Organizações ambientais temem que Marinha do Brasil afunde o ex-porta-aviões São Paulo

Para elas, medida adotada nesta sexta-feira, de levar o casco para o alto-mar, é o prenúncio da intenção de afundá-lo e pedem intervenção do presidente Lula
O ex-porta-aviões São Paulo no litoral de Pernambuco (Reprodução/TV Record)

A situação do ex-porta-aviões NAe São Paulo, que pertenceu à Marinha do Brasil, ganhou contornos dramáticos nesta sexta-feira, 20, quando a embarcação foi levada pelo Navio
de Apoio Oceânico “Purus” para cerca de 315 km de distância da costa brasileira, acompanhado pela fragata “União”.

Segundo a Marinha, a medida foi tomada visando “preservar a segurança da navegação, danos a terceiros e ao meio ambiente”, mas organismos internacionais de preservação temem que a real intenção da força é afundar o casco em águas internacionais.

Segundo eles, trata-se de uma mudança súbita da Marinha, que agora passou a representar um perigo iminente por conta de pequenas brechas no casco, que poderiam ser reparadas. Isso não ocorreu, segundo elas, porque a própria Marinha não permitiu que o casco chegasse a algum porto para receber manutenção adequada.

“Agora está claro que a Marinha não quer receber mais escrutínio que certamente receberia ao voltar para casa o SÄO PAULO, e parece que agora eles tentarão afundá-lo usando uma desculpa falsa – fora da vista, fora do mente”, disse Jim Puckett, diretor executivo da Basel Action Network (BAN). “A Marinha já fez justiça com as próprias mãos e agora está prestes a perpetrar um grande crime ambiental no mar, a menos que o presidente Lula, como comandante-em-chefe, intervenha.”

O casco do São Paulo, já sem equipamentos (AIRWAY)

De acordo com a BAN, a tomada do ex-NAe São Paulo pela Marinha é um ato ilegal assim como o Protocolo de Londres proíbe o naufrágio intencional de navios, a menos que todos os esforços tenham sido feitos para livrar os navios de materiais residuais de resíduos tóxicos, como metais pesados, amianto e PCBs (Bifenilas policloradas).

Eles alegam ainda que durante uma reunião realizada no final do ano passado, um representante da Marinha já teria sinalizado um possível naufrágio intencional do navio. ‘Nessa reunião, foi discutida a questão do pequeno vazamento no casco do ‘São Paulo’ e concluiu-se que o navio não corria perigo iminente de naufrágio, mas ainda assim deveria ser devolvido a um porto brasileiro para reparos antes de ser novamente licitado para reciclagem”.

Uma coalização de ONGs enviou uma carta ao novo ministro do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e ao diretor do IBAMA, órgão ambiental brasileiro, pedindo a atracação segura e urgente da embarcação. Para elas, um naufrágio do ex-porta-aviões resultará em centenas de toneladas de amianto, materiais tóxicos e persistentes, tintas carregadas de metais pesados e possíveis materiais radioativos depositados no fundo do Oceano Atlântico.

“Pedimos ao Presidente Lula, como Comandante-em-Chefe da Marinha do Brasil, que intervenha imediatamente e dê ordens para trazer o SAO PAULO de volta ao Rio de Janeiro para ser recebido no mesmo cais da Marinha de onde partiu.” disse Ingvild Jenssen, Diretor de a ONG Shipbreaking Platform “Afundar intencionalmente este porta-aviões tóxico equivaleria a um crime ambiental patrocinado pelo estado.”

AIRWAY enviou questionamentos para Marinha do Brasil sobre a suposta intenção de afundar o casco e atualizará este artigo se houver uma resposta.

NAe São Paulo
O São Paulo foi comprado da França em 2000 (MB)

Entenda o imbróglio

Conforme publicado em primeira mão pelo AIRWAY, o casco do ex-porta-aviões São Paulo foi arrematado em março de 2021 por R$ 10,5 milhões pelo estaleiro turco de reciclagem de embarcações Sök. Em agosto do ano passado, o navio desativado deixou o Rio de Janeiro, onde ficava estacionado, rumo a Turquia.

No entanto, temendo pela suposta presença de grande quantidade de amianto no casco do barco, o ministério do meio ambiente da Turquia barrou a entrada da antiga embarcação em suas águas territoriais. Quando essa proibição foi levantada, o comboio estava próximo de atravessar o Estreito de Gibraltar, que dá acesso ao Mar Mediterrâneo. Logo em seguida, o Ibama pediu o retorno do casco ao Brasil para a realização de uma nova inspeção de materiais tóxicos.

Apesar da ordem do Ibama, nenhum porto ou estaleiro brasileiro autorizou o atracamento do casco em suas instalações. Desta forma, o casco rebocado navega em círculos na altura do litoral do Pernambuco desde outubro de 2022.

Em 11 de janeiro, a MSK Maritime Services & Trading, empresa que adquiriu o casco do NAe São Paulo junto a Sök, renunciou a propriedade da sucata da embarcação a favor da União.

Em carta de advertência enviada ao Ibama e demais autoridades ambientais do Brasil, a NSN Law Firm, representante da MSK, estipulou um prazo de 12 horas (que não foi atendido) para que as autoridades brasileiras providenciassem as aprovações e/ou ações necessárias para receber o casco do barco, que navega rebocado sem destino há mais de 90 dias.

