Scandia 90: Além do Gripen, outro avião da SAAB já teve matrícula brasileira

Bimotor fabricado nos anos 1950, o Scandia 90 foi operado no Brasil com as cores da VASP, que comprou todos os exemplares da aeronave fabricadas pela Saab
Saab Scandia 90 - VASP
Saab Scandia (Farnborough Air Sciences)
Saab Scandia 90 - VASP
Scandia 90 com as cores da VASP; modelo voou pelo Brasil entre 1950 e 1969 (Farnborough Air Sciences)

A chegada do novo caça Gripen da Força Aérea Brasileira gerou muito entusiasmo entre os amantes da aviação. O jato de combate fabricado na Suécia (e em breve no Brasil) com a participação de engenheiros brasileiros já está em fase de testes no Brasil e no próximo ano a FAB vai receber as primeiras unidades operacionais, prontas para vigiar os céus do Brasil.

Apresentado oficialmente no Dia do Aviador, em 23 de outubro de 2020, o Gripen também marcou o retorno da Saab ao espaço aéreo brasileiro. Um ancestral do caça sueco, o bimotor Scandia 90 circulou pelos aeroportos brasileiros a serviço da VASP, que apostou alto alto no avião e comprou todos os exemplares (novos de fábrica e usados) da antiga aeronave comercial fabricada na Suécia.

Concorrente sueco para o DC-3

Nação que permaneceu neutra durante a Segunda Guerra Mundial, a Suécia não se envolveu no conflito, mas manteve a guarda preparada. Principal fornecedora de equipamentos militares das forças armadas suecas, a Saab produziu uma série interessante de caças e bombardeiros enquanto era cercada pela turbulência do conflito mundial.

Com a dispersão da ameaça nas fronteiras e prevendo o fim da guerra, a Saab recuperou o fôlego para projetar algo diferente e que seria essencial nos próximos anos de paz: aviões comerciais. A primeira investida do grupo sueco nessa área foi o Scandia 90, um avião com dois motores radiais Pratt & Whitney R-2000 de 1.800 hp e capacidade entre 24 e 32 passageiros com alcance de 2.500 km.

A cabine alta e espaçosa era uma das inovações do avião sueco
A cabine alta e espaçosa era uma das inovações do avião sueco

Nascia, nesse contexto, um dos poucos aviões desenvolvidos exclusivamente para o transporte de passageiros durante a Segunda Guerra Mundial. Anunciado pela Saab em fevereiro de 1944, o Scandia 90 seguia a receita mais moderna da época para aeronaves com esse propósito: era construído totalmente em metal, exceto pelo leme com uma cobertura de tela, e o trem de pouso era retrátil e triciclo. O avião sueco tinha uma cabine ampla, com poltronas largas e uma rara novidade da época: o passageiro não precisava se agachar pelo corredor para chegar até ao assento.

A versão de alta densidade do Scandi 90, com quatros assentos por fileira, transportava 32 passageiros. Outra opção era a configuração com três assentos por fila para receber 24 clientes. O produto da Saab era uma alternativa aos rústicos Douglas DC-3, um avião projetado para uso militar e que foi adaptado para o transporte comercial após a Segunda Guerra Mundial.

Pioneiro sueco

Enquanto caças e bombardeiros se enfrentavam pela Europa, o Scandia 90 fez seu primeiro voo em 16 de novembro de 1944, mesmo dia em que o exército na Alemanha nazista lançou a Ofensiva das Ardenas, em uma tentativa desesperada de invadir mais uma vez a França e a Bélgica.

Voando nos céus pacíficos da Suécia, o protótipo “SE-BCA” do Scandia 90 continuou em fase de testes e certificação até 1950. Durante os ensaios de voo, foram realizadas 123 decolagens e aeronave percorreu 37.200 km (quase uma volta ao redor do globo) e transportou 1.200 pessoas em uma turnê pela Europa, pousando em países como Portugal, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Noruega e Irlanda.

Saab Scandia 90
A Saab produziu apenas 18 unidades do Scandia 90

A AB Aerotransport (antecessora da Scandinavian Airlines) havia encomendado 11 aeronaves, além da VASP e da Aerovias Brasil, que também adquiriram cada uma três aviões. Posteriormente, o protótipo da campanha de testes foi convertido em avião executivo de luxo para o brasileiro Olavo Fortuna. Ao todo, a Saab fabricou apenas 18 unidades do Scandia 90 entre 1946 e 1954.

