Tráfego aéreo rastreado pelo FlightRadar24 mostra queda abrupta nos últimos dias
Voos já acumulam uma redução de 10% em março. Situação deve piorar após medidas de proibição de voos tomadas por vários países


As restrições ao tráfego aéreo de passageiros no mundo, motivadas pelo expansão da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) têm transformado aeroportos em imensos estacionamentos de aviões, causando perdas incontáveis para as companhias aéreas. E a situação deve se agravar nas próximas semanas com o fechamento do espaço aéreo em vários países.
Um termômetro que mostra como o transporte de passageiros tem sido afetado pela doença é o site FlightRadar24, que rastreia aeronaves equipadas com o ADS-B, um equipamento que emite a posição de um voo de forma contínua. Em seu blog, a ferramenta online revelou que em março a queda na quantidade de voos já é de 10% em relação ao mesmo período de 2019.
Um gráfico disponibilizado pelo site, no entanto, mostra a queda nos últimos dias tem sido abrupta, à medida que as restrições impostas às companhias aéreas crescem, como a proibição de voos oriundos da Europa entrarem nos EUA, decretada pelo presidente Donald Trump.
“Na segunda semana de março, os governos de todo o mundo começaram a implementar restrições às viagens que levaram a uma queda ainda maior – e continuada – no número de voos operados globalmente. Esta tendência aumentou acentuadamente nesta semana”, analisou Ian Petchenikm, diretor de comunicações do FlightRadar24.
Outro gráfico, que compara a média de voos desde o início do serviço em 2016, aponta uma breve retomada este ano, quando a China passou a controlar o avanço do vírus e permitiu que as companhias aéreas voltassem a voar.

Mais bloqueios
Inicialmente descartado, o bloqueio aéreo passou a ser adotado em inúmeras nações como forma de reduzir a contaminação da população. Vários países têm passado a proibir voos do exterior de forma parcial ou total na esperança de reduzir a proliferação do coronavírus.
Ao mesmo tempo, muitos passageiros também passaram a cancelar ou remarcar seus bilhetes, esvaziando muitos voos, o que motivou a maior parte das companhias aéreas a suspender suas operações, sobretudo internacionais.
A situação é tão surreal que o operador do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, anunciou que irá fechar parte das suas quatro pistas para abrir espaço para estacionar aviões fora de serviço. Enquanto isso, o Heathrow, maior aeroporto da Europa, concentrou todos os voos ainda ativos no Terminal 5, usualmente exclusivo da British Airways.
Discussão política no Brasil
Enquanto muitos vizinhos como Argentina e Peru decidiram barrar todo o tráfego aéreo internacional, o Brasil ainda permanece aberto para aviões oriundos do exterior. O governo federal, no entanto, afirmou nesta semana que deve proibir a entrada de estrangeiros nos próximos dias, mas sem que os voos sejam banidos. A preocupação é que muitas rotas têm importância no segmento de cargas e que podem afetar a economia.
A falta de uma estratégia alinhada entre o governo Bolsonaro e os estados têm feito surgirem situações embaraçosas como a discussão a respeito do fechamento do tráfego aéreo proposto pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. O político fluminense pretende barrar a entrada de cidadãos de estados atingidos pela pandemia como São Paulo, mas a ANAC negou que os aeroportos serão fechados, reafirmando que essa decisão cabe à ela e não ao governo do estado.

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