Chineses no lugar da Boeing como sócios da Embraer?
Segundo analistas ouvidos por jornal, hipótese poderia ser uma saída caso a joint venture com a Boeing naufrague


O cenário cada vez mais adverso para a indústria aeroespacial tem feito aumentar o ceticismo a respeito da joint venture entre Boeing e Embraer. O acordo de US$ 4,2 bilhões (mais de R$ 22 bilhões em valores atuais, fechado em julho de 2018, ainda está pendente por conta da Comissão Europeia, que avalia se a união dos dois fabricantes pode concentrar ainda mais o mercado de aviões comerciais. A crise do coronavírus, no entanto, mudou o foco das duas empresas que precisam lutar para sobreviver em meio a cortes em encomendas e a paralisação de suas fábricas.
Para a Boeing o quadro é ainda mais grave já que a fabricante vive uma crise prolongada, desde que o 737 Max, sua aeronave mais vendida, foi proibido de voar por questões de segurança. Desde então, a empresa dos EUA tenta emergir, mas parece cada vez mais afundada em problemas e desconfianças de que seus aviões já não exibem a mesma confiabilidade do passado.
Ao pleitear uma ajuda bilionária do governo dos EUA, a Boeing se encontra numa situação delicada para investir tanto dinheiro na empresa brasileira que, a despeito de abrir um novo segmento para os norte-americanos, perdeu muito de seu valor de mercado desde então, hoje calculado em um terço de quando assinou o acordo.
As saídas, segundo analistas ouvidos pelo jornal O Estado de São Paulo, seriam postergar a conclusão do acordo ou, caso ele acabe desfeito, solicitar ajuda ao governo brasileiro. Mas é a última hipótese que chama a atenção, a venda para os chineses.
Como se sabe, a indústria de aviação chinesa tem feito enormes investimentos para entrar na competição com Boeing e Airbus. A face mais visível desse esforço é o jato C919, da estatal COMAC, equivalente ao A320 e 737, mas que tem passado por vários problemas em seu desenvolvimento.
Faltam aos chineses justamente a experiência e capacidade da Embraer além do que a linha de jatos brasileira seria complementar ao C919. O suposto acordo abriria as portas do desejado mercado chinês ao mesmo tempo em que a Embraer daria respaldo ao jato da COMAC em outras partes do mundo.
De volta
Obviamente, essa possibilidade é hoje apenas um devaneio e certamente Boeing e Embraer refutam qualquer cenário que não o de levar o acordo em frente. No entanto, a dinâmica do mercado, de tão imprevísivel, ainda deve provocar profundas mudanças na aviação comercial.
Para a Embraer, seria o retorno em grande estilo à China, onde teve uma joint venture com a empresa AVIC por 13 anos e que foi encerrada em 2016 após montar localmente jatos ERJ-145 e Legacy. Na época, o argumento para o fim da parceria foram os altos custos de produção na China, que ironicamente tornavam os aviões mais caros que os produzidos no Brasil.
A Embraer até cogitou montar seus E-Jets na China, mas o governo do país viu nessa ação uma concorrência direta para o ARJ21, primeiro jato comercial chinês, fabricado pela COMAC.

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