Novo caça brasileiro, Gripen voou pela primeira vez há 32 anos

Como vários outros jatos de combate, aeronave da sueca Saab passou por atualizações técnicas nos últimos anos para se manter relevante no cenário de defesa
Primeiro protótipo do caça SAAB Gripen
Protótipo do Gripen A; modelo voou pela primeira vez em 1988 (Saab)
Primeiro protótipo do caça SAAB Gripen
O Gripen voa pela primeira vez em 1988: caças permanecem relevantes mesmo com idade avançada (Saab)

Quando decolar pela primeira vez do Aeroporto de Navegantes nesta quinta-feira, 24 (caso o tempo ajude), o caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira fará o país avançar décadas em capacidade de defesa aérea. Com exceção de poucos anos quando utilizou alguns Mirage 2000 de segunda mão, a FAB tem operado com caças bastante defasados (apesar de modernizados) nos últimos anos. A ironia é que o Gripen não é tão novo quanto se pensa. Trata-se de um projeto que começou a ser gestado pela Saab no final dos anos 70 e que voou pela primeira vez em dezembro de 1988, ou seja, há quase 32 anos.

Esse fato, é verdade, não significa absolutamente que o Brasil está comprando uma aeronave ‘velha’. Pelo contrário, a atual versão Gripen E/F é a mais atual da fabricante sueca e extremamente capaz. Mas ilustra uma realidade que envolve o desenvolvimento de aviões de combate, a de que seu custo e complexidade tornam esse segmento extremamente difícil. Tão difícil que tem feito algumas poderosas forças aéreas apelarem para versões repotencializadas de aviões veteranos como o F-15 Eagle, da Boeing. Uma variante atualizada do jato do começo da década de 70 acaba de ser encomendada pela Força Aérea dos EUA, a mais poderosa e avançada do planeta.

A evolução dos caças tem passado por um dilema desde que os EUA estrearam o F-22 Raptor, o primeiro jato de 5ª geração e que incorporou tecnologias extremamente avançadas na época, entre elas a capacidade “stealth” (furtiva). O caça da Lockheed Martin, no entanto, se mostrou complexo e caro de operar e com uma disponibilidade abaixo da esperada pela USAF. O pequeno e versátil F-35, também da mesma fabricante, não está muito longe dele, já tendo consumido bilhões de dólares sem ainda comprovar o prometido potencial.

A 5ª geração deu um passo tão grande que somente há poucos anos outros países têm conseguido ativar esquadrões com esses caças, caso da China com o J-20 e a Rússia, com o Su-57. Na Europa, outro tradicional celeiro de caças de combate, os atuais programas apontam para a 6ª geração, ainda mais avançada e, espera-se, mais eficiente. Enquanto isso, países como França, Alemanha, Suécia e Reino Unido dependem dos bons e confiáveis caças de 4ª geração, da qual o Gripen faz parte, assim como seus rivais Rafale e Eurofighter Typhoon.

A solução para contornar essa enorme lacuna de gerações foi desenvolver versões aprimoradas do projeto original. Como se sabe, um bom avião é capaz de absorver muita tecnologia e se manter relevante por muitos anos. O maior exemplo disso é o B-52, o bombardeiro de oito motores da USAF que irá conviver com o avançadíssimo B-21 Raider.

Geração 4++

Esses caças atualizados são referidos como da geração 4+ ou 4++, como ocorre com o Gripen E/F, chamado também de Gripen NG (nova geração) pela Saab. O projeto do caça aprimorado começou em 2007 para incorporar várias melhorias, incluindo a substituição do motor original GE F404 (montado sob licença na Suécia) pelo F414G usado pelo caça F/A-18E/F Super Hornet e a ampliação da capacidade de combustível.

A Saab incorporou mais avanços como um novo radar AESA (radar de varredura eletrônica ativa) Raven ES-05, sistema de busca e rastreamento infravermelha (IRST) e painel do tipo WAD (Wide Area Display, com enormes telas no lugar de mostradores analógicos), que equipará o modelo brasileiro. Graças ao novo turbofan, o Gripen E/F passou a ser capaz de superar a barreira do som sem uso de pós-combustores. O jato também passou a ter um peso máximo de decolagem mais alto, de 16,5 toneladas contra 14 toneladas do Gripen C. Com isso pode transportar mais combustível e resolver um dos alegados pontos fracos do projeto, o baixo alcance.

Apesar de a fabricante não incluir o dado em seu material, o Gripen E teria um raio de combate de cerca de 1.400 km com ajuda de tanques externos. Por falar nisso, o caça sueco possui nada menos que dez pontos de fixação externos que podem transportar uma grande variedade de armamentos e sensores.

Para corroborar a tradição de longos períodos de gestação, o Gripen brasileiro voará pela primeira vez em território nacional com destino a Gavião Peixoto, onde a Saab seguirá com os testes antes de iniciar as entregas à Força Aérea Brasileira em 2021. Apesar da espera, sem dúvida, o país voltará a ter uma capacidade respeitável de defesa aérea nos próximos anos, mesmo que esse avião tenha começado a ser pensado quatro décadas atrás.

O Gripen E da FAB voa ao lado de um exemplar sueco (Saab)
O Gripen E da FAB voa ao lado de um exemplar sueco (Saab)

Veja também: E se o Brasil não tivesse escolhido o caça Gripen?

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