O Scandia 90 era um opção inovadora e com bom desempenho, mas foi lançado num período de baixa demanda por aviões novos, sobretudo na categoria em que o bimotor sueco se aventurava. Nessa época, as companhias aéreas preferiram comprar os antigos DC-3 (então C-47 Dakota) de estoques militares e convertê-los para o transporte de passageiros.

O Scandia 90 era uma peça rara em aeroportos e em pouco tempo foi aposentado na Suécia.
Em 1957, a VASP adquiriu todos os aparelhos da então Scandinavian Airlines. Dos 18 aviões fabricados pela Saab, 17 foram para a frota da empresa.

A Saab ainda cogitou produzir uma versão maior do Scandia 90, o Saab 90B, com uma cabine pressurizada. Com a baixa demanda da época, o projeto não foi executado. A fabricante sueca também tinha outras prioridades nessa época e reverteu seus recursos para produzir os primeiros jatos de combate da Suécia.

Saab Scandia 90
Publicidade da SAAB apresentando o Scandia 90

O Scandia 90 voou com a companhia paulista entre 1950 e 1969. Neste período, o avião sueco conviveu com outros clássicos que voaram com as cores da empresa, como o DC-3, Custiss C-46 e os turboélices Viscount 700 e 800. Em seus últimos anos de carreira no Brasil, a aeronave acompanhou a chegada dos primeiros jatos no Brasil, dividindo os portões de embarque com os Boeing 737-200 e BAC One-Eleven da VASP.

Na década de 1980, a Saab voltou ao mercado de aviação comercial com o Saab 340, um turboélice com capacidade para 30 passageiros. No passado, o modelo sueco concorreu com o Embraer Brasília. Mais adiante, a fabricante sueca lançou o Saab 2000, de 50 passageiros. Foram aviões (especialmente o Saab 340) que tiveram uma carreira relativamente bem sucedida e até hoje muitas unidades continuam em serviço.

Acidentes

A aeronave de matrícula PP-SQV da VASP protagonizou um grave acidente no ano de 1959, nas proximidades do aeroporto de Congonhas, São Paulo. A bordo do Scandia, estavam 16 passageiros e 4 tripulantes. Foi constatado que o avião voava baixo e na aproximação para o pouso bateu contra uma elevação no terreno e explodiu. Nenhum ocupante sobreviveu.

Antes disso, em 1958, em um outro acidente também com uma aeronave da VASP, uma falha nos motores ocasionou uma decolagem mal sucedida no aeroporto Santos Dumont. Ao todo, 21 pessoas morreram e 17 ficaram feridas em um acidente na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

Um terceiro Scandia da VASP, o modelo PP-SRA, voando entre Congonhas e o Santos Dumont colidiu no ar com um Cessna 310 privado. Ambos estavam voando na mesma via aérea e em direções opostas. Os dois aviões caíram, matando todos os 23 passageiros e tripulantes do Saab e quatro ocupantes do Cessna.

Museu em Bebedouro guarda o último Scandia 90

Hoje, apenas um exemplar do Scandia 90 pode ser encontrado em todo o mundo. A 16ª aeronave da série produzida pela Saab está em exposição no Museu de Armas, Veículos e Máquinas Eduardo André Matarazzo, em Bebedouro (SP). O avião com a matrícula PP-SQR pertenceu à VASP e hoje encontra-se ao ar livre, em condições precárias.

O último Saab 90 está no Museu de Bebedouro (SP)
Último Scandia do mundo: a antiga pintura da VASP não aparece mais no avião sueco (Thiago Vinholes)

Veja mais: A triste história do único Concorde que virou sucata

 

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  1. O DC-3 não foi um rústico avião militar; pelo contrário, surgiu em 1935 e introduziu várias inovações, e foi quem praticamente tornou lucrativo o transporte aéreo. Ele é que é a origem do C-47; este é a versão militar do DC-3. Com o fim da guerra, milhares de C-47 foram vendidos baratíssimos para particulares, formando parte das frotas de companhias aéreas grandes e pequenas.

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