguardam o processo de conversão.