O não cumprimento da solicitação poderia resultar na “disposição do casco do porta-aviões” em alto mar, com todas as responsabilidades posteriores sendo das autoridades brasileiras, informou a MSK na ocasião.

Nesta sexta-feira, 20, após a MSK abandonar o casco, a Marinha assumiu o controle da embarcação, a afastando da costa brasileira.

Maior navio de guerra do Brasil

O navio-aeródromo São Paulo chegou às mãos da Marinha do Brasil no ano 2000, comprado da França por US$ 12 milhões durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O navio foi o substituto do NAeL Minas Gerais, que operou no Brasil entre 1960 e 2001.

O porta-aviões NAe São Paulo não realiza operações navais desde 2011
Caças AF-1 alinhados no convés de voo do NAe São Paulo (Marinha do Brasil)

O NAe São Paulo chegou ao Brasil em 2001; o navio foi construído na França entre 1957 e 1960 (Marinha do Brasil)Quando ainda estava ativo, o São Paulo era o porta-aviões mais antigo do mundo em operação. A embarcação foi lançada ao mar em 1960 e serviu com a marinha da França com o nome FS Foch, de 1963 até 2000. Sob a identidade francesa, o navio de 32,8 mil toneladas e 265 metros de comprimento atuou em frentes de combate na África, Oriente Médio e na Europa.

Com a Marinha do Brasil, no entanto, a embarcação teve uma carreira curta e bastante conturbada, marcada por uma série de problemas mecânicos e acidentes. Por esses percalços, o navio passou mais tempo parado do que navegando. Em fevereiro de 2017, após desistir de atualizar o porta-aviões, o comando naval decidiu desativar o NAe São Paulo em definitivo.

Segundo dados da marinha brasileira, o São Paulo permaneceu um total de 206 dias no mar, navegou por 54.024,6 milhas (85.334 km) e realizou 566 catapultagens de aeronaves. A principal aeronave operada na embarcação foi o caça naval AF-1, designação nacional para o McDonnell Douglas A-4 Skyhawk, hoje operados a partir de bases terrestres.

A Marinha afirmou que a Marinha Nacional Francesa realizou um processo de retirada de amianto da ordem de 55 toneladas na década de 90, anos antes de o então FS Foch ser vendido ao Brasil.

Porta-aviões gêmeo, Clemenceau passou por situação parecida

O Clemenceau, irmão do Foch, que foi desmantelado no Reino Unido entre 2009 e 2010, teria cerca de 760 toneladas da substância retirada de seu casco.

Desativado em 1997, o porta-aviões foi vendido para uma empresa espanhola em 2003, que pretendia desmontá-lo também na Turquia, mas a França cancelou o acordo.

Dois anos depois, o governo francês tentou levá-lo para a Índia, onde outro porta-aviões brasileiro, o Minas Gerais, foi desmontado sem quaisquer cuidados.

A tentativa foi frustrada pelo Egito, que impediu que o Clemenceau passasse pelo Canal de Suez. Após discussões prolongadas, a França decidiu trazer o navio de volta. Em 2008, finalmente o porta-aviões seguiu para Hartlepool, no norte da Inglaterra, onde a empresa Able UK o desmontou.

O porta-aviões Clemenceau (R98), irmão gêmeo do São Paulo, em Brest em 2008 (Duch.gege)
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  1. Mesmo depois de descomissionado, essa sucata continua gerando dor de cabeça para a própria MB. Os almirantes que aprovaram a compra dessa banheira no 2000 deveriam ser presos por isso. O São Paulo navegou menos de 3% do tempo em que esteve nas mãos da MB, um verdadeiro elefante branco atracado no Rio de Janeiro. Essa compra foi um verdadeiro fiasco. Os franceses deram graças a Deus que se livraram dele e ainda levaram US$ 12 milhões por esse ferro velho!
    O Brasil não precisa e nunca precisou de porta aviões, uma embarcação para projeção de poder e não para patrulhar nosso litoral, como muitos “entendidos” dizem por aí ao justificarem que a MB deveria reformar o São Paulo ou mesmo até construir um NAe novo. O que precisamos é de muitos NaPOc, bem armados, e submarinos, para defesa de nossa costa.

  2. Não da voz para maluco, o casco esta em péssima condição e pode afundar sozinho durante uma entrada no porto e causar danos ambientais e econômicos, e tudo culpa de lunáticos que impediram que o navio seguisse para ser desmantelado na Turquia

  3. Espero mesmo que o afundem em águas internacionais…se puder, em adestramento dos nossos submarinistas.

  4. Tem uma ONG tabajara maluca que pentelhou as autoridades Turcas com essa história de navio contaminado o que levou a autoridade ambiental turca a cancelar a autorização de desmontagem anteriormente obtida pela empresa compradora da sucata naval.

    Agora deve ir para o fundo do mar!!!

    Grande solução 🤣🤣🤣

  5. Esse navio já era sucata quando foi comprado para que nosso almirantado estupido e megalomano pudesse brincar de soldadinho de chumbo.

  6. A Marinha brasileira vai e compra uma porcaria dessa,sucateada,que os franceses queriam se livrar, é claro.Elefante branco flutuante.

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