Em mensagens, empregados da Boeing duvidavam da segurança do 737 Max
Comunicações internas da fabricante foram entregues por ela à FAA e relatam conversas ofensivas e tentativas de encobrir problemas


Em dezembro, a Boeing enviou à FAA (agência de aviação civil norte-americana) e também aos comitês do Congresso dos EUA centenas de mensagens trocadas por empregados em anos recentes e relacionadas com o desenvolvimento dos simuladores do 737 Max. A atitude, segundo a empresa, foi de demostrar que está buscando uma maior transparência em suas ações, mas o conteúdo dessas comunicações é de causar espanto.
Em uma dessas mensagens trocadas em abril de 2017, um funcionário (não identificado por óbvias razões) afirma que o 737 Max “foi projetado por palhaços que por sua vez são supervisionados por macacos”. Em outra comunicação mais antiga, de novembro de 2015, ou 18 meses antes de o jato entrar em serviço, fica clara a tentativa de encobrir problemas no simulador: “Vamos nos esforçar muito para isso e provavelmente precisaremos de apoio nos níveis mais altos quando chegar a hora da negociação final”, diz uma das mensagens.
Em fevereiro de 2018, já com o 737 Max há quase um ano em operação, um funcionário da Boeing perguntou a um colega: “Você colocaria sua família em uma aeronave treinada no simulador do Max? Eu não.” O outro funcionário concorda.
Em comunicado nesta quinta-feira, a Boeing se defendeu: “Essas comunicações não refletem a empresa que somos e precisamos ser, e são completamente inaceitáveis. Dito isto, continuamos confiantes no processo regulatório para qualificar esses simuladores”.
Para o congressista Peter deFazio, que chefia o comitê de transporte no Congresso dos EUA, as mensagens “mostram um esforço coordenado que remonta aos primeiros dias do programa 737 Max para ocultar informações críticas dos órgãos reguladores e do público”.

Simuladores em falta
As comunicações internas da Boeing confirmam a impressão de que a fabricante, na ânsia de competir com a Airbus, atropelou padrões de segurança de forma a se manter competitiva com o 737 Max. As modificações feitas no modelo e que criaram uma situação de risco por conta do funcionamento falho do sistema MCAS, que deveria ajudar os pilotos em situações de ângulo de ataque elevado, dão a entender que não foram interpretadas corretamente pelo simuladores do jato. Em outras palavras, as tripulações não assimilaram os procedimentos corretos para evitar o problema.
Como se vê, as correções no software e a aprovação dos procedimentos atualizados que serão repassados aos pilotos tornaram-se outro problema já que a Boeing admite que será preciso que todos eles passem horas em simuladores antes de voltar a voar no 737 Max. O novo drama nessa história é que há poucos simuladores do 737 Max no mundo, a maior parte nos EUA. São 34 equipamentos, o que certamente fará com que o treinamento se prolongue por muito tempo, atrasando ainda mais o retorno da aeronave ao serviço.
A necessidade de treinamento de simuladores de voo foi outro posicionamento revisto pela Boeing que antes pregava que apenas um curso rápido seria suficiente para que pilotos de séries mais antigas do 737 estivessem aptos a voar no modelo Max. Segundo rumores, a fabricante constatou que pilotos que participaram do processo de recertificação falharam ao seguir os procedimentos adequados no cockpit.

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