Visitamos o porta-helicópteros multipropósito Atlântico em Santos
Nova embarcação da Marinha do Brasil pode transportar 18 helicópteros e mais de 1200 tripulantes


Em escala no Porto de Santos, litoral paulista, o porta-helicópteros multipropósito (PHM) A-140 Atlântico teve sua primeira abertura à visitação pública no Brasil, ocorrida neste domingo (25), no cais da Capitânia dos Portos de São Paulo.
O imponente navio foi adquirido recentemente pela Marinha do Brasil do Reino Unido, para exercer uma função de controle marítimo nas importantes rotas de comércio do Brasil e do Atlântico Sul, sendo um incremento enorme para a capacidade operativa da força naval brasileira. Ele virtualmente substitui o desativado porta-aviões São Paulo (A-12).
Na visita ao Porto de Santos, o Atlântico chegou com alguns helicópteros a bordo, entre eles o Helibras HB-350 Esquilo (UH-12/13 na designação naval da MB) e um dos novos H225 (UH-14), que estava em exposição no convés de voo do navio.
Como é de costume em visitas de navios da Marinha ao cais santista, o anúncio prévio (especialmente pela TV) da chegada do navio atraiu uma multidão para a sede da Capitânia dos Portos na cidade, onde o Atlântico atracou na manhã de sábado (24), algo pouco usual, visto que geralmente a chegada proveniente do Rio ocorre na sexta-feira, com partida na segunda.
Sem preparação, o local rapidamente encheu-se de automóveis e pessoas, atrapalhando a logística de cargas com caminhões e trens que trabalham 24 horas no porto paulista. A entrada no navio teve como medida de segurança uma pequena revista de homens e mulheres com detectores de metal, algo que não ocorria antigamente.

Com dois acessos ao interior do Atlântico e saída pela rampa de embarque lateral, a Marinha preparou uma pequena área do grande hangar com equipamentos totalmente camuflados por uma malha branca, tendo apenas um veículo leve dos fuzileiros navais.
Um dos acessos à área restrita não estava isolado e foi possível ver três crianças subindo a escada e entrando em outro compartimento, mas rapidamente a segurança do navio retirou-as de lá. O público pôde ainda conhecer o convés de voo através de uma rampa para veículos, bem íngreme.

No local de pouso, decolagem e manobras dos helicópteros, foi possível conhecer de perto o canhão DSM30M Mk2 de 30 mm (existem 4 a bordo e são do mesmo tipo usado nos navios patrulha da Classe Amazonas). Por falar nisso, o PHM A-140 tem ainda 4 mini-guns (rotativos com seis canos) de 7,62 mm, semelhantes aos usados nos Sikorsky UH-60 Black Hawk do Exército Brasileiro.
O Atlântico possui mais oito pontos para metralhadoras FN MAG de 7,62 mm, mas o navio perdeu os três CIWS Vulcan-Phalanx de 20 mm (também rotativos de seis canos), que foram retirados na transferência da embarcação para o Brasil.
Os dois elevadores centrais do Atlântico estavam no convés de voo, impossibilitando observar outras partes do hangar logo abaixo. O UH-14 “7106” estava sobre um dos elevadores, que estava devidamente isolado, assim como o restante do convés de voo.

Nessa área, pode-se observar bem o radar tridimensional Artisan 3D (Tipo 997), do mesmo tipo pretendido para as futuras corvetas da Marinha. Ele atua em duas rotações (baixa para 2D e alta para 3D), buscando alvos aéreos além de 270 km. Também pode rastrear barcos próximos e mísseis.
No geral, o Atlântico se apresenta em bom estado de conservação, incluindo alguns dos equipamentos, como as 4 lanchas de transporte de tropas LCVP Mk5B e a lancha de abordagem Pacific Mk 22. O navio conta ainda com dois radares Tipo 1007 para controle da operação aérea (helicópteros) e um Tipo 1008 para busca de superfície.
Como é o Atlântico?
Em adestramento de tripulação, tanto do navio quanto do grupamento aéreo, o que inclui também exercícios com aeronaves da FAB e do Exército, o Atlântico deverá atuar na Marinha com um conceito bem empregado no Reino Unido, mesclando aeronaves das três forças armadas.
Classificado como LHD (Landing Helicopter Platform), o PHM Atlântico é um navio de assalto embarcado propriamente dito, mas com capacidade de desembarque por meio de lanchas (LCVP) e rampas, podendo levar 40 veículos.

Sua capacidade operacional inclui ainda 18 helicópteros de diversos tipos e pode transportar um grupamento de 800 fuzileiros, além da tripulação de 340 pessoas, embora tenha capacidade para um total de 1.295 membros.
Com 203,4 metros de comprimento, 35 de largura e calado (casco abaixo da linha d´água) de 6,5 metros, o Atlântico desloca até 23.700 toneladas, quando carregado. O PHM A-140 tem dois motores Crossley Pielstyck de 12 cilindros, que garantem velocidade máxima de 18 nós com autonomia de 13.000 km.
O Atlântico era o ex-HMS Ocean, único LHD da Marinha Real e herdeiro da extinta Classe Invencible, que consistiu em três porta-aviões com rampas Sky Jump para caças V-STOL Harrier da RAF (Força Aérea Britânica) e Sea Harrier (Marinha).
Navio novinho!

O navio recém-adquirido pela Marinha por 84 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 424 milhões na cotação atual) é considerado novo no mercado militar. A embarcação foi lançada ao mar em 1995 no Reino Unido, onde parte do publico até questionou a venda do barco devido ao seu pouco tempo de uso com a poderosa Marinha Real britânica.
O PHM Atlântico, agora o maior navio militar em operação no país e também na América Latina, chega ao Brasil com boas condições de ter uma longa e próspera carreira com a Marinha, diferentemente do porta-aviões São Paulo.
O antigo navio-aeródromo fabricado da França no final da década de 1950 chegou ao Brasil no ano 2000 em condições limitadas e teve uma trajetória conturbada marcada por problemas operacionais e acidentes a bordo.

A Marinha ainda mantém o sonho de ter um porta-aviões, mas isso a longo prazo. As prioridades no momento são os programas das novas corvetas da classe Tamandaré e o desenvolvimento de novos submarinos. Aviões navais, no entanto, não faltam: a marinha brasileira conta atualmente com os caças navais AF-1 e em breve deve reativar uma frota de modelos de transporte KC-2 – uma versão do clássico Grumman Tracker com motores turbo-hélice.